Coincidência ou não seis dos bons espetáculos que
estiveram em cartaz na cidade neste atraente segundo semestre tratam do assunto
teatro. São eles:
- Eu Não Dava
Praquilo – Homenagem à grande Myrian Muniz com relatos sobre sua vida e
seus trabalhos no teatro.
- Azul Resplendor
– Peça peruana que mostra os bastidores dos ensaios de uma peça onde uma
veterana atriz fará sua volta aos palcos.
- Jacinta – A deliciosa
peça de Newton Moreno conta os percalços da pior atriz do mundo em busca dos
aplausos.
- Cacilda!!! –
Terceira investida do Teatro Oficina na vida e na obra da grande Cacilda
Becker.
- Os Gigantes da
Montanha – A bela montagem desta peça inacabada de Pirandello pelo Grupo
Galpão mostra uma companhia decadente de teatro e os limites entre realidade e
ficção.
- A Madrinha
Embriagada – Até este despretensioso espetáculo mostra os meandros de uma
produção musical.
Para coroar as produções sobre esse tema entrou em cartaz
na semana passada no Sesc Belenzinho Canastrões.
Escrita e dirigida pelo galego Moncho Rodriguez a peça
faz uma homenagem ao ator Paulo Gracindo (1911 – 1995) e é interpretada por
Gracindo Júnior e por seus filhos Gabriel e Pedro. A julgar por este brilhante
trabalho chega-se a pensar que talento é uma coisa genética.
Paulo Gracindo
Num clima de magia próprio do bom teatro onde a
imaginação do espectador alcança voos esplendorosos por meio das palavras e dos
gestos dos atores assiste-se à trajetória dos três mambembes e seus canastrões
(baús que carregam todo o imaginário acumulado pelos atores). Tudo por meio do
sofisticado e lúdico texto de Moncho Rodriguez que nos remete a várias fases do
teatro universal citando, entre outros, Shakespeare e Gil Vicente (este numa
cena memorável de Pedro Gracindo).
Sem querer fazer ligação com o sobrenome do trio, os três
atores estão em estado de graça. Gracindo Júnior tem uma atuação memorável como
o ator mais vivido que conhece todo o poder do teatro e da imaginação e seus
dois filhos não deixam por menos realizando um trabalho que se aproxima de uma
dança tal a beleza de seus gestuais; além disso, Pedro Gracindo toca vários
instrumentos em cena.
Para completar a magia os figurinos, o cenário e a
iluminação são perfeitos; todos eles também de autoria do autor/diretor que
assim acumula cinco funções na encenação.
Os momentos em que os atores solicitam a imaginação do
público são de rara emoção e dignos do melhor teatro.
Em cartaz apenas até o dia 03 de novembro, Canastrões é um espetáculo que não
pode deixar de ser visto por aqueles que acreditam na magia e na força do
teatro.