segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

MAIS UMA VEZ VAMOS FALAR DE CAIS

     É incrível a potência desse espetáculo da Velha Companhia. Trata-se de um verdadeiro fenômeno nunca igualado por nenhum outro espetáculo nesses 60 anos que eu acompanho o teatro brasileiro.

     Estreou sem grande alarde em outubro de 2012 no Instituto Capobianco, eram 35 espectadores para 14 artistas em cena (12 intérpretes e dois músicos). Os 35 corações presentes em cada sessão pulsavam mais forte ao final e tornavam-se transmissores da beleza da peça, criando o conhecido boca a boca que lotou todas as sessões apresentadas.


     Os prêmios APCA e Shell vieram coroar a trajetória da peça que circulou por vários palcos paulistanos, pelo Festival de Curitiba e pelo Rio de Janeiro sempre com casa cheias durante sete anos (as últimas apresentações aconteceram em maio de 2018 no SESC Pompeia).

     Este espectador apaixonou-se de tal maneira pelo espetáculo que o assistiu 14 vezes, viajando para Curitiba e para o Rio de Janeiro para vê-lo em outras praças. 

     A peça criou uma legião de fãs e a pergunta que surgia não era “Você viu CAIS?”, mas “Quantas vezes você viu CAIS”? 

     Havia uma disputa gostosa entre mim e meu querido e saudoso amigo Carlos Colabone sobre quem viu mais vezes CAIS. Ao final ele ficou com 15 e eu com 14. A empatia com o grupo era tão bonita e espontânea que Carlos levava vinho do Porto e eu bolo de pão de queijo para festejar com eles ao final do espetáculo.

     Outra coisa inacreditável é que a peça é remontada 13 anos depois com praticamente o elenco original. As exceções foram a entrada de Roberto Borenstein como o barco Sargento Evilásio devido à doença e morte do querido Walter Portella, a substituição de Maristela Chelala por Tatiana de Marca ainda no início da primeira temporada e a saída do músico Umanto, criador da belíssima trilha sonora executada ao vivo agora por Tadeu Mallaman e Bruno Menegatti.

     Eu escrevi e repito que Kiko Marques escreveu a primeira obra prima teatral do século XXI e ela está de volta para apenas oito apresentações gratuitas no TUSP Butantã, a partir de 07 de fevereiro.


     Meu coração está se preparando para: 

     - Reencontrar Magnólia, Bonifácio, Berenice, Waldeci, Walcimar, Walciano, Andreia Polaca, Cachorrinho, Juciara, Nilmar, Barco Sargento Evilásio e a adorável Poita Rosiméri no palco e 

     - Abraçar as queridas/os queridos Virginia Buckowski, Maurício de Barros, Alejandra Sampaio, Kiko Marques, Marcelo Laham, Marco Aurélio Campos, Tatiana de Marca, Marcelo Diaz, Patrícia Gordo, Marcelo Marothy, Roberto Borenstein e a tão adorável como sua personagem, Rose de Oliveira ao final da jornada.

ESSE É O TEATRO BRASILEIRO EM QUE EU ACREDITO.

OBRIGADO KIKO MARQUES E A VELHA COMPANHIA.

27/01/2025


domingo, 26 de janeiro de 2025

FURACÃO


Southern trees bear strange fruit

Blood on the leaves and blood at the root

Black bodies swinging in the southern breeze

Strangefruit hanging from the poplar trees

[Strange S Fruits por Abel Meeropol (Lewis Allan)]

     Ana Teixeira e Stephane Brodt não vêm muito a São Paulo com o seu grupo AMOK TEATRO. Neste século compareceram apenas quatro vezes com os memoráveis “O Carrasco” (2002), “Savina” (2007), “Salina- A Última Vértebra” (2016) e “Os Cadernos de Kindzu” 2018). Espetáculos de caráter épico/étnico/político com grande elenco que deslumbraram os espectadores que tiveram a oportunidade de assisti-los.

     Desta vez estão de volta com FURACÂO, texto potente em sua denúncia do preconceito racial, do mesmo autor (Laurent Gaudé) de “Salina” que tratava do universo cigano; desta vez Gaudé voltou-se para o sul dos Estados Unidos durante a passagem do furacão Katrina que devastou muitas cidades do sul do país em 2005.

