As
relações de Branco e Augusto no limite da crueldade.
A
Companhia Azul Celeste de São José do Rio Preto foi fundada em 1989 por Jorge
Vermelho e Cássio Ibrahim, completando 26 anos de existência neste 2015 e
contando com cerca de 25 títulos em seu repertório.
MUNDOMUDO é a encenação mais recente do
grupo. Concebida por Jorge Vermelho, o ato sem palavras tem dramaturgia de
Cíntia Alves e foi dirigido por Georgette Fadel.
Em
um cenário que remete ao picadeiro de circo, um ser jaz prostrado (A) em uma
cadeira de rodas enquanto o público se acomoda na plateia. Uma segunda figura
(B) adentra o espaço cênico com ar patético e assustado. No melhor estilo clownesco estuda o ambiente, tenta
consertar uma lâmpada e analisa a situação do ser imóvel. (A) ao acordar
revela-se o dono da situação, o patrão opressor que por meio de sons emitidos
por apitos e chocalhos dita ordens ao servil (B). Claramente inspirados em
personagens de Samuel Beckett (em especial da peça Fim de Jogo) e nas figuras tradicionais do circo (Branco e Augusto),
(A) e (B) iniciam jogo de poder cruel que não tem desenlace como costuma acontecer
no cenário beckettiano. Aquilo irá se repetir ad infinitum sem nenhum sinal de revolta por parte do oprimido e
humilhado (B).
Jorge
Vermelho encarrega-se com muito brilho da figura triste e oprimida de (B). Suas
ações, gestos e máscaras provocam risos e lágrimas no público, revelando a
fragilidade de um ser que não tem outra escolha além do seu servilismo. A
brutalidade e a crueldade de (A) são materializadas por Henrique Nerys que atua
sentado numa cadeira de rodas e tem seu estado emocional apenas traduzido por
expressões faciais e gestos com as mãos e os braços. O jogo de cena dos dois atores é muito preciso
e há perfeita sincronia entre a ação e os elementos cênicos (iluminação,
objetos de cena, sonoplastia).
A
direção de Georgette Fadel é limpa e sem afetações desnecessárias
concentrando-se na atuação clownesca
dos atores.
Os
figurinos de Linaldo Telles dão destaque especial para as duas personagens auxiliando
o público na decodificação de suas personalidades.
MUNDOMUDO é espetáculo cercado de
cuidadosa produção e revela a maturidade do grupo rio-pretense.
Por
último, mas não menos importante: fiel ao tempo beckettiano as situações se
repetem inúmeras vezes; ao meu modo de ver a encenação poderia eliminar parte
dessas repetições que se tornam cansativas, alongando desnecessariamente a
mesma.
MUNDOMUDO está em cartaz no Sesc
Pinheiros até 04 de julho, quintas, sextas e sábados às 20h30. NÃO DEIXE DE
VER.
28/05/2015