E assim, aos poucos,
vamos voltando para os espaços teatrais da cidade. Ontem foi o dia da Oficina
Cultural Oswald Andrade e foi com grande prazer que tomamos nosso café no
aconchegante Café Colombiano e constatamos que as dependências da
Oficina estão bem conservadas e parte delas (as salas de espetáculos) foram
reformuladas e pintadas de novo.
A sala onde se
apresenta o espetáculo Cock está muito bonita e reformulada em quatro
plateias em função da encenação. O espaço cênico é um quadrado com cerca de
cinco metros de lado onde acontece a “briga de galos” proposta pelo criativo
dramaturgo inglês Mike Bartlett (1980). O cenário bastante clean de Chris
Aizner tem uma belíssima iluminação de Wagner Freire em vermelho nas estruturas
que contornam o espaço em contraste com uma imensa luminária central de luz
fria que escancara as reações das personagens.
Sem usar nenhum penduricalho
adicional Nelson Baskerville concentra sua encenação no embate das quatro
personagens.
John, em toda sua
indecisão, é o protagonista da peça e as outras personagens não são nominadas;
são elas o outro homem (o caso de John), a mulher (garota que entra na vida de
John) e o pai do outro homem.
A peça é apresentada
em pequenas cenas (rounds) separadas por blackouts onde se
mostram os diálogos/conflitos entre John e o namorado e entre John e a namorada.
Essas cenas são seguidas de uma mais longa onde os três mais o pai do outro
homem se encontram e onde há o desfecho deste excelente texto de Bartlett.
A trilha sonora de
Dan Maia acompanha todos os blackouts, assim como fecha o espetáculo com
a bonita canção You Know em parceria com Ligiana Costa.
O pai tem uma
importante participação para o desfecho da trama e Hugo Coelho o interpreta com
seu habitual talento.
Andrea Dupré prova,
com delicadeza e sensualidade, que sua personagem não é nada masculina, mas
demonstra muita energia ao se ver agredida e diminuída pelos “machos” da trama.
Marco Antônio Pâmio,
que ultimamente tem se dedicado mais à sua importante carreira de diretor, tem
um bem-vindo retorno como ator ao representar o namorado de John que se vê
preterido em prol de uma mulher!! Suas entradas e saídas de cena com passinhos
curtos e fazendo caras e bocas são impagáveis, tanto quanto suas reações de
indignação e fúria frente às ações de John.
Com muita categoria
Daniel Tavares representa John, o eterno indeciso entre seu antigo namorado e o
horizonte feminino que se descortina ao conhecer e também amar uma mulher. Esse
conflito com sua sexualidade está explícito nas excelentes reações faciais do
quase sempre passivo John, que mais ouve os argumentos do que os responde e
quando o faz parecendo pender para um lado, logo a seguir se volta para o outro
lado. Há muitas nuances nesse personagem e Daniel sabe tirar o maior proveito
dessa dificuldade em explicitar algo tão sutil.
Os diálogos da peça
fluem de maneira bastante ágil (mérito do autor, do diretor e do elenco) e a
peça com certeza ganhará maior ritmo ao longo da temporada, principalmente na
brilhante cena do confronto final.
Cock é mais uma boa
surpresa neste final de temporada de 2021 e deve ser vista por quem aprecia bom
teatro com texto bem escrito, boa tradução cênica do diretor e elenco de
primeira. QUER MAIS??!!
E pra não dizer que a peça não tem nenhum penduricalho, há uma significativa surpresa pouco antes das luzes se apagarem.
03/12/2021
SERVIÇO:
De 2 a 18 de dezembro – de
segunda a sexta, às 20h; sábados, às 18h
Oficina Cultural Oswald de Andrade - Sala 03 - Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro,
São Paulo, SP
Ingressos: Grátis, distribuídos
1h antes de cada sessão
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 14
anos
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