sábado, 20 de novembro de 2021

NEBLINA

 

Autor de mais de 20 textos teatrais, Sérgio Roveri pode ser considerado um dos dramaturgos mais importantes da cena brasileira contemporânea. Seus textos sempre surpreendem tanto na forma quanto no conteúdo, exigindo do leitor/espectador atenção muito especial para procurar captar todas as nuances contidas em suas complexas tramas que não oferecem desfechos tradicionais, oferecendo mais perguntas do que respostas sendo que a maioria dessas peças é formada por ágeis diálogos de apenas dois intérpretes.

Neblina não é exceção à regra. Dois acidentes estão presentes na narrativa: em um deles uma mulher bate numa pedra e seu carro fica avariado e ela busca socorro na casa de um homem solitário, no outro um casal sofre um acidente mais grave ficando preso nas ferragens do veículo.

O que esses acidentes e esses casais têm em comum? Muita neblina, um amanhecer que nunca chega e muitas perguntas!

Esse é o teatro de Sérgio Roveri!

Yara de Novaes capta admiravelmente esse clima misterioso com o auxílio do intrigante e muito belo cenário de André Cortez que é banhado pela sugestiva iluminação de Wagner Antônio e a poderosa trilha sonora de Dr. Morris.

A peça de Roveri é um excelente exercício para atriz e ator talentosos e a escolha não podia ter sido mais acertada: Fafá Rennó e Leonardo Fernandes desincumbem-se de maneira brilhante de Sofia, Diego, Júlia e Rafael; essas personagens circulam pelo misterioso cenário que pode sugerir vários ambientes, mas também um imenso vazio onde está presente uma imensa bola que pode ser ao mesmo tempo aliada e inimiga. Mais perguntas, não é?

Fafá e Leonardo têm em Eliatrice Gischewski uma poderosa aliada em suas interpretações. Ela fez a preparação corporal de ambos, fazendo-os literalmente rolar pelo palco numa coreografia que se assemelha a um vigoroso balé.

A neblina que envolve palco e plateia parece ser uma metáfora do ambiente sufocante que o Brasil tem vivido nos últimos anos e os sentimentos de luto e de perda presentes nos diálogos de Júlia e Rafael são, no meu modo de ver, uma prova disso.

Muitas perguntas, poucas respostas.

E não é essa a função social do teatro, ou seja, fazer o espectador refletir sobre nossa realidade e, a partir daí, procurar soluções como cidadão consciente?

Neblina é teatro responsável da melhor qualidade e precisa ser visto por quem ama o teatro e acredita nele como mola de transformação.

Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de 12 de novembro a 12 de dezembro de 2021 e de 14 a 23 de janeiro de 2022, às sextas (18h30) e sábados e domingos (17h)

Fotos de Guto Muniz. 

20/11/2021

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