sexta-feira, 20 de abril de 2018

AMOR BARATO – O ROMEU E JULIETA DOS ESGOTOS



        O que você acha de uma fábula onde um rato se apaixona por uma baratinha? Pode-se dizer que se trata do limite da diversidade e, por consequência, o limite do preconceito e da intolerância. Como toda boa fábula, ela nos remete a situações vividas nos dias de hoje por nós humanos, ditos civilizados. A boa ideia é o tema da dramaturgia de Fábio Espírito Santo, com um bem vindo tratamento politicamente incorreto; afinal ela está falando diretamente dos “esgotos” de nossas cidades. O toque político também é dado pela disputa entre os asquerosos pais dos protagonistas: o Senador Ratazana e o Dr. Barata.
        O grande achado da montagem é que se trata de um musical, com canções de Jarbas Bittencourt e Ronei Jorge, do tipo que você ouve pela primeira vez e já sai do teatro cantarolando e querendo ouvir de novo. As letras são boas, mas estão aquém das envolventes melodias, tendo de se adequar a elas com repetições forçadas de frases e/ou estrofes, em recurso relativamente fácil. Será notável o dia em que o grupo registrar essas canções em estúdio e lançar em CD, que com certeza terão vida própria para além do espetáculo.
        As interpretações que envolvem fala, canto e dança são bravamente defendidas por elenco e músicos excelentes. Com voz surpreendente Adriana Capparelli defende a patética personagem de Madame Ratazana cantando dois solos de arrepiar que fazem lembrar aqueles não menos arrepiantes de Dalva de Oliveira. Presença cênica poderosa, Thaís Dias narra boa parte da ação e canta muito bem. Completando o lado feminino, Aline Machado empresta sua bela voz para a baratinha Dona. Beto Mettig (Senador Ratazana) e Eric de Oliveira (Dr. Barata) têm forte presença cênica, em especial, nas cenas de embate entre os dois personagens. Pietro Leal, com voz doce e suave, interpreta Dom, o ratinho apaixonado, e tem um belo momento no dueto com Madame Ratazana.  
        Os músicos Beatriz Pacheco, Eric Budney, Maurício Braga, Raquel Freitas e Ricando Caian, sob a direção musical dos compositores, são não menos que ótimos, além de participarem da ação.
        A criativa encenação assinada pelo autor e por Ana Paula Bouzas conta com os figurinos bastante originais de Bettina Silveira e se desenvolve no propositalmente “sujo” cenário também de Fábio Espírito Santo.
        O curioso é que espetáculo tão politicamente incorreto tenha um final conciliador com o destino acidental que dá ao Rato Dom, fato que surpreendeu e digamos que, de certa maneira, decepcionou este crítico. Já o destino dado a Dona, a meu modo de ver, é coerente com a proposta da montagem. Tais fatos, porém, não tiram o brilho desse surpreendente musical cem por cento brasileiro que merece ser visto.
        AMOR BARATO está em cartaz no Teatro Itália às quartas e quintas feira sempre às 21h até 31 de maio. NÃO PERCA, VOCÊ VAI SE SURPREENDER!

        20/04/2018
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    

quarta-feira, 18 de abril de 2018

VELHA COMPANHIA - 15 ANOS


IMITANDO A GIRAFA... Um visão afetiva da VELHA COMPANHIA


        Os privilegiados espectadores que conseguiram adquirir os disputados ingressos, esgotados em menos de meia hora, para a temporada comemorativa dos 15 anos da Velha Companhia no Sesc Pompeia terão a rara oportunidade de assistir ou reassistir aos três últimos trabalhos do grupo: Cais (2012), Valéria e os Pássaros (2015) e Sínthia (2016)
        Os fundadores do grupo Kiko Marques, Virginia Buckowski e Alejandra Sampaio, segundo eles próprios, formam uma tríade equilibrada e que se complementa, uma vez que Virginia é mais racional e Kiko e Alejandra mais sonhadores, dando ao grupo algo parecido com a girafa que tem a cabeça nas alturas, mas os pés no chão.

