Autor de mais de 20
textos teatrais, Sérgio Roveri pode ser considerado um dos dramaturgos mais
importantes da cena brasileira contemporânea. Seus textos sempre surpreendem
tanto na forma quanto no conteúdo, exigindo do leitor/espectador atenção muito
especial para procurar captar todas as nuances contidas em suas complexas
tramas que não oferecem desfechos tradicionais, oferecendo mais perguntas do
que respostas sendo que a maioria dessas peças é formada por ágeis diálogos de
apenas dois intérpretes.
Neblina não é exceção à
regra. Dois acidentes estão presentes na narrativa: em um deles uma mulher bate
numa pedra e seu carro fica avariado e ela busca socorro na casa de um homem
solitário, no outro um casal sofre um acidente mais grave ficando preso nas
ferragens do veículo.
O que esses acidentes
e esses casais têm em comum? Muita neblina, um amanhecer que nunca chega e
muitas perguntas!
Esse é o teatro de Sérgio
Roveri!
Yara de Novaes capta
admiravelmente esse clima misterioso com o auxílio do intrigante e muito belo
cenário de André Cortez que é banhado pela sugestiva iluminação de Wagner
Antônio e a poderosa trilha sonora de Dr. Morris.
A peça de Roveri é um
excelente exercício para atriz e ator talentosos e a escolha não podia ter sido
mais acertada: Fafá Rennó e Leonardo Fernandes desincumbem-se de maneira
brilhante de Sofia, Diego, Júlia e Rafael; essas personagens circulam pelo
misterioso cenário que pode sugerir vários ambientes, mas também um imenso
vazio onde está presente uma imensa bola que pode ser ao mesmo tempo aliada e
inimiga. Mais perguntas, não é?
Fafá e Leonardo têm
em Eliatrice Gischewski uma poderosa aliada em suas interpretações. Ela fez a
preparação corporal de ambos, fazendo-os literalmente rolar pelo palco numa
coreografia que se assemelha a um vigoroso balé.
A neblina que envolve
palco e plateia parece ser uma metáfora do ambiente sufocante que o Brasil tem
vivido nos últimos anos e os sentimentos de luto e de perda presentes nos
diálogos de Júlia e Rafael são, no meu modo de ver, uma prova disso.
Muitas perguntas,
poucas respostas.
E não é essa a função
social do teatro, ou seja, fazer o espectador refletir sobre nossa realidade e,
a partir daí, procurar soluções como cidadão consciente?
Neblina é teatro
responsável da melhor qualidade e precisa ser visto por quem ama o teatro e
acredita nele como mola de transformação.
Em cartaz no Centro
Cultural Banco do Brasil de 12 de novembro a 12 de dezembro de 2021 e de 14 a
23 de janeiro de 2022, às sextas (18h30) e sábados e domingos (17h)
Fotos de Guto Muniz.
20/11/2021
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