“Vamos almoçar, sentados na calçada
Conversando
sobre isso e aquilo
De
coisas que a gente não entende nada”
(Torresmo à Milanesa)
Quando as luzes do
espaço cênico da aconchegante Casa da Gioconda se acendem, aos poucos
vemos surgir aqui e ali a Pafunça; a infeliz Iracema, antes que um carro a
“pinchasse” no chão; o Arnesto que deu a maior mancada com seus amigos, o Mané
que foi abandonado pela Inês que saiu pra comprar pavio pro lampião e não
“vortou” mais, a Gioconda, moça que deu nome à Casa; os sem teto Mato Grosso e Maloca
e o Dito, que “troxe” ovo frito na “maumita”. Prestando bem atenção dá até para
ver umas “mariposa” em “vorta” das “lampida”.
O universo e os
personagens de Adoniran Barbosa (1910-1982) são recriados pelo dramaturgo
Milton Morales Filho em pequenas cenas que são ilustradas pelas canções que
lhes deram origem.
Conduzido por elenco
e músicos afiados, o público passeia pelo Bixiga, pelo Viaduto Santa Efigênia,
pela Vila Esperança, por Jaçanã e chega até a casa do Arnesto e dá com o nariz
na porta; tudo isso sem sair da Rua Conselheiro Carrão.
São
vários os personagens em cena, mas vale destacar os sem teto vividos por
Alexandre Meirelles (Maloca) e Thiago Carreira (Mato Grosso), o casal composto por
Carlos Morelli (Mané) e Cy Teixeira (Inês), a Iracema de Joice Jane Teixeira e
seu companheiro interpretado por Joaz Campos. João Attuy (presença forte),
Frederico Mendonça e Leandro Medeiros completam o elenco.
William
Guedes assina a direção musical e a preparação vocal do elenco. Músicos: João
Nepomuceno (violão), Lucas Brogiolo (percussão) e Marco Rochael (sopro)
A
denúncia à instabilidade/desigualdade social constante na obra de Adoniran
também marca presença no espetáculo e tem seus momentos mais potentes nas falas
de Maloca e Mato Grosso e, principalmente, na cena em que todo o grupo
interpreta aquela que para este receptor é a obra prima de Adoniran: Despejo
na Favela, mais atual do que nunca, haja vista a enormidade de seres
vivendo nas ruas em condições sub humanas.
O
cenário composto de praticáveis que se deslocam conforme a necessidade é
assinado, assim como os figurinos, pelo diretor e por Cy Teixeira.
A
meu ver, a montagem deveria ressaltar no título o nome de Adoniran Barbosa e
não se limitar a um simples AB que não explicita um nome que poderia atrair
público maior, uma vez que Adoniran é um querido tanto do Bixiga como de toda
São Paulo.
A
peça está em cartaz na Casa da Gioconda até 15 de maio com sessões aos sábados,
domingos e segundas às 19h30.
05/04/2023
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