Soluções
impactantes como a que Ira Levin (1929-2007) apresenta no final do primeiro ato
desta peça estreada na Broadway em 1978 surgiram muito antes tanto no teatro,
como, principalmente, no cinema com As
Diabólicas (1955) e Com a Maldade na Alma
(1964). A real originalidade do texto de Levin está em fazer uma peça dentro da
peça, um engenhoso exercício de metalinguagem, onde o espectador presencia as
personagens escrevendo a peça a que ele está assistindo. A peça tem uma
rigorosa divisão em dois atos com três cenas em cada ato e é uma pena que na
atual montagem não se faça um intervalo entre os atos, fato que reforçaria a
ideia do autor.
Capa do programa da montagem da Broadway (1978), cuja ilustração também foi usada na capa do programa da montagem brasileira (1979)
A
peça foi montada em São Paulo em 1979 com direção de Jorge Takla, tendo Walmor
Chagas e Paulo Castelli nos papéis principais e virou filme dirigido por Sidney
Lumet em 1982. Depois de tantos anos conserva o sabor do suspense e das
surpresas provocadas pelas reviravoltas na trama.
A
montagem de estreia da Cia. Goya, apesar da produção modesta, tem resultado
bastante satisfatório. A direção de Susanne Walker mantém desde as primeiras
cenas, o clima de suspense exigido pelo texto e propõe uma interpretação
naturalista para os atores.
A
tradução do texto realizada por Jorge Minicelli acertadamente optou por diálogos
coloquiais, mas ao meu modo de ver errou ao abrasileirar o nome das
personagens, fato este que cria certo distanciamento, pois a ação da peça está
longe de caráter brasileiro. A versão apresentada eliminou a figura do agente
do dramaturgo Porter Milgrim concentrando o desfecho em apenas uma personagem,
que não vou ser desmancha prazer e revelar quem é!
Jorge
Minicelli tem ótima presença cênica e compõe com elegância a personagem do
frustrado dramaturgo Sidney; André Magalhães lhe é um ótimo contraponto e
realiza com leveza as nuances da sua personagem (César, o dramaturgo jovem).
Marília Persoli talvez exagere nos gestos de jovem sofisticada, mas desempenha
a contento a esposa de Sidney. A personagem de Helga requer uma tônica não
naturalista e ela é também responsável pelos momentos cômicos da ação. Lu
Grillo, com figurinos que reforçam o não naturalismo, faz uma interpretação
caricatural que destoa da montagem como um todo; além disso, em certos momentos
ela esquece o sotaque espanhol requerido pela personagem. O melhor momento da
atriz acontece na surpreendente cena 3 do 2º ato.
A
trilha sonora, item fundamental num espetáculo de suspense, revelou-se
repetitiva e muito alta, tendo em certos momentos encoberto a fala dos atores.
Talvez
por se tratar da noite de reestreia, a iluminação teve alguns problemas,
piscando durante toda a apresentação.
Armadilha é ótimo entretenimento. “Altamente
comercial”, como é afirmado várias vezes durante a representação. E o
“comercial” neste caso não tem sentido pejorativo, mas indica que é um
espetáculo que pode agradar dignamente a largo espectro de publico.
Armadilha
está em cartaz num amplo teatro no bairro da Vila Mariana com mais de 400
lugares e merece ter esses lugares totalmente ocupados durante toda a
temporada.
De
20/02 a 29/03 no Teatro João Caetano. Sextas e sábados às 21h e domingos às
19h. Ingressos: R$10,00 (meia: R$5,00).
21/02/2015