O batalhador Kleber
Montanheiro reformou a sede da sua Cia. da Revista e a reabre ao público
com Nossos Ossos, primeiro espetáculo da trilogia Conexão São Paulo –
Pernambuco por ele idealizada.
Nossos Ossos, adaptação
do romance homônimo de Marcelino Freire realizada por Daniel
Veiga, trata da saga do dramaturgo pernambucano Heleno - incensado, mas também
tragado, pela cidade de São Paulo - que obsessivamente procura enterrar um
garoto de programa com quem teve um relacionamento. A trilogia deve seguir com Trindade,
adaptação teatral do filme homônimo e fecha com João que será escrita
por Marcelo Marcus Fonseca, outro batalhador da cena teatral paulistana. As duas
últimas deverão estrear em 2022 comemorando os 25 anos da companhia.
A bela sala de espera
da Cia. da Revista foi toda renovada e a sala de espetáculos foi
alterada para receber a proposta de Montanheiro para Nossos Ossos. Doze
cabines com dois lugares cada recebem os espectadores para testemunharem o
drama vivido por Heleno.
Vitor Vieira tem mais
um grande momento em sua carreira com sua interpretação de Heleno. Seus dotes
de ator me impressionam desde Mateus, 10 quando eu o vi pela primeira
vez nos palcos em 2012. Toda a sua trajetória com o grupo Tablado de Arruar
foi marcada por excelentes trabalhos. Brilhou como dançarino em Carmen (2017),
onde compartilhava a cena com Natalia Gonsales e Flávio Tolezani. Atuou e até
cantou no coro de Lazarus (2019). Em Nossos Ossos, Vitor interpreta
com grande intensidade o dramaturgo que obsessivamente, tal qual uma Antígona,
quer ver enterrado o michê por quem se apaixonou. E novidade: ele canta! E
canta muito bem! Mais um degrau para esse excelente ator/dançarino e agora
cantor. Sem esquecer seus dotes de fotógrafo, extra palco.
O elenco é completado
por Aivan, Evas Carretero, Demian Pinto (também pianista), João Victor Silva e
Cezar Rocafi: paulistas e pernambucanos fazendo jus ao título da trilogia.
Destaque para a presença vigorosa da travesti Aivan, cantora pernambucana que
faz seu primeiro trabalho como atriz e se sai muito bem.
Além da direção,
Kleber Montanheiro assina a cenografia que procura fazer uma conexão da noite
marginal paulistana com o sertão nordestino. Os figurinos do jovem Marcos
Valadão acompanham o mesmo conceito e há de se destacar a bela solução dada
para o corpo em decomposição do garoto de programa.
Mais um destaque
dessa importante encenação: as sugestivas canções criadas pela pernambucana
Isabela Moraes, que têm importante função no desenvolvimento da narrativa. A
ficha técnica não especifica se as letras são também de sua autoria.
Nossos Ossos está em cartaz aos
sábados (19h e 21h30) e domingos (19h) com lotações esgotadas até o final da
temporada de 2021, mas a boa notícia é que a peça volta ao cartaz em janeiro de
2022 com a plateia expandida para os cem lugares habituais da Cia. da
Revista.
21/11/2021
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