ATÉ A PRÓXIMA!
QUEM NÃO TEM UMA HISTÓRIA COM O MESTRE ANTUNES?
Seja
ator ou atriz ou outras pessoas ligadas às atividades teatrais ou simplesmente
espectador você com certeza cruzou com aquele homem franzino no saguão de algum
teatro onde se apresentava uma peça dirigida por ele. Desde 1984 o cenário
habitual de Antunes era o SESC Consolação, onde hoje ele se despede de todos
nós.
Eu
sempre quis chegar ao Antunes, a minha admiração por sua obra e,
principalmente, por Paraíso Zona Norte,
peça que considero uma das mais significativas e marcantes da minha vida de
espectador. Não era muito fácil chegar ao mestre, mas em 1997, ele criou no CPT um curso de designer sonoro coordenado por Raul Teixeira - que viria a se
tornar um grande amigo - e eu consegui uma vaga. Lembro que me emocionei muito
no dia em que soube que havia sido aprovado e chorei copiosamente enquanto subia
a Consolação para voltar para casa. Era a chance de se aproximar do Mestre. Daí
em diante foi mais fácil e eu até lhe entreguei parte da minha dissertação de
mestrado onde escrevo sobre seus trabalhos, mas não sei se um dia ele chegou a
ler. A primeira peça a que assisti dirigida por ele foi A Megera Domada no Teatro Aliança
Francesa em 1965 e daí até hoje as únicas que perdi foram O Assalto e Esperando Godot, ambas
encenadas em 1977, ano em que eu estava fora do Brasil. Há histórias engraçadas
ocorridas durante o tempo que passei pelo CPT (cheguei a iniciar um curso de
dramaturgia e até arrisquei substituir o Raul na sonoplastia do grupo, mas
naquele momento o Antunes estava mais interessado em um marceneiro do que em um
sonoplasta!)
Grande
Mestre com quem tanto aprendi, não no fazer teatral, mas ao assistir seus
espetáculos criativos e instigantes.
Sendo
assim eu não poderia deixar de testemunhar sua última cena e para tanto me
dirigi ao Teatro Anchieta na sexta feira pela manhã.
Eu
estava emocionado, mas controlado, porém, ao adentrar a sala de espetáculos e
me deparar com o palco coberto de coroas de flores e o caixão no meio da cena,
desabei e as lágrimas quiseram brotar para me certificar que Antunes tinha
realmente partido.
A
comoção era geral desde em veteranos como Laura Cardoso, Eva Wilma e Sergio
Mamberti, como nos eternos Romeu e Julieta de 1984 (Marco Antônio Pâmio e
Giulia Gam), passando por uma geração formada no CPT (Sabrina Greve, Susan
Damasceno, Emerson Danese, Eric Lenate e o famoso Geraldinho, entre outros) até
em jovens provavelmente participantes do CPTzinho nos dias de hoje. As pessoas
se encontravam, se abraçavam muito forte e não havia como não recordar esta ou
aquela frase ou história do Mestre.
Foi
bonita a despedida: houve muitas palmas, oração em fonemol, dança ao som de O Danúbio Azul e falas de várias
pessoas, inclusive do Professor Danilo, que emocionado disse que o teatro do SESC
Vila Mariana passa a se chamar Teatro Antunes Filho. Homenagem mais que justa,
mas a meu ver, aquele que deveria levar o nome do Mestre, seria o Teatro Anchieta,
palco onde ocorreu a maioria dos trabalhos dele. Desculpe Padre Anchieta, mas o
Antunes foi muito mais importante do que o senhor nesse espaço sagrado do
teatro paulistano.
VIVA
ANTUNES FILHO!
VIVA
O TEATRO!
04/05/2019
Zé Cetra, amigo de tantos anos, que realmente pudemos trocar muitas estórias sobre o teatro e aprendermos juntos. Sempre conversamos para seu tornasse um interlocutor da estória do teatro pela dedicação em guardar com afinco os programas e resenhas de todos espetáculos que assistia . Hoje és um homem de teatro, um mestre, que nos estimula e contribui para mantermos a memória do teatro. Obrigado pelas lindas palavras. Vamos no mesmo passo.
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