Que a terra não era o
centro do universo a gente já desconfiava desde os tempos de Nicolau Copérnico
(1473-1543) e a certeza veio depois que Galileu Galilei (1564-1642) provou que
a terra é que se move, mas quantas e quantas vezes nos dias de hoje, sentados no
conforto de nossa privada e olhando para o espelho não consideramos a nossa
ilustríssima pessoa como o centro do universo e que tudo e todos giram em torno
de nós?
A lucidez, a árdua
pesquisa em torno de pensadores / cientistas/ dramaturgos / filósofos e a
coerência com suas posições políticas e humanas são marcas registradas do casal
Fernando Kinas e Fernanda Azevedo, responsáveis pelo Coletivo Comum (ex-Kiwi
Companhia de Teatro) junto com Daniela Embón e Beatriz Calló.
Neste excelente Universo
Kinas recorre mais uma vez ao teatro documentário e a pensadores como Carl
Sagan, Bertolt Brecht e Daniel Bensaid para demonstrar quão insignificante é o
homem perante o universo, mas quão importante e necessário ele é perante este planetinha
em que reside, quando empresta sua indignação e dá seu grito de guerra diante
das injustiças e cerceamentos de liberdade por aqui cometidos.
Em equilibrado cenário
clean (perdão, não achei uma palavra mais apropriada em português)
criado por Julio Dojscar e iluminado por Clébio Ferreira, uma cientista/artista/filósofa
interpretada com talento, sobriedade e distanciamento por Fernanda Azevedo dá
sua conferência (auxiliada por projeções ao fundo do espaço cênico) sobre aonde
chegou a dita civilização humana; ela é várias vezes interrompida por um
demiurgo sarcástico e debochado vestido de forma caricata e avesso às funções
que lhe foram designadas por Platão interpretado com muita ginga por Beatriz
Calló.
O desenvolvimento da
trama criada por Fernando Kinas poderia perfeitamente prescindir da presença
do demiurgo, mas com certeza a personagem foi criada para dar um toque do humor
e leveza às gravidades dos problemas tratados pela conferencista. A interação
das duas atrizes é muito oportuna e beneficia sobremaneira o equilibrado resultado final.
Sem jamais ser
didático ou portador de uma mensagem, Universo atinge o espectador com a
clareza e a lucidez com que expõe a sua tese, fazendo-o refletir sobre a mesma,
como preconizava o Seu Bertolt.
Mais um trabalho
digno e potente de Fernanda e Fernando, desta vez com a importante parceria de Beatriz Calló.na assistência de direção e na pesquisa dramatúrgica.
UNIVERSO está em cartaz no SESC Belenzinho até 07/05 às sextas e aos sábados às 21h30 e aos domingos às 18h30.
22/04/2023
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