Dizem que Mário
Bortolotto ignora matérias e críticas que são escritas a respeito de suas
peças. Dizem também que ele odeia elogios.
Mesmo assim vou
escrever uma matéria elogiosa a respeito de Pequod – Só os Bons
Morrem Jovens a que assisti ontem virtualmente.
A peça é a última de
uma trilogia cujos personagens são os irmãos Nando (alter ego do autor) e
Maurício. Fica Frio (1989) e Tempo de Trégua (2000) são as
duas anteriores, as quais eu não assisti. Jovens nas duas primeiras, em Pequod
eles já estão beirando a “melhor Idade”, ou a velhice para ser politicamente
incorreto.
O barco onde Nando
vive de favor tem o mesmo nome (Pequod) do baleeiro de caça à temida
Moby Dick do romance de Herman Melville, que por sua vez é também o nome de uma
extinta tribo de índios dos Estados Unidos. O dono, um senhor paraplégico, cede-lhe
o espaço em troca de Nando levar-lhe para um passeio de vez em quando. Nando
tem a vida solitária que deseja, apenas compartilhada com o velho Castioni, um
homem tresloucado que fala o que bem entende em altos brados e Lili, uma jovem
bonita e descolada que adora uma aspirada na branquinha.
Esse universo meio marginal
é repentinamente invadido por Maurício, o irmão “bom moço”, educado e dentro
das normas, que vem anunciar o falecimento do pai. Acontece o inevitável acerto
de contas entre eles, só interrompido pelas visitas de Castioni e Lili.
Bortolotto mostra um
universo triste e desesperançado, mas o seu último olhar ainda tem um lampejo
de esperança.
A peça é ambientada
no interior do barco, mas termina na proa com os irmãos se solidarizando e sugerindo
um olhar para a frente e uma luz no fim do túnel. Esse cenário é de Mariko
Ogawa e Seiji Ogawae e é lindamente iluminado por Caetano Vilela.
A excelente trilha
sonora à base de jazz e rock assinada pelo diretor é a marca registrada de seus
espetáculos.
Bortolotto parece
interpretar a si mesmo e revela muita humanidade em seu trabalho, Nelson Peres
é ótimo contraponto a ele como o irmão Maurício. Fernando Castioni entra em
cena e toma conta do espaço com seu histrionismo. A bela Rebecca Leão dá o tom
feminino e empoderado naquele ambiente machista.
Pequod respira humanidade e tem cheiro de gente que sofre, ama, chora, ri e respira um ar viciado, mas ainda assim AR, tão necessário para nossa sobrevivência. Só isso é um imenso motivo para não se perder este importante trabalho de Mário Bortolotto.
09/10/2021
SERVIÇO
Pequod - Só os bons morrem jovens
Teatro Sérgio Cardoso Digital
Temporada: De 08 a 24 de outubro, sexta, sábado e domingo às 19h
Ingressos: Gratuitos, retirada prévia
na plataforma Sympla Streaming
Duração: 60 min
Gênero: Drama
Classificação etária: 14 anos
Acessibilidade: Legendagem descritiva
Bate-papo com o diretor Mário Bortolotto: 10/10 logo
após a exibição da última sessão
depois de ler sua resenha não há como deixar de ver. Já reservei meu ingresso pra domingo, 10/10. Gratidão! ❤🎭
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