     Uma senhora centenária de nome Josephine Link Steelson denuncia todo o horror da perseguição aos negros enquanto orienta e acolhe seus parentes indefesos durante a passagem do furacão.

     Trata-se de um espetáculo pequeno (só no tamanho!) em relação às outras montagens de Teixeira e Brodt, mas grandioso em sua denúncia e na intepretação impressionante de Sirlea Aleixo que desfila o texto durante pouco mais de uma hora mantendo uma postura corporal admirável, ela só é interrompida pela cuidadosa trilha sonora que comenta a ação e é interpretada por sua filha, Taty Aleixo (voz belíssima), acompanhada por Rudá Brauns e Anderson Ribeiro.

     As crescentes comoção e indignação que o espetáculo provoca atingem seu auge quando ao final Taty interpreta a icônica canção “Strange Fruits”, talvez o mais contundente libelo contra os horrores sofridos pelos negros no sul dos Estados Unidos: as estranhas frutas são os corpos dos negros pendurados nas árvores após terem sido espancados e mortos. A canção é dos anos de 1930, mas o preconceito racial ainda é uma realidade a ser combatida. Quem não conhece a canção procure ouvi-la na interpretação comovente de Billie Holiday.

Aqui está a fruta para os corvos arrancarem

Para a chuva recolher, para o vento sugar 

Para o sol apodrecer, para as árvores derrubarem

Aqui está a estranha e amarga colheita 


     FURACÃO está em cartaz no SESC Santana até 16/02 de quinta

 a sábado às 20h e aos domingos às 18h.

IMPERDÍVEL

26/01/2025




sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

FINLÂNDIA

 

Foto de José de Holanda

     Farpas versus farpas. Uma batalha de palavras agressivas entre um casal em crise no relacionamento. Esse parece ser um assunto caro para o dramaturgo francês Pascal Rambert (1962-) do qual já vimos “Término do Amor” em 2016 com Carol Fabri e Gabriel Miziara, dirigidos por Janaína Suaudeau, que era formada por dois longos monólogos onde as personagens não se relacionavam em cena.

     De maneira menos radical, Rambert repete em “Finlândia” a estrutura da peça anterior dando a cada personagem longas falas enquanto a outra só escuta, reagindo com expressões faciais, técnica caríssima, diga-se de passagem, a Ariane Mnouchkine. Os diálogos em cena são raros.

     Uma peça com essa estrutura necessita de profissionais qualificados ao traduzi-la cenicamente. Pedro Granato, com a ajuda da cenografia de Marisa Bentivegna cria um ambiente claustrofóbico, confinando o casal em um quarto de hotel na Finlândia, onde o frio lá fora, não combina com o calor da briga de dentro. De resto, Granato foca toda a sua atenção nos intérpretes.

     Jiddu Pinheiro revela maturidade ao interpretar o homem da relação. Um ser machista que procura mostrar domínio da situação, mas que revela toda sua fragilidade ao longo da ação.

     O personagem de Paula Cohen atende por Paula e proporciona a essa atriz uma interpretação exuberante e arrebatadora. As reações mudas de Paula às investidas de Jiddu, são o que a encenação tem de melhor, haja vista a primeira cena da peça onde ela, na cama, reage silenciosamente ao longo solo acusatório do homem, remexendo travesseiros e edredons. Uma interpretação poderosa que já pode ser incluída entre as melhores de um ano que está só começando.

     “Finlândia” é um espetáculo tenso onde uma ou várias das causas do conflito do casal podem se identificar com aquelas que espectador tem ou já teve em seus relacionamentos. Ninguém sai indiferente do teatro.

     Há uma terceira personagem que aparece ao final da peça que é a filha do casal. Interpretada com sensibilidade pela jovem Turi, a menina colabora para o desfecho da ação.

     Não precisa ser a Finlândia; qualquer geografia do nosso planeta abriga relacionamentos cuja toxicidade só depende dos maus instintos do ser humano que está cada vez mais difícil de se relacionar com o outro, por isso “Finlândia” é uma obra importantíssima para que se reflexione sobre aquilo que ela apresenta.

     NÂO DEIXE DE VER!


