Não é simples
escrever sobre a experiência como espectador deste belo e complexo espetáculo
concebido por Marcelo Varzea com o Coletivo Impermanente.
Após as duas versões
virtuais de (In)Confessáveis cada elemento do grupo repete confissões
verdadeiras ou fictícias desta vez presencialmente e desnudos de corpo e,
principalmente, de alma.
São 15 atores em
cena, dispostos de tal maneira que irão apresentar seu relato para três ou seis
espectadores. Cada cena será repetida 12 vezes nas 12 rodadas em que acontece o
espetáculo assim como as interferências que ocorrem durante os relatos; essas
interferências serão ouvidas pelo espectador também doze vezes e servirão quase
como um fio de Ariadne a juntar os cacos de cada narrativa apresentada. Parece
complicado, mas durante a apresentação tudo se torna bastante claro e muito
envolvente e emocionante.
O espetáculo acontece
em um clima dramático, pois não há relatos leves ou engraçados. Todos eles
tratam de situações ou traumas emocionais provenientes de homofobia, assédio
sexual, gordofobia, racismo, transfobia, problemas de saúde, entre outros. Em
ato bastante corajoso o ator está há menos de dois metros do espectador e
mostra toda sua intimidade corporal desfazendo eventuais mitos ou preconceitos
de quem o assiste.
Das quinze cenas só é
possível assistir a 12 em cada apresentação. O elenco, formado na maioria por
gente bastante jovem, é homogêneo, muito talentoso e se entrega de maneira
vertiginosa na proposta de Varzea. Fica difícil destacar esta ou aquela cena,
mas algumas delas têm um impacto maior para cada espectador. A mim tocaram
bastante as cenas da mulher trans (Daniela D’Eon), do rapaz com vitiligo (André
Torquato), da bela jovem que foi taxada de gorda (Thiene Garrido), da mulher
dona de seu “compartimento” (Ana Bahia) e dos muitos jovens assediados
sexualmente (cenas de Vini Hideki, Renan Rezende e Daniel Tonsig). Destaque
também para a única cena mais leve, aquela de Agmar Berigo.
Os intensos e
emocionados aplausos finais são testemunha do bom resultado desta corajosa
iniciativa de Marcelo Varzea que foi abraçada com muita paixão pelos
integrantes do Coletivo Impermanente ao qual desejamos longa vida.
Com apenas duas apresentações, o espetáculo se despede hoje (07/12) às 20h da Oficina Cultural Oswald de Andrade.
07/12/2021
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