Volta e meia este
clássico de Plínio Marcos retorna aos nossos palcos e isso sucede porque Plínio
continuará clássico enquanto este país tiver tantas mazelas sociais e
diferenças de classe. Quantas Ninas e quantos Zés existiam em 1967 quando a
peça foi escrita e quantos deles não estão espalhados ainda hoje por este triste
Brasil de 2021?
Kiko Rieser, o
diretor desta montagem, realiza uma encenação que, no meu modo de ver, remete à
estética do cinema neo realista italiano dos anos 1950 e isso é reforçado pela fotografia
em belíssimo preto e branco e pela interpretação naturalista do ótimo casal de
intérpretes. A movimentação da câmera permite sugestivos ângulos e closes de
cada uma das personagens.
Muito já se escreveu
sobre o texto de Plínio Marcos que conta a história desse casal de classe média
baixa, morando provavelmente na periferia de São Paulo. Ele, desempregado,
revoltado e pessimista em relação ao futuro e ela, dona de casa que costura
para fora e sempre otimista e crente em Deus. O toque de humor,
estrategicamente introduzido pelo dramaturgo, é o fanatismo dele pelo
Corinthians e a paixão dela pelas rádios novelas, chegando às lágrimas quando o
Eduardo da novela resolve partir para a Legião Estrangeira. Os poucos altos e muitos
baixos da vida desse casal mudam de direção quando Nina engravida.
Kiko Rieser realiza
uma direção limpa, sem nenhum floreio, enfatizando a interpretação do casal e
sua movimentação no cenário também bastante realista de Kleber Montanheiro e
Thaís Boneville (um apartamento simples com adereços totalmente de acordo com
os hábitos, gostos e possibilidades das personagens). A movimentação da câmera e
os closes, ora de Nina, ora de Zé, são também ponto alto da encenação,
mostrando que é possível o teatro dialogar com a câmera nestes tempos de áudio visuais.
A maioria dos filmes
neo realistas italianos eram interpretados por atores não profissionais, com a
intenção de dar maior veracidade às histórias contadas e escrevo, da maneira
mais elogiosa possível, que esses excelentes profissionais Larissa Ferrara e
André Kirmayr dão toda a veracidade à Nina e ao Zé, sem nenhum artifício que às
vezes o profissionalismo traz. Suas interpretações emocionam, mas também fazem
o espectador refletir sobre a dura realidade brasileira.
Quando as Máquinas Param é um belo trabalho e bastante necessário para os dias atuais. NÃO DEIXE DE VER.
Em cartaz até 20/04 às
segundas e terças às 20h. Gratuito.
Link de transmissão:
https://www.youtube.com/CentroCulturalSãoPauloCCSP
14/04/2021
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