     FINLÂNDIA está em cartaz no Teatro Vivo apenas às quartas e quintas às 20h.


24/01/2025


domingo, 19 de janeiro de 2025

O JARDIM DAS CEREJEIRAS


A COMPANHIA DA MEMÒRIA REVISITA TCHEKHOV



     Muitas Liubas já passaram pelos olhos deste espectador apaixonado, todas interpretadas por grandes atrizes: Cleyde Yáconis (1982), Nathália Timberg (1990), Carolina Fabri (2014) e Clara Carvalho (2019). Agora chegou a vez de Sandra Corveloni vestir o lindo figurino de Fabio Namatame para interpretar a icônica personagem de Anton Tchekhov sob a direção inspirada de Ruy Cortez.

     A peça está em cartaz no mesmo palco onde foi encenada em 1982 sob a direção de Jorge Takla.

     Em um cenário audacioso assinado por André Cortez ergue-se uma passarela que rasga a plateia do Anchieta até metade da mesma. Cerejeiras são representadas por balões de ar que cobrem todo o espaço. É uma pena que ao final esses balões/cerejeiras não possam vir abaixo. Se fosse uma produção da Ruth Escobar, ela iria dar um jeito de realizar a derrubada.

A peça se passa na residência de Liuba e o espaço cênico é formado por um tablado e a passarela que dá acesso ao jardim das cerejeiras. Na concepção dos dois Cortez (Ruy e André) parte do público se acomoda no palco ladeando o tablado.

     Representada na íntegra assim como Tchekhov a concebeu é uma rara oportunidade de ver toda a beleza dessa última obra do dramaturgo russo, uma vez que na maioria das vezes é representado o texto da versão reduzida encenada por Stanislavski.

     Há uma perfeita comunhão entre as cores dos magníficos figurinos assinados por Fabio Namatame e a iluminação de Wagner Antônio provocando um grande prazer estético no espectador.

     O elenco completa a excelência dessa encenação: João Vasco que já foi notado em “A Semente da Romã” faz o estudante Pétia com muita segurança; Walter Breda encarrega-se de Píschik provocando saudáveis momentos de humor no público; Mario Borges empresta sua categoria e seu porte para Gáiev, irmão de Liuba; há um Firs, lacaio ancião (José Rubens Siqueira) e uma criativa (por parte do diretor) réplica sua (Luiz Amorim); Daniel Warren (Epikhódov) brilha todas as vezes que entra em cena; Lopakhine é interpretado com certo exagero por Caio Juliano e como não vibrar com a entrada exuberante de Clodd Dias como a chefa da estação? Beatriz Napoleão e Gabrielle Loes interpretam Ania e Vária as filhas de Liuba e Ana Hartmann é Duniacha. Conrado Costa e Felipe Samorano completam o elenco.

     A entrada triunfal de Liuba no início da peça já revela que irá se presenciar mais uma marcante interpretação de Sandra Corveloni. A atriz dosa de maneira brilhante as alegrias e as tristezas dessa grande personagem do teatro ocidental.

     Charlotta é uma personagem por vezes negligenciada e até abolida de muitas encenações, Ruy Cortez, ao contrário, coloca holofotes na figura, propiciando uma atuação memorável a Ondina Clais que chega a fazer surpreendentes truques de mágica em cena.

     O Jardim de Cerejeiras é uma grande produção com elenco de quinze intérpretes e cenário e figurinos majestosos. Nada disso valeria se não contivesse uma grande mensagem de humanidade.


     O JARDIM DAS CEREJEIRAS está em cartaz no Teatro Anchieta até 02/03 com sessões às sextas e sábados às 20h e aos domingos e feriados às 18h

     Sessões extras: Quintas: 06 e 13/02 às 15h e 27/02 às 20h

     ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!

     19/01/2025




sábado, 18 de janeiro de 2025

UM GRITO PARADO NO AR ou HOMENAGEM À GERAÇÃO ARENA

 

     Assisti a “Um Grito Parado no Ar” em 1973 no Aliança Francesa, dirigido pelo Fernando Peixoto. Othon Bastos dava um show como o ator Augusto, o saudoso Ênio Carvalho era o diretor Fernando, Oswaldo Campozano fazia Euzébio e o elenco feminino era formado por Martha Overbeck (Amanda), Liana Duval (Flora) e Sonia Loureiro (Nara). O grupo Arena já não existia há alguns anos, mas a chama desse grupo ainda estava presente no autor Gianfrancesco Guarnieri e as farpas contra a ditadura militar, tão presente naqueles anos sombrios, eram ainda bem afiadas.

