sábado, 4 de maio de 2019

ANTUNES FILHO



ATÉ A PRÓXIMA!

QUEM NÃO TEM UMA HISTÓRIA COM O MESTRE ANTUNES?

        Seja ator ou atriz ou outras pessoas ligadas às atividades teatrais ou simplesmente espectador você com certeza cruzou com aquele homem franzino no saguão de algum teatro onde se apresentava uma peça dirigida por ele. Desde 1984 o cenário habitual de Antunes era o SESC Consolação, onde hoje ele se despede de todos nós.
        Eu sempre quis chegar ao Antunes, a minha admiração por sua obra e, principalmente, por Paraíso Zona Norte, peça que considero uma das mais significativas e marcantes da minha vida de espectador. Não era muito fácil chegar ao mestre, mas em 1997, ele criou no CPT um curso de designer sonoro coordenado por Raul Teixeira - que viria a se tornar um grande amigo - e eu consegui uma vaga. Lembro que me emocionei muito no dia em que soube que havia sido aprovado e chorei copiosamente enquanto subia a Consolação para voltar para casa. Era a chance de se aproximar do Mestre. Daí em diante foi mais fácil e eu até lhe entreguei parte da minha dissertação de mestrado onde escrevo sobre seus trabalhos, mas não sei se um dia ele chegou a ler. A primeira peça a que assisti dirigida por ele foi A Megera Domada no Teatro Aliança Francesa em 1965 e daí até hoje as únicas que perdi foram O Assalto e Esperando Godot, ambas encenadas em 1977, ano em que eu estava fora do Brasil. Há histórias engraçadas ocorridas durante o tempo que passei pelo CPT (cheguei a iniciar um curso de dramaturgia e até arrisquei substituir o Raul na sonoplastia do grupo, mas naquele momento o Antunes estava mais interessado em um marceneiro do que em um sonoplasta!)
        Grande Mestre com quem tanto aprendi, não no fazer teatral, mas ao assistir seus espetáculos criativos e instigantes.
        Sendo assim eu não poderia deixar de testemunhar sua última cena e para tanto me dirigi ao Teatro Anchieta na sexta feira pela manhã.
        Eu estava emocionado, mas controlado, porém, ao adentrar a sala de espetáculos e me deparar com o palco coberto de coroas de flores e o caixão no meio da cena, desabei e as lágrimas quiseram brotar para me certificar que Antunes tinha realmente partido.



        A comoção era geral desde em veteranos como Laura Cardoso, Eva Wilma e Sergio Mamberti, como nos eternos Romeu e Julieta de 1984 (Marco Antônio Pâmio e Giulia Gam), passando por uma geração formada no CPT (Sabrina Greve, Susan Damasceno, Emerson Danese, Eric Lenate e o famoso Geraldinho, entre outros) até em jovens provavelmente participantes do CPTzinho nos dias de hoje. As pessoas se encontravam, se abraçavam muito forte e não havia como não recordar esta ou aquela frase ou história do Mestre.


        Foi bonita a despedida: houve muitas palmas, oração em fonemol, dança ao som de O Danúbio Azul e falas de várias pessoas, inclusive do Professor Danilo, que emocionado disse que o teatro do SESC Vila Mariana passa a se chamar Teatro Antunes Filho. Homenagem mais que justa, mas a meu ver, aquele que deveria levar o nome do Mestre, seria o Teatro Anchieta, palco onde ocorreu a maioria dos trabalhos dele. Desculpe Padre Anchieta, mas o Antunes foi muito mais importante do que o senhor nesse espaço sagrado do teatro paulistano.

        VIVA ANTUNES FILHO!
        VIVA O TEATRO!

        04/05/2019

Um comentário:

  1. Zé Cetra, amigo de tantos anos, que realmente pudemos trocar muitas estórias sobre o teatro e aprendermos juntos. Sempre conversamos para seu tornasse um interlocutor da estória do teatro pela dedicação em guardar com afinco os programas e resenhas de todos espetáculos que assistia . Hoje és um homem de teatro, um mestre, que nos estimula e contribui para mantermos a memória do teatro. Obrigado pelas lindas palavras. Vamos no mesmo passo.

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