sábado, 6 de novembro de 2021

ONDE VIVEM OS BÁRBAROS

 

Um livro pode ser BÁRBARO, de tão bom!

Um ser humano pode ser BÁRBARO, de tão bonito; mas também pode ser BÁRBARO, de tão selvagem!

BARBARIDADE! Pode ser uma exclamação de boa surpresa perante um acontecimento formidável, mas também pode ser uma exclamação de terror diante de um fato desesperador, ou mesmo de espanto, ao saber que alguém come Chokitos enquanto observa passivamente uma mulher ser estuprada e morta.

A instigante peça do jovem dramaturgo chileno Pablo Manzi trata de bárbaros selvagens e primitivos, unindo de forma bastante criativa monólogos que podem se passar na Grécia antiga com os ágeis diálogos travados nas cenas capitais da peça, quando os primos (bárbaros?) se encontram e entram em conflito ao saber que um deles presenciou a tortura e assassinato de uma garota com tendências neonazistas. Um deles, aquele que comeu Chokitos, justifica sua passividade ao dizer que a mulher era uma prostituta e agora condena atitude semelhante do primo que, de maneira indireta, se desculpa pelo fato da menina ser neonazista. 

Ah! O ser humano! A civilização e a barbárie convivem dentro de cada um de nós e basta uma ameaça externa para que a violência se manifeste. A ameaça à sobrevivência física ou moral desperta nos animais racionais atitudes tão selvagens e bárbaras como aquelas que vemos nos irracionais.

A chave da peça está na última cena, na resposta que Elias dá a uma pergunta de Eugênia. É obvio que não vou citá-la aqui para não ser taxado de spoiler.

O elenco da peça é composto por quatro atores e uma atriz todos com excelente rendimento. Ton Ribeiro é Roberto, o primo anfitrião e os visitantes são Ignácio (Ernani Sanchez), Nicolas (Abel Xavier), Elias (Wallyson Mota) e Eugênia (Carol Vidotti, que se esforça para ficar feia em cena, mas jamais vai conseguir!!)

Wallyson Mota realiza direção discreta e eficiente, concentrando toda a atenção no trabalho do elenco. Louve-se também a direção de fotografia de Raphael B. Gomes.

Em seus oito anos de vida, o Coletivo Labirinto é bastante coerente com seu objetivo de “pesquisar o olhar para as relações do sujeito com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea”. Seu primeiro espetáculo em 2014 foi Sem Título do argentino Ariel Falace, seguido em 2019 de Argumento Contra a Existência de Vida Inteligente no Cone Sul do uruguaio Santiago Sanguinetti.

Falace, Sanguinetti e Manzi. Todos contemporâneos. Todos rapazes latino-americanos. 

SERVIÇO: 

Temporada de 04 de novembro a 05 de dezembro de 2021

Gratuito.

Transmissão pelos canais do YouTube dos teatros distritais.

Informações em: www.coletivolabirinto.com.br

@coletivo.labirinto

06/11/2021

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