sábado, 3 de abril de 2021

VOZES DO SILÊNCIO

 

Carolina Virgüez já demonstrou seu “fôlego” e enorme talento na antológica cena de Caranguejo Overdrive onde ela, como uma prostituta paraguaia do mangue, conta em velocidade vertiginosa a história da política brasileira para um homem esfomeado.

Pois a atriz consegue se superar na peça Não Eu (Not I) que faz parte do espetáculo Vozes do Silêncio com três peças curtas de Samuel Beckett (1906-1989). Não Eu é um monólogo que, de acordo com o autor, deve mostrar apenas a boca da intérprete. Concebida para o teatro, a peça ganha destaque especial com o close permitido pela linguagem audiovisual. A interpretação de Carolina é hipnotizante e seus quase uivos ao questionar “O QUÊ?” vão permanecer na memória do espectador por muito tempo.

Uma velha mulher está sentada em uma cadeira de balanço movendo-se continuamente enquanto se ouve sua voz gravada; pêndulos marcam o ritmo da cena. Esta é a peça Cadência (Rockaby), segunda do “filmeNãofilme”, conforme o grupo batizou o espetáculo.

Passos (Footfalls), terceira e última peça, mostra uma filha caminhando continuamente com nove passos para a direita e nove passos para a esquerda enquanto sua mãe lhe dirige a palavra. Concebida para duas atrizes, neste caso Carolina interpreta as duas mulheres.

Segundo a direção, as três peças revelam existências femininas marcadas pela repetição dos hábitos e eu acrescentaria que esses hábitos são sombrios e bastante depressivos, muito de acordo com o clima mostrado na maioria das peças do dramaturgo irlandês.

O espetáculo termina com a boca da primeira cena dando voz a Marielle Franco, dando o toque político ao espetáculo.

Gravado em belíssimo preto e branco o filmeNãofilme tem direção segura e cenografia de Fábio Ferreira, criando clima propício para o universo beckettiano; para tanto é importante mencionar a iluminação de Renato Machado, o visagismo de Cleber de Oliveira e a instigante trilha sonora de Felipe Storino. Tudo isso coroado com a presença luminosa de Carolina Virgüez.

Vozes do Silêncio não é um espetáculo fácil, mas importantíssimo para se tentar entender um pouco mais os meandros da alma humana. 

Temporada de 02 a 25 de abril, de sexta a domingo às 19h. Ingressos gratuitos pelo Sympla. 

03/04/2021

 

2 comentários:

  1. Foi uma honra fotografar e montar esse filme. O talento da equipe e a densidade do texto de Beckett foi um presente. E grande o desafio de transitar entre as linguagens do Teatro e do Cinema.

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  2. Quero muito ver Carol,seu talento, sua arte! beijos e sucesso!

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