A ousadia da A Digna
Companhia parece não ter limites!
Em 2014 quando da encenação de Condomínio
Nova Era, dirigida por Rogério Tarifa, o espaço cênico da Sala Beta
do Sesc Consolação já se mostrava pequeno para abrigar as várias cenas
que clamavam por maiores áreas.
Entre Vãos de 2016, dirigida
por Luís Fernando Marques exigiu a locação de três espaços não teatrais e a
montagem compreendeu viagem de metrô, uma moto para conduzir uma das
personagens e um encontro final na Estação Sé do metrô.
Agora chegou a vez de
Estilhaços de Janela Fervem no Céu da Minha Boca, dirigida
por Eliana Monteiro, que necessita de doze motoristas de aplicativos, cinco
ciclistas entregadores, elenco, pessoal da produção e uma complexa logística
para harmonizar o transporte dos espectadores, a chegada sincronizada ao local
de encontro e o tour pelo assustador e artificial (alguém pode achar
paradisíaco!) Parque Jardim Perdizes que concentra prédios de alto luxo
guarnecidos devidamente com varandas gourmet com vista para o parque.
Obviamente o entorno abriga indesejados moradores de rua e pedintes.
Completa-se assim a
trilogia do despejo concebida pelo dramaturgo Victor Nóvoa. Nota-se que a
escolha dos três diretores recaiu em profissionais que preferem conceber seus
espetáculos em espaços não convencionais.
Seguindo essa tendência, a próxima montagem de A Digna compreenderá uma viagem em uma nave pelo espaço sideral, sem deixar de lado a crítica e a denúncia sobre possíveis desigualdades sociais existentes em ares extraterrestes.
Estilhaços acontece em seis
etapas distintas:
1. O espectador recebe
em sua casa mensagens sobre a montagem.
2. Viagem da casa do
espectador até o local de encontro. Nessa viagem o diálogo entre o motorista e
o espectador já faz parte do espetáculo. Notícias são veiculadas por uma
estação de rádio.
3. Chegada ao local de
encontro. Tour pelo Jardim Perdizes.
4. Chegada ao local onde
supostamente haverá a festa de lançamento de um luxuoso empreendimento
imobiliário. Apresentação de uma cena que tem a ver com cenas recebidas na
etapa 1.
5. Ida ao local onde jaz
um entregador que foi atropelado e morto, com discurso inflamado de um de seus
companheiros.
6. Viagem de volta até a casa do espectador.
Fica difícil
descrever as sensações e reflexões que este trabalho provoca: a desigualdade
social, a ganância do setor imobiliário bastante alimentada pela arrogante
classe média abastada que sonha com uma varanda gourmet, a exclusão das classes
menos favorecidas das, ditas democráticas, áreas urbanas empurrando-as para uma
periferia que com o passar do tempo será um novo Jardim Perdizes. O
Tatuapé está aí para comprovar isso. Alguns chamam isso de progresso.
Na etapa 4 são
apresentadas duas cenas gravadas. A mim coube assistir uma cena entre uma mãe
(Maria Joseita) e uma filha (Maria Aparecida) onde se mostra o pensamento
burguês e mesquinho de uma e o trauma da outra com as atividades do pai durante
o regime militar. Eliana Bolanho e Ana Vitória Bella dão um show de
interpretação como mãe e filha. A outra cena é interpretada por Helena Cardoso
e Paulo Arcuri.
Um agradecimento muito especial à Luala: gentil, simpática e bonita motorista que me conduziu na ida e na volta.
Apresentada para
apenas 24 espectadores, a peça tem tido sessões concorridas e lotadas e fica em
cartaz até 28 de novembro, apenas aos sábados, domingos e feriados, portanto
CORRA para adquirir o seu ingresso.
Ingressos: R$20 e
R$10 (meia-entrada)
Reserva e compra: https://adigna.com
07/11/2021
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