Em boa hora, em 2025, nossas artes voltam a se exprimir para denunciar os desmandos da ditadura militar que dominou o país por mais de 20 anos e para alertar sobre os perigos da ascensão da extrema direita e do bolsonarismo que estão rondando por aí querendo a volta da ditadura.
No cinema foi a vez de “Ainda Estou Aqui”. No teatro já vimos “O Ninho” de Newton Moreno, “Verme” de Luiz Campos, “O Sonho Americano” de Luiz Carlos Checchia e em maio teremos a estreia de “Lady Tempestade” de Silvia Gomez inspirado nos diários de Mércia Albuquerque, professora primária e advogada pernambucana que lutou contra a ditadura, auxiliando presos políticos e denunciando a famigerada tortura que corria solta nos porões militares.
Esses espetáculos dignificam o ser humano, sendo libelos contra a barbárie.
Se eles forem capazes de abrir os olhos de uma parte da população que ainda chama aquele ser abominável de mito, estarão cumprindo com honra e coragem o seu papel na história deste país.
Sobre “O Ninho” e “Verme” já escrevi a respeito, “O Sonho Americano” está em cartaz no aconchegante Teatro Studio Heleny Guariba, conservado há tantos anos pela guerreira Dulce Muniz.
Escrito e dirigido por Luiz Carlos Checchia, “O Sonho Americano” mostra os estragos que a ditadura provocou no seio de uma família unida e aparentemente feliz: um sobrinho muito querido pede abrigo da casa da tia e da prima e revela que corre perigo porque participou da luta armada (a ação se passa nos terríveis anos 1970). A prima que ganhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, vê seu sonho americano ameaçado pela presença do primo e acaba o denunciando para os órgãos da repressão.
A peça de Checchia tem um início brilhante com diálogos ágeis bem construídos entre a tia, o sobrinho e a prima. Na segunda parte os agentes da repressão vêm até a casa e expõem suas truculências até a exaustão alongando desnecessariamente a peça, pois o público já percebeu as figuras odiosas que eles são. Em uma espécie de epílogo há ainda uma confissão melodramática da mãe para a filha.
Um elenco coeso interpreta de forma naturalista as cinco personagens da peça: Cristina Bordin interpreta com muita garra a mãe/tia que tem uma posição definida em relação à política; Camila Costa Melo é a filha/prima e apesar de exagerar nas expressões faciais tem um bom desempenho exteriorizando suas dúvidas em relação à posição tomada (a delação); Gabriel Santana é o primo Bento, pivô de toda a trama e o faz com muito talento, além de ser uma bela presença em cena; Rubem Pignatari tem garra ao interpretar o truculento agente da repressão e Flávio Passos é um investigador gago que usa métodos mais científicos para lidar com suas vítimas.
O cenário da peça é a sala da casa coberta de molduras com fundo preto que podem representar o luto ou a tentativa de esconder o passado.
No meu ponto de vista um corte de alguns minutos na cena dos repressores faria muito bem para o resultado final.
Vamos relembrar o passado e lutar para que suas coisas más não se repitam! LEMBRAR É RESISTIR!
O SONHO AMERICANO está em cartaz no Teatro Studio Heleny Guariba até 390 de março aos sábados às 20h e aos domingos às 19h.
10/03/2025