A Revolução dos Bichos, o famoso livro de George Orwell (1903-1950) escrito em 1944 que critica o regime stalinista, já foi filme de propaganda, já foi desenho animado, já foi história em quadrinhos e agora, pelas mãos de Zé Henrique de Paula e Fernanda Maia do Núcleo Experimental, torna-se um cabaré musical inspirado naqueles criados na Alemanha dos tempos de Bertolt Brecht e Kurt Weill e o resultado é deliciosamente lúdico, mesmo mostrando de maneira bastante clara as agruras que sofrem aqueles que vivem em sistemas totalitários.
A trama do livro é
bastante conhecida e a peça é bem fiel a ela; a grande surpresa é a maneira
como a história é contada. Estamos em um cabaré onde um tal Eric Arthur Blair
(nome verdadeiro de Orwell) inicialmente apresenta os participantes e o papel
que cada um vai representar na história, são eles (e elas!!): Sambo, Franky,
Richard do Ópio, Ginger, Flip, Birmânia (que também é vidente) e Dorothy Have.
Pois é! Artistas de cabaré têm mesmo esses nomes estranhos!
Estabelecido o jogo
de metateatro (ou metacabaré?) tem início a história que envolve porcos, cabras
e equinos com um desenvolvimento muito próximo ao romance. A trama é entremeada
pelas belas canções compostas por Fernanda Maia.
Tudo funciona nesta
cuidada produção do Núcleo Experimental desde a direção audiovisual de
Laerte Késsimos que intercala harmoniosamente cenas externas filmadas com
aquelas internas realizadas com os atores, passando pelo perfeito visagismo
criado por Louise Helène e os cabelos e maquiagem de Diego D’Urso, a cenografia
de Cesar Costa e os figurinos assinados por Zé Henrique de Paula. Tudo isso
iluminado brilhantemente por Fran Barros.
A trilha sonora de
Fernanda Maia é, como já citei, muito boa, combinando letra (de Zé Henrique de Paula) e música
perfeitamente e auxiliando na transmissão da trama. Além disso, Fernanda (a
nossa Midas do teatro musical, como eu costumo brincar com ela) faz uma direção
musical estupenda tirando o máximo proveito dos músicos (ela ao piano, João
Baracho no acordeon, Clara Bastos no baixo, Priscila Brigante na bateria e
Felipe Parisi no cello) e dos cantores/atores, sobre os quais escrevo mais
adiante.
Zé Henrique de Paula
rege todos os componentes da montagem com a sua conhecida competência e ainda
nos brinda com uma excelente participação especial logo no início da peça, como
o porco Velho Major.
Deixei,
propositalmente por último o elenco preparado por Inês Aranha e coreografado
por Gabriel Malo. É sempre gratificante para um velho espectador testemunhar o
surgimento de jovens atores. Todos, sem exceção, têm um rendimento
surpreendente, seja interpretando, seja cantando. Como equinos, porcos e cabras
Dan Cabral, Flavio Bregantin, Felipe Assis Brasil, Fernando Lourenção, Luci
Salutes, Mari Rosinski e Yasmin Calbo nos seguram diante da tela durante as
quase duas horas que dura o espetáculo. É necessário fazer uma menção especial
a Pedro Silveira que narra a história com muita propriedade e simpatia, além de
brindar o espectador com uma bela canção quase ao fim da peça.
Cabaret dos Bichos é teatro virtual da melhor qualidade e precisa ser visto por adultos e, principalmente, por jovens que ainda não sentiram (e espero, que nunca sintam) o que é viver em um regime totalitário.
05/10/2021
SERVIÇO:
1 de outubro a 5
de novembro de 2021
Sessões diárias,
às 19h pelo canal do Núcleo Experimental no Youtube
(Nos dias 12, 13 e
14 de novembro (sexta e sábado, às 21h / domingo, às 19h), apresentações também
pelas redes do Teatro Arthur Azevedo e nos dias 19, 20 e 21 de novembro (sexta
e sábado, às 21h / domingo, às 19h) apresentações também pelas redes do Teatro
João Caetano)
Grátis
Classificação
indicativa: 10 anos
Duração:
1h40
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