Nelson
Rodrigues é o autor brasileiro mais montado em São Paulo e, talvez, no Brasil. Apesar
de ter escrito apenas 17 peças, elas são constantemente remontadas e reinventadas
sempre com grande sucesso, pois se tornaram clássicas em sua abrangência humana
que é atemporal.
Classificada
como tragédia carioca, Boca de Ouro
junto com A Falecida, é para mim uma
das dramaturgias mais perfeitas do autor: diálogos fluentes, desenvolvimento
perfeito da trama e final impactante mesmo para quem conhece a obra.
Já
visitada por José Celso Martínez Corrêa em 1999 e por Gabriel Villela em 2017
surge agora na versão do Grupo Oficcina
Multimédia de Minas Gerais sob a direção
de Ione de Medeiros.
A
encenação deste Boca de Ouro é uma
verdadeira caixa de surpresas e eu tenho uma sugestão para aqueles que
pretendem assistir a este ótimo espetáculo: não se informe muito sobre ele, nem
leia o programa antes de vê-lo e assim aquelas dúvidas sobre quem faz qual personagem
e como serão as soluções empregadas para as mudanças de cena serão reveladas de
maneira bombástica e surpreendente somente durante o momento em que se está
vendo a apresentação.
O
caso de Dona Guigui é emblemático para mim, pois se trata de um dos personagens
de Nelson Rodrigues que me é mais caro. A Guigui de Odete Lara com seu vestido
branco com bolas pretas no filme de Nelson Pereira do Santos (1963) é aquela
dos meus sonhos. No teatro tivemos excelentes Guiguis como Sylvia Prado na
montagem do Oficina e Lavínia Pannunzio na recente encenação de Villela. Era
natural que eu estivesse com muita expectativa no momento em que Caveirinha
bate à porta e Agenor atende e chama pela mulher. Quem surge como Guigui com um
leque na mão? A tentação é grande, mas fiel ao que escrevi acima não serei um desmancha
prazer. Vá ver e não se surpreenda se for capaz!
Todo
o elenco tem perfeito domínio de cena e incorpora com exatidão em suas
interpretações o universo suburbano carioca retratado pelo dramaturgo. Consegui
com um dos atores a distribuição dos personagens, mas pelo já escrito não
revelarei aqui, mas não há como não destacar as interpretações de Jonnatha
Horta Fortes, Henrique Mourão, Gustavo Sousa e Victor Hugo Barros.
A
diretora Ione de Medeiros assina também o interessante cenário que servirá para
os vários ambientes onde acontecem as ações e o delicioso figurino que remete
tanto ao subúrbio como ao universo pop, bastante lembrado durante a
apresentação.
A
trilha sonora de Francisco Cesar cria o ambiente do espetáculo desde o momento
em que um primeiro som de percussão invade o teatro antes dos atores entrarem
em cena, assim como a significativa iluminação de Bruno Cerezoli.
Você
que não está disposto a ver este espetáculo por já ter assistido a vários Boca de Ouro ou porque não conhece o
grupo ou ainda porque o SESC Santo Amaro é longe, mude sua atitude e vá! Garanto
que não vai se arrepender.
BOCA
DE OURO está em cartaz no SESC Santo Amaro até 09/06 de quinta a sábado às 21h
e domingo às 18h.
16/05/2019
OBS:
O conteúdo desta matéria pediu que ela fosse escrita em tom coloquial.
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