sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

COCK


E assim, aos poucos, vamos voltando para os espaços teatrais da cidade. Ontem foi o dia da Oficina Cultural Oswald Andrade e foi com grande prazer que tomamos nosso café no aconchegante Café Colombiano e constatamos que as dependências da Oficina estão bem conservadas e parte delas (as salas de espetáculos) foram reformuladas e pintadas de novo.

A sala onde se apresenta o espetáculo Cock está muito bonita e reformulada em quatro plateias em função da encenação. O espaço cênico é um quadrado com cerca de cinco metros de lado onde acontece a “briga de galos” proposta pelo criativo dramaturgo inglês Mike Bartlett (1980). O cenário bastante clean de Chris Aizner tem uma belíssima iluminação de Wagner Freire em vermelho nas estruturas que contornam o espaço em contraste com uma imensa luminária central de luz fria que escancara as reações das personagens.

Sem usar nenhum penduricalho adicional Nelson Baskerville concentra sua encenação no embate das quatro personagens.

John, em toda sua indecisão, é o protagonista da peça e as outras personagens não são nominadas; são elas o outro homem (o caso de John), a mulher (garota que entra na vida de John) e o pai do outro homem.

A peça é apresentada em pequenas cenas (rounds) separadas por blackouts onde se mostram os diálogos/conflitos entre John e o namorado e entre John e a namorada. Essas cenas são seguidas de uma mais longa onde os três mais o pai do outro homem se encontram e onde há o desfecho deste excelente texto de Bartlett.

A trilha sonora de Dan Maia acompanha todos os blackouts, assim como fecha o espetáculo com a bonita canção You Know em parceria com Ligiana Costa.

O pai tem uma importante participação para o desfecho da trama e Hugo Coelho o interpreta com seu habitual talento.

Andrea Dupré prova, com delicadeza e sensualidade, que sua personagem não é nada masculina, mas demonstra muita energia ao se ver agredida e diminuída pelos “machos” da trama.

Marco Antônio Pâmio, que ultimamente tem se dedicado mais à sua importante carreira de diretor, tem um bem-vindo retorno como ator ao representar o namorado de John que se vê preterido em prol de uma mulher!! Suas entradas e saídas de cena com passinhos curtos e fazendo caras e bocas são impagáveis, tanto quanto suas reações de indignação e fúria frente às ações de John.

Com muita categoria Daniel Tavares representa John, o eterno indeciso entre seu antigo namorado e o horizonte feminino que se descortina ao conhecer e também amar uma mulher. Esse conflito com sua sexualidade está explícito nas excelentes reações faciais do quase sempre passivo John, que mais ouve os argumentos do que os responde e quando o faz parecendo pender para um lado, logo a seguir se volta para o outro lado. Há muitas nuances nesse personagem e Daniel sabe tirar o maior proveito dessa dificuldade em explicitar algo tão sutil.

Os diálogos da peça fluem de maneira bastante ágil (mérito do autor, do diretor e do elenco) e a peça com certeza ganhará maior ritmo ao longo da temporada, principalmente na brilhante cena do confronto final.

Cock é mais uma boa surpresa neste final de temporada de 2021 e deve ser vista por quem aprecia bom teatro com texto bem escrito, boa tradução cênica do diretor e elenco de primeira. QUER MAIS??!!

E pra não dizer que a peça não tem nenhum penduricalho, há uma significativa surpresa pouco antes das luzes se apagarem. 

03/12/2021 

SERVIÇO:
De 2 a 18 de dezembro – de segunda a sexta, às 20h; sábados, às 18h
Oficina Cultural Oswald de Andrade - Sala 03 - Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro, São Paulo, SP
Ingressos: Grátis, distribuídos 1h antes de cada sessão
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 14 anos

 

 

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