     51 anos se passaram e muita água passou debaixo da ponte que sustenta o Brasil e muito consciente dos problemas atuais, Rogério Tarifa revisita esta obra de Guarnieri fazendo um exercício de meta teatro muito interessante no prólogo onde ele se coloca na pele de Guarnieri recebendo as figuras do Teatro Arena e entre elas o elenco da peça que vai ser apresentada, são pessoas do presente interpretando Othon/Augusto (Guilherme Carrasco), Ênio/Fernando (Rubens Consolini), Campozano/Euzébio (Oswaldo Ribeiro Acalêo, bem-vinda presença egressa do TUOV),  Martha/Amanda (Isadora Titto, forte presença cênica), Sonia/Nara (Maria Loverra) e destaque para a presença luminosa de Dulce Muniz como Liana/Flora, que também presta uma homenagem a Heleny Guariba, diretora teatral e militante, desaparecida nas masmorras da ditadura.

     A seguir é apresentada a peça permeada por depoimentos de integrantes de um coro formado por intérpretes não profissionais de teatro. A escolha feita por Tarifa de cada um desses integrantes poderia compor uma aula de sociologia e seus depoimentos versam sobre preconceito de gênero, prostituição, educação, movimentos estudantis, situação do operariado, entre outros. Desta maneira a peça de Guarnieri se abre sobre um leque de problemas sócio-políticos que insistem em ainda fazer parte da nossa realidade.

     Destaque também para as canções originais de Jonathan Silva com direção musical de William Guedes.

     Iluminação primorosa de Marisa Bentivegna.

     A peça acontece tendo como pano de fundo um telão onde aparecem cenas da montagem de 1973 e termina com uma emocionante homenagem a Guarnieri e ao teatro brasileiro.

     Fui agraciado publicamente por Rogerio Tarifa com um poster da peça com imagem feita pelo saudoso Elifas Andreato.


     HAJA CORAÇÃO PARA TANTA EMOÇÃO!

     UM GRITO PARADO NO AR está em cartaz no SESC Bom Retiro até 16/02, sextas e sábados às 19h30, domingos e feriados às 18h.

     Quem ama e/ou faz teatro não pode perder.

     18/01/2025


sábado, 11 de janeiro de 2025

O QUE A NOVIÇA REBELDE TEM A VER COM O PRÍNCIPE NICO?


     Anos 1965/1966. Anos sombrios da ditadura militar. Surgiu na época o que se convencionou chamar de esquerda festiva que considerava alienante e pequeno burguês tudo o que não fosse engajado. Atitude radical não compartilhada por muita gente da própria esquerda.

     Foi nesse clima que estreou em São Paulo o filme “A Noviça Rebelde” (The Sound of Music) de 1965. Estreou com muita pompa no Cine Rivoli, cinema de luxo na época, situado na Avenida São João entre a Rua Dom José de Barros e a Avenida Ipiranga. O filme vinha de um grande sucesso internacional e tinha sido o grande vencedor do Oscar e estava lotando o Rivoli.

     Eu estava no segundo ano da faculdade e começava a me politizar e a tomar consciência do mal que o regime militar estava fazendo para o país. Acompanhando os companheiros da esquerda festiva torci o nariz para o filme rotulando-o, sem assistir, de infantilóide e pequeno burguês.

     Por insistência de amigas e amigos lhes acompanhei para assistir ao filme. Entre eles estava o Nico, uma pessoa muito legal, educada e fina, tipo do rapaz que toda mãe gostaria que fosse o namorado de sua filha. Pelos seus bons modos passamos a chamar-lhe de Príncipe, mas logo veio um amigo de onça que fez a junção Príncipe Nico, que Nico levou na esportiva.

