A Kiwi Companhia
de Teatro mudou seu nome para outro que está mais de acordo com seu pensamento
político-ideológico: agora denomina-se Coletivo Comum.
O grupo formado por Fernanda Azevedo, Beatriz Calló, Daniela Embón e Fernando Kinas está de volta com Os
Grandes Vulcões, espetáculo batizado por eles de vídeo teatro, pois mescla
de maneira extremamente harmoniosa as linguagens teatral e audiovisual.
A peça tem a mesma
estrutura de Material Bond que o grupo montou em 2017 a partir da obra
de Edward Bond. Agora a referência é o discurso que o também dramaturgo inglês
Harold Pinter (1930-2008) fez ao receber o Prêmio Nobel de Literatura em 2005;
discurso virulento denunciando a política externa dos Estados Unidos com a
colaboração, ou no mínimo, a aquiescência, da Grã Bretanha. Engenhosamente a
peça fala também do discurso (de certa forma, também virulento) que a atriz
Fernanda Azevedo proferiu ao receber o Prêmio Shell como melhor atriz de 2013.
A sagaz dramaturgia coloca a atriz em cena como Harold Pinter e como ela mesma,
desta vez uma personagem.
Por falar em
engenhosidade da encenação de Fernando Kinas, louvem-se as inserções de imagens
e a trilha sonora que comentam a ação e criam um benéfico efeito de distanciamento
que faz com que o espectador reflita sobre o que está vendo durante o próprio ato
da recepção.
O título da peça faz
referência a um poema de Pablo Neruda que dialoga com aquele de Bertolt Brecht
que diz “Que tempo é este em que uma conversa sobre árvores chega a ser uma
falta, pois implica em silenciar sobre tantos crimes?”. Pois é, Fernanda e
Fernando põem mais uma vez a mão na ferida denunciando e explicitando as
mazelas em que este país se chafurdou, fazem isso, porém, com leveza e bom
humor o que torna a denúncia ainda mais potente.
A interpretação de
Fernanda Azevedo é impecável, transitando harmoniosamente entre as personagens,
mas dificilmente será indicada como melhor atriz para determinado prêmio de
teatro.
Colaboram para o
sucesso da empreitada o belo cenário de Julio Dojscar onde um globo terrestre
ilustra temas tratados na peça, a iluminação de Clébio Ferreira e a
importantíssima direção de vídeo de Thiago B. Mendonça.
O final da peça com a atriz se desenvencilhando das personagens e abandonando o teatro é belíssimo e dão um significativo ponto final ao trabalho de estreia do Coletivo Comum, ao qual desejo longa vida.
GRANDES VULCÕES faz
sua última apresentação HOJE, DIA 28 às 20h. CORRA PARA ASSISTIR.
Transmissão pelos
canais do Coletivo no Facebook e no YouTube:
www.facebook.com/coletivocomum
www.youtube.com.br/kiwicompanhiadeteatrocoletivocomum
28/04/2021
Cetra querido, muito obrigada pelo texto. Além de ser um prazer dialogar contigo é muito importante para pensarmos sobre os trabalhos da Companhia ler o que críticos escrevem sobre nossas ações e processos artísticos. beijos e continuemos todes firmes e fortes (porque precisaremos).
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