        "Garoto carioca travesso rouba um ingresso para assistir a uma montagem estudantil de O Pagador de Promessas e fica arrebatado pelo que vê, tornando-se a partir daí um espectador compulsivo de teatro". Esse poderia ser o início de uma biografia de Maurício Marques. Trabalhando como ator no Rio de Janeiro, vem para São Paulo em 1993 no elenco da peça Epifanias dirigida por Moacir Góes, mudando-se para cá e estabelecendo parceria com seu amigo e colega Marco Antônio Braz. O pomposo nome artístico de Maurício Marques ele usou até 2008 quando o alterou para Kiko (seu apelido desde a infância) Marques, por sugestão de Denise Fraga quando atuaram juntos na peça A Alma Boa de Set Suan.
        A gaúcha Virginia muda para São Paulo ainda pequena e começa a fazer teatro por insistência de sua mãe. Sente que é esse seu caminho ao assistir a Trono de Sangue, versão de Macbeth dirigida por Antunes Filho. Foi cochilando e babando no ombro do Kiko que o casal se apaixonou (com a ajuda do cupido Alejandra), namorou e casou.
        Alejandra ainda criança muda de São Paulo com a família para a zona rural de Votorantim, onde a única experiência teatral era brincar de “faz de conta” com o irmão. Quando jovem muda-se para Curitiba, voltando mais tarde para São Paulo com diplomas em Artes Cênicas e Direito debaixo de um braço e com o filho também Alejandro, nascido curitibano, no outro braço.

         Os três se conheceram em um curso de teatro ministrado por Kiko e por Marco Antônio Braz no antigo Teatro Pirandello na Rua Major Diogo, atuaram juntos em Perdoa-Me por Me Traíres (1994/1996) e como diria vovó “Não se largaram mais!”. Carinhosamente eles se tratam por Kiko, Vivi e Lê.   Permaneceram durante algum tempo no Círculo dos Comediantes coordenado por Braz aonde chegaram a montar a peça Crepúsculo de Kiko.

         Em 2003 criam a Velha Companhia encenando Brinquedos Quebrados, com autoria e direção de Kiko. O nome Velha Companhia remete tanto ao fato do grupo trabalhar a memória em seus espetáculos e a pessoa velha ser um grande celeiro de lembranças e memórias como também por eles serem velhos companheiros. Afinidades artísticas e ideológicas e uma grande afetividade são, a meu ver, os elementos que dão suporte para esse trio manter com muita garra e luta a companhia por 15 anos.
        Remontam Crepúsculo em 2005 e em 2007 voltam a trabalhar com Marco Antonio Braz que dirige Ay, Carmela de José Sanchis Sinisterra tendo Virginia e Kiko no elenco.
        Kiko volta na autoria e direção em O Travesseiro (2009) e a experiência acumulada em todos esses anos desemboca em 2012 na obra prima absoluta que é Cais ou da Indiferença das Embarcações que dá grande visibilidade para o grupo recebendo aplausos unânimes da crítica e do público, além de muitas indicações e premiações.


        Cais é um marco do teatro, sendo, no meu ponto de vista, a primeira, e por enquanto a única, obra prima do teatro brasileiro do século 21. Na ocasião escrevi que “Cais não era, ele é e sempre será. Eu e você passaremos, mas Cais e seus personagens permanecerão, porque já nasceram clássicos”. Essa maravilha encerrará a temporada do grupo no Sesc Pompeia nos dias 4,5 e 6 de maio.


        Em 2015 a companhia volta a visitar a obra do dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra que deu de presente à Alejandra, um monólogo intitulado Valéria e os Pássaros. Kiko deu presença cênica ao que eram apenas vozes em off no texto, transformando o monólogo em um espetáculo com onze atores em cena. Visão poética e política sobre os presos torturados e desaparecidos por ditaduras, a peça será apresentada nos dias 27, 28 e 29 de abril.



        A última montagem da Velha Companhia e primeira a ser apresentada nesta temporada no Sesc Pompeia (20, 21 e 22 de abril) é Sínthia que tem o estilo/assinatura de Kiko, indo e vindo no tempo e ficcionalizando as suas memórias, transformando-as em verdadeiras obras de arte. Depois de Cais, era um grande desafio criar a próxima obra e Kiko venceu bravamente a batalha, colocando dentro de uma mesma trama transexualidade e ditadura, sabendo como poucos aliar o privado ao público criando uma história que emociona e faz pensar.

        O grupo começa a preparar sua nova montagem Casa Submersa que tem origem em um sonho de Kiko. Como nas outras peças o processo de maturação é longo e o resultado final virá  da contribuição do grupo nos workshops, ensaios e discussões realizados.

