Espetáculo
de rara beleza visual, A Desumanização
é a nova direção de José Roberto Jardim; a cada nova encenação os trabalhos de
Jardim adquirem mais requinte visual e aqui, a meu modo de ver, ele atingiu
o perfeito equilíbrio entre os efeitos de luz e imagem e o conteúdo da obra. Não Contém Glúten (2016), seu melhor trabalho
até então, tinha sofisticado despojamento visual, enquanto Adeus Palhaços Mortos e,
principalmente, O Inevitável Tempo das
Coisas exageravam nos efeitos parecendo querer esconder a insuficiência dos
conteúdos. (Convém lembrar que Um
Trabalhinho Para Velhos Palhaços, peça de Matei Visniec que deu origem a Adeus Palhaços Mortos é um dos textos
mais fracos e repetitivos do dramaturgo romeno).
A Desumanização é baseada no livro
homônimo de Valter Hugo Mãe e teve feliz adaptação de Fernando Paz para a
linguagem teatral. Uma comparação menos superficial entre as duas linguagens eu
poderei fazer após ler o livro, mas o resultado teatral é muito bom, colocando duas
mulheres em cenários absolutamente simétricos interpretando a personagem
Halldora em busca de seu passado para compreender o presente.
O diretor José Roberto Jardim ladeado por Maria Helena Chira (esquerda) e Fernanda Nobre (direita)
Muito
loiras e bonitas Maria Helena Chira e Fernanda Nobre revezam-se nos monólogos
da personagem com muita energia e talento, fazendo movimentação cênica perfeita
e interagindo com as câmeras de vídeo, importantes ferramentas da encenação.
Não há como não se lembrar de Liv Ullmann e Bibi Andersson no filme Persona (1966) de Ingmar Bergman.
A
música envolvente de Marcelo Pellegrini, a iluminação de Wagner Freire e todo o
aparato tecnológico (câmeras, projeções, vídeos) colaboram definitivamente com
a direção para resultar nesse deslumbrante espetáculo.
Para
melhor refletir sobre a trama prefiro antes ler o livro e então voltar a
assistir ao espetáculo.
ATENÇÃO:
Para uma melhor fruição do espetáculo, procure sentar nos assentos centrais da
plateia e evite a plateia lateral.
A
DESUMANIZAÇÃO está em cartaz no SESC Santana até 30/06 às sextas e aos sábados
(21h) e aos domingos (18h). No dia 16/06 haverá um encontro com Valter Hugo Mãe
após a apresentação do espetáculo.
28/05/2019
Vi na estreia. Gostei bastante. E gostei mais ainda quando começam as pequenas diferenças de ação. No começo, é interessante ver a precisão dos movimentos iguais. Depois, elas começam a se diferenciar sutilmente e a ação ganha muito. Ah, o livro é ótimo.
ResponderExcluirCetra:
ResponderExcluirTb adorei a peça A Desumanização, inspirada no romance de Valter Hugo Mãe. Nesta adaptação, a personagem não fica restrita à fase infantil como no livro; uma ótima 'sacada' do Fernando Paz, que a traz para a fase adulta revendo seu passado dolorido. O escritor português virá para uma das apresentações (16/06): será uma ótima oportunidade para ampliarmos a discussão proposta pro ele.
Parabéns por sua crítica e pelo seu completíssimo Palco Paulistano.
Bjs
Maurício
Favo do Mellone