Na primeira cena de Mãos
Trêmulas, Yara de Novaes coloca a atriz e o ator semi despidos vestindo
apenas roupas íntimas sob forte luz amarelada que destaca as marcas que o tempo
faz no corpo de todos nós. São dois velhos em cena, mas o que poderia ser um
muro de lamentação sobre a velhice logo a seguir muda de lado quando eles sorriem
e se dão as mãos.
Essas duas pessoas
idosas que estão juntas há dias, ou há meses, ou há anos, ou por toda uma vida,
juntam suas mãos para enfrentar a sociedade que lhes virou a cara depois que
essas mãos ficaram trêmulas.
Há muita paixão na
relação do casal e o sexo se faz presente numa deliciosa cena logo no início do
espetáculo. SIM, eles estão vivos e seus corpos clamam por isso.
O texto de Victor
Nóvoa é poético e delicado, mas não deixa de por a mão na ferida que é a
violência, ou no mínimo o descaso, com que a velhice é tratada pela sociedade
capitalista que se baseia na aparência e no dinheiro.
Yara de Novaes faz
uma direção discreta, mas que tem a sua marca nos mínimos detalhes como na já
citada cena inicial e naquela em que o casal mostra a força de suas, mesmo que
trêmulas, mãos. Para tanto conta com o cenário de André Cortez e a preciosa
iluminação de Marisa Bentivegna.
Completam a
excelência da ficha técnica Catarina Milani na direção de produção, Raul
Teixeira com a excelente ambientação sonora, Ana Vitória Bella na preparação
corporal, Lilian de Lima na preparação vocal e Fábio Namatame nos figurinos (as
tais roupas íntimas e as vestimentas teatrais) cujas cores harmonizam com o
ambiente. É louvável presenciar o cuidado da produção na escolha dos profissionais
para realizar o projeto.
E o que dizer do
elenco? É um verdadeiro privilégio assistir ao desempenho de Plínio Soares e de
Cleide Queiroz. Ambos expõem corpos e almas para mostrar as agruras e as
alegrias daquele casal de velhos que insiste em dar dignidade às suas vidas,
mesmo quando batem fortemente à porta, arrombando-a a seguir.
Espetáculo belo e
otimista que faz um idoso como eu, lembrar que o que nos resta de vida tem que
ser vivido intensamente, mesmo que o corpo, às vezes, diga o contrário.
MÃOS TRÊMULAS está em cartaz no SESC Pinheiros (Auditório, 3º andar) até 06 de maio, de quinta a sábado às 20h.
21/04/2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário