Junto com A
Falecida, Toda Nudez Será Castigada é, no meu ponto de vista, uma
das peças melhor elaboradas dramaturgicamente por Nelson Rodrigues com diálogos
fluentes e brilhantes, tendo personagens envolventes como Geni, Patrício,
Herculano e Serginho, além das três memoráveis tias. Some-se a isso, a novidade
na época de iniciar a peça pelo fim da história e a revelação bombástica no
último minuto. Coisas do gênio do nosso grande dramaturgo.
Por todas essas
razões vejo como pertinente a escolha dessa peça para abrir o Primeiro
Festival da Tragédia Brasileira concebido pela Cia. Repertório
Rodriguiana, dirigida por Marco Antonio Braz.
Muitas Genis já
passaram pela minha vida: a primeira foi Darlene Glória e sua exuberante
performance no filme de Arnaldo Jabor (1973). No teatro, a primeira Geni foi
para mim, a vigorosa Marlene Fortuna nas encenações de Antunes Filho (1981 e
1984). Seguiu-se uma das mais humanas Genis a que assisti em um palco (Ceres
Vittori – 1986- com o Grupo Delta de Londrina, dirigida por Antônio
Teodoro). Vieram depois Marília Pêra – 1998 - (infelizmente em uma encenação
equivocada de Moacyr Góes), Leona Cavalli – 2000 - (ótima, dirigida por Cibele
Forjaz), Patrícia Selonk – 2006 - (direção de Paulo de Moraes) e Ondina Clais
Castilho – 2012 – (em nova visita de Antunes Filho à peça). É importante notar
que uma das grandes lacunas da minha vida de espectador é não ter assistido a
grande Cleyde Yáconis, criadora da Geni em 1965 no Rio de Janeiro, dirigida por
Ziembinski.
Agora chegou a vez de
Antoniela Canto que mesmo com a limitação de uma leitura dramática realizada
individualmente (cada intérprete fez a leitura de sua residência, em função do
isolamento social), deu vida apaixonada a essa emblemática personagem de Nelson
Rodrigues.
O elenco é o ponto
mais forte dessa bem-vinda leitura. Braz, dando ênfase à definição do autor
(uma obsessão em três atos), imprimiu às interpretações características
grandiloquentes e melodramáticas. Não há como não destacar, além de Antoniela
Canto, o cafajeste Patrício de Silvio Restiffe, a Tia Nº 1 de Miriam Mehler e o
Serginho do ótimo Leonardo Silva, que também
lê as rubricas do primeiro ato.
Um grande achado
deste trabalho é que a leitura das rubricas não é realizada de forma neutra,
como geralmente acontece, mas interpretada de acordo com os fatos da história,
além de comentarem e criticarem a ação (principalmente aquelas feitas por Braz
nos segundo e terceiro atos). Testemunhamos assim, por meio da leitura das
rubricas, a introdução do “efeito de distanciamento” no teatro de Nelson
Rodrigues. Quem diria!
O
Festival está apenas começando havendo ainda leituras de Viúva, Porém
Honesta, Perdoa-me Por Me Traíres, Álbum de Família, A Serpente e de
dois contos inéditos A Sogra Peluda e Obsessão Preta.
Como a companhia
pretende montar a obra completa de Nelson Rodrigues, provavelmente, outros
festivais virão.
Muito
bem vinda essa iniciativa da Cia. Repertório Rodriguiana com o objetivo,
segundo o grupo, que a difusão da obra de Nelson Rodrigues funciona “como
vacina contra o vírus da ignorância, da estupidez e ao autoritarismo que nos
cercam”
Totalmente de acordo!
13/04/2021
Programação:
TODA NUDEZ
SERÁ CASTIGADA
DIAS 12,13,14 DE ABRIL
EM DOIS HORÁRIOS: 15H ÀS 18H e 19H ÀS 22H
VIÚVA,
PORÉM HONESTA
DIAS 15,16,17 DE ABRIL
EM DOIS HORÁRIOS: 15H ÀS 18H e 19H ÀS 22H
PRIMEIRO
FESTIVAL DA TRAGÉDIA BRASILEIRA
· PERDOA-ME POR ME TRAÍRES
· ÁLBUM DE FAMÍLIA
· A SERPENTE
· O NELSON QUE QUASE NINGUÉM
LEU: A SOGRA PELUDA e OBSESSÃO PRETA
DO DIA 18 AO DIA
24 DE ABRIL, DISPONÍVEL 24H PARA VISUALIZAÇÃO.
DIA 26 DE ABRIL DAS 22H ÀS 00H - “Psicanálise de Botequim” com Ruy Castro (Convidado
do mês)
DIA 27 DE ABRIL
DAS 22H ÀS 00H – Aula magna com Braz
ONDE?
NO CANAL DO YOUTUBE OFICIAL DA CIA:
https://linktr.ee/CiaRepertorioRodriguiana
*Os vídeos só estarão disponíveis no
Youtube nos dias e horários acima citados.
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 ANOS
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