Carolina Virgüez já
demonstrou seu “fôlego” e enorme talento na antológica cena de Caranguejo
Overdrive onde ela, como uma prostituta paraguaia do mangue, conta em
velocidade vertiginosa a história da política brasileira para um homem
esfomeado.
Pois a atriz consegue
se superar na peça Não Eu (Not I) que faz parte do espetáculo Vozes
do Silêncio com três peças curtas de Samuel Beckett (1906-1989). Não Eu
é um monólogo que, de acordo com o autor, deve mostrar apenas a boca da
intérprete. Concebida para o teatro, a peça ganha destaque especial com o close
permitido pela linguagem audiovisual. A interpretação de Carolina é
hipnotizante e seus quase uivos ao questionar “O QUÊ?” vão permanecer na memória
do espectador por muito tempo.
Uma velha mulher está
sentada em uma cadeira de balanço movendo-se continuamente enquanto se ouve sua
voz gravada; pêndulos marcam o ritmo da cena. Esta é a peça Cadência (Rockaby),
segunda do “filmeNãofilme”, conforme o grupo batizou o espetáculo.
Passos (Footfalls),
terceira e última peça, mostra uma filha caminhando continuamente com nove
passos para a direita e nove passos para a esquerda enquanto sua mãe lhe dirige
a palavra. Concebida para duas atrizes, neste caso Carolina interpreta as duas
mulheres.
Segundo a direção, as
três peças revelam existências femininas marcadas pela repetição dos hábitos e
eu acrescentaria que esses hábitos são sombrios e bastante depressivos, muito
de acordo com o clima mostrado na maioria das peças do dramaturgo irlandês.
O espetáculo termina
com a boca da primeira cena dando voz a Marielle Franco, dando o toque político
ao espetáculo.
Gravado em belíssimo
preto e branco o filmeNãofilme tem direção segura e cenografia de Fábio
Ferreira, criando clima propício para o universo beckettiano; para tanto é
importante mencionar a iluminação de Renato Machado, o visagismo de Cleber de
Oliveira e a instigante trilha sonora de Felipe Storino. Tudo isso coroado com
a presença luminosa de Carolina Virgüez.
Vozes do Silêncio não é um espetáculo fácil, mas importantíssimo para se tentar entender um pouco mais os meandros da alma humana.
Temporada de 02 a 25 de abril, de sexta a domingo às 19h. Ingressos gratuitos pelo Sympla.
03/04/2021
Foi uma honra fotografar e montar esse filme. O talento da equipe e a densidade do texto de Beckett foi um presente. E grande o desafio de transitar entre as linguagens do Teatro e do Cinema.
ResponderExcluirQuero muito ver Carol,seu talento, sua arte! beijos e sucesso!
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