        Fato marcante e digno de nota é a constância dos atores no elenco das peças. Cais, por exemplo, está em seu sexto ano de vida e só teve substituição no elenco por conta do destino que pela morte levou o saudoso Walter Portella que vivia Sargento Evilásio, o barco narrador da história e pela vida trouxe a pequena Anita ao casal Kiko e Virginia e esta foi substituída temporariamente por Tatiana de Marca no papel de Magnólia . Substituições nos músicos trouxeram Bruno Menegatti, outra obra do destino, que agora com a ajuda do cupido Virginia, tornou-se o companheiro de Alejandra. Como se vê os agregados formam, junto com os fundadores, um todo orgânico que responde pelo nome de Velha Companhia, entre eles, Patrícia Gordo, Marcelo Diaz, Rose de Oliveira, Marcelo Marothy e Marco Aurélio Campos. Uma verdadeira família com muitas cabeças nas nuvens e muitos pés no chão. Como a girafa...

        15 ANOS DA VELHA COMPANHIA, cartaz do novo Espaço Cênico do SESC Pompeia de 20/04 a 06/05 às sextas e sábados às 20h e aos domingos às 18h.

        18/04/2018

quinta-feira, 12 de abril de 2018

O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT



       Um dos textos mais inteligentes e instigantes já aparecidos em nossos palcos nos últimos anos está em cartaz no Teatro FAAP.  Trata-se de O Escândalo Philippe Dussaert do dramaturgo francês Jacques Mougenot.
       Através da trajetória do pintor Philippe Dussaert (1947-1989) e o escândalo na área das artes plásticas do qual foi protagonista depois de morto em 1991, o autor discute de forma brilhante e lúdica a relação entre a arte e a vida e, principalmente, os limites da arte contemporânea.
       Em um palco vazio um curioso, como nós da plateia, conta um pouco da vida de Dussaert que, de copista, passou a fazer quadros intitulados “Ao Fundo de...”, mostrando a paisagem por detrás de quadros famosos, retirando os seres vivos dos mesmos e mais tarde montou a exposição “Nada”, estopim do escândalo que dá título à peça. Esse curioso é vivido por Marcos Caruso que tem uma interpretação não menos que brilhante, fazendo tudo com muita espontaneidade como se estivesse batendo um papo informal com o público.
       A direção discreta de Fernando Philbert não faz mais do que harmonizar a interpretação e o gestual do ator no palco.
       Muitas risadas, reflexões sobre a função da arte e uma grande surpresa final estão reservadas para quem for assistir a esta verdadeira joia teatral.


       O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT está em cartaz no Teatro FAAP de quinta a sábado às 21h e domingo às 18h. ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL.

12/04/2018


terça-feira, 10 de abril de 2018

SILÊNCIO.DOC



       Há um espetáculo meio escondido no Auditório MUBE somente às terças feiras que merece uma ida até a Rua Alemanha. Trata-se de Silêncio.Doc, monólogo escrito e interpretado por Marcelo Várzea, que há pouco dirigiu o ótimo Michel III, ainda em cartaz no Teatro Folha.
       A peça trata dos males do amor, ou melhor, dos males da perda de um grande amor. Esse homem sentado em frente ao seu notebook divaga, se revolta e até ri de sua dor. O espetáculo dura uma hora e demora alguns minutos a engrenar, além de desacelerar nos minutos finais, mas o recheio é saboroso. O texto é bem construído e o autor faz um interessante jogo ao desconstruir palavras lhes dando novo significado. A meu ver, pequenos ajustes no início e no fim muito beneficiariam o ritmo da montagem. 


       Como ator Várzea dá vida ao amante abandonado com muita garra e com completo domínio do palco e do público o qual ele até faz cantar.
       A direção de Marcio Macena é bonita valendo-se da iluminação de Cesar Pivetti e Vania Jaconis que pontua os movimentos do ator.
      
       SILÊNCIO.DOC fica em cartaz no MUBE, sempre às terças feiras às 21h, até 08 de maio.     

segunda-feira, 9 de abril de 2018

AMIGAS, PERO NO MUCHO



        Por que eu levei onze anos para ir assistir a Amigas, Pero No Mucho?
        - Talvez por achar, pelo título, que se tratasse de mais uma comédinha caça níquel, dessas que infestam os teatros Ruth Escobar, Gazeta e Maria Della Costa e que levam multidões a esses teatros aos sábados, antes ou depois da pizza.
        - Talvez por subestimar os dotes dramatúrgicos da querida Célia Forte, de talento comprovado em outras áreas como produção teatral e assessoria de imprensa.
        - Talvez por não ter levado em conta a ficha técnica do espetáculo para constatar que ali havia profissionais que levam a arte teatral muito a sério, como José Possi Neto, Miguel Briamonte, Vivien Buckup, Wagner Freire e o próprio elenco.
        Talvez, talvez, são tantos “talvezes”... O que importa é que neste retorno ao palco do Teatro Renaissance onde estreou em 2007, eu finalmente fui usufruir dessa verdadeira delícia que é Amigas, Pero No Mucho.
        Para começar, o título aplica-se perfeitamente àquelas quatro senhoras que são amigas enquanto estão juntas, mas que basta uma sair para as restantes falarem cobras e lagartos sobre ela (quantas vezes você já deve ter sentido isso ao querer ser a última pessoa a sair de uma festa para que não seja alvo da língua alheia!). Rola muita hipocrisia na relação delas, mas no fundo elas se gostam e uma depende da outra para preencher suas solidões.
        O texto de Célia Forte é ótimo. Bem escrito, enxuto, com diálogos fluentes, retrata de forma cômica, mas bastante humana o encontro numa tarde de sábado daquelas quatro amigas no apartamento de uma delas, provavelmente situado no bairro do Belenzinho, segundo as palavras do diretor no programa. Tendo em vista as qualidades e a maturidade deste texto, lamenta-se que Célia escreva tão pouco para teatro.
        A direção de José Possi Neto acertadamente concentra-se na atuação dos atores utilizando cenário (Jean-Pierre Tortil) e iluminação (Wagner Freire) simples, mas eficientes, para localizar os três espaços onde se desenvolve a ação da peça. É muito bom o recurso inicial narrado por Denise Fraga apresentando as personagens com os atores ainda vestidos como homens e dando as rubricas das ações iniciais.

Leandro Luna e Elias Andreato

        Todos os aplausos para os quatro atores que não caricaturizam as mulheres, dando-lhes vida com um toque cômico no limite da dignidade. Leandro Luna é Sara, a amiga mais jovem e mais sensual, filha de um político corrupto (será que existem políticos corruptos neste Brasil??!!). Sérgio Rufino é Olívia, perfeito na caracterização de uma senhora de meia idade que perdeu tudo e hoje tem que dirigir uma van escolar para sobreviver. Raphael Gama é Débora, a conciliadora, que recebe as amigas em sua casa e que com suas caras e bocas é responsável por boas risadas da plateia. Elias Andreato é a revoltada e desbocada Fram, sempre esbravejando e desesperada para copular, uma vez que é ninfomaníaca; com perfeito domínio de cena, Elias faz e desfaz, levando não só o público às gargalhadas, mas também seus parceiros de palco, em função dos cacos que introduz em cena. Os quatro estão perfeitos fazendo o público rir sem parar durante a deliciosa hora e meia de duração do espetáculo.
        Amigas, Pero no Mucho é diversão de alto nível que faz jus aos onze anos que está na ativa e por onde já passaram tantos atores de talento nos papeis das quatro amigas (ao que eu saiba o único remanescente da primeira temporada é Elias Andreato). Com certeza vai cumprir o mesmo destino de outra companheira que faz divertir dignamente sem cair no meramente comercial que é Trair e Coçar É Só Começar de Marcos Caruso. Longa vida a ambas.

        AMIGAS. PERO NO MUCHO está em cartaz no Teatro Renaissance aos sábados (19h) e aos domingos (20h). NÃO PERCA!

        09/04/2018

quinta-feira, 5 de abril de 2018

CAECUS – UM DOCUMENTO CÊNICO



      CONCISO
      ATUAL
      ENGAJADO
      COERENTE
      URGENTE
      SINTÉTICO

        O novo espetáculo da Cia. Los Puercos atesta a evolução no trabalho de direção de Luiz Campos, denunciando de forma lúdica em cerca de uma hora alguns dos problemas que afligem o caótico tempo presente deste pobre Brasil: o machismo e a violência contra a mulher; a ditadura militar e os perigos do seu retorno; os cruéis tratamentos nos manicômios e o preconceito de gênero, enfatizando a violência praticada contra as travestis. Os quatro assuntos são apresentados em cenas isoladas, mas que fluem criando um todo orgânico. O texto foi concebido em processo colaborativo na forma de teatro documentário e leva a assinatura do grupo e