     Entramos no cinema e ali já era outro mundo. Ao som das belíssimas músicas de Rodgers e Hammerstein, a imensa tela começou a mostrar os Alpes e a majestosa paisagem de Salzburg. E como não se encantar dom a deliciosa figura de Julie Andrews surgindo de uma colina cantando “The Sound of Music”? A partir daí foi só emoção com as crianças, as dúvidas da noviça e até um toque político com a ascensão do nazismo na parte final do filme, Saímos do cinema deslumbrados com todo aquele colorido. Era um sábado cinzento e garoento e a saída do cinema mostrava uma Avenida São João suja, cenário de um Brasil também muito sujo. Aqui a figura do Príncipe entra de novo na história porque ele foi o primeiro a comentar o baque de ver a nossa realidade depois de assistir a tanta beleza na tela.

     Isso me trouxe de novo a essa  realidade voltando a questionar o filme e a rotulá-lo de alienado e desnecessário para nós. Pura reação de um esquerdista festivo!!

     Passaram os anos e acabei descobrindo que o alienado era eu! Posso ter minhas convicções políticas, mas isso não impede que eu alimente minha alma com uma boa música que não fale política, com comédias leves e inteligentes e com musicais que em geral são apolíticos.


     Tudo isso porque há alguns dias, assisti a “A Noviça Rebelde” em casa pela enésima vez, voltando a me emocionar e me encantar, agora sem culpa!

     E é claro que toda vez que assisto a esse filme eu lembro do meu amigo Príncipe Nico, que nunca mais eu vi. 

11/01/2025


sábado, 4 de janeiro de 2025

A ÚLTIMA SESSÃO NO CINESESC

     Conhecendo o tema do filme indiano “A Última Sessão”, o meu lado pesquisador foi atrás do que minha memória trouxe de tantos filmes que tratavam de assunto parecido: o cinema.

     O primeiro que me veio à mente foi “A Última Sessão de Cinema” (1971), o nostálgico filme de Peter Bogdanovich em branco e preto sobre o fechamento do único cinema de uma pequena cidade.


     Giuseppe Tornatore foi o diretor do mais queridinho do público que foi “Cinema Paradiso” (1988). Philippe Noiret e o garoto Salvatore Cascio garantiam a emoção e a empatia com o público.

     No ano seguinte Ettore Scola realizou aquele que para mim é o melhor filme sobre o assunto: “Splendor” (1989) com Marcelo Mastroainni, Massimo Troisi e Marina Vlady, sobre um homem dono de um cinema ao qual o público não vai mais por conta das modernidades surgidas (e pensar que o filme ainda não levava em conta as modernidades da informática que estavam apenas começando). Filme pouco conhecido que vale a pena ser descoberto.

     E há um documentário brasileiro menos conhecido ainda, que é “Cine São Paulo” (2017) de Felipe Tomazelli e Ricardo Martensen que trata da reforma que o cidadão Francisco Teles realizou para modernizar um antigo cinema da cidade de Dois Córregos. Aqui a nostalgia dos três filmes anteriores transforma-se em esperança: a cidade ganha de volta o seu cinema.

     Foi assim que me dirigi ao charmoso CineSESC para assistir ao filme de Pan Nalin (1965-). Para começar não concordo com o apelo comercial de chamar o filme de “Cinema Paradiso indiano”. A única semelhança com o filme de Tornatore é que se trata da visão de uma criança, mas o desenvolvimento do filme de Nalin segue por outros caminhos mostrando a decadência do celulóide e das técnicas de projeção até então utilizadas, mostrando também como a modernidade influiu nos usos e costumes para o bem e para o mal. A visão de uma Índia rural é outro dos atrativos do filme. 

     Mal comparando “A Última Sessão” está mais para “Splendor” e “Cine São Paulo” do que para “Cinema Paradiso”, este último só emociona, enquanto os outros também fazem pensar.

     O Cine SESC realiza anualmente a mostra AMOR AO CINEMA. Um ciclo mostrando esses filmes que falam de cinema (deve haver muitos outros) seria muito interessante. Fica a sugestão para a querida Simone Yunes e seu adjunto Rodrigo que acabei de conhecer na última semana, aos quais desejo muito sucesso na administração/programação desse tesouro que é o CineSESC.

     A ÚLTIMA SESSÂO está em cartaz com exclusividade no Cine SESC em sessão única às 20h. 

     IMPERDÍVEL. 


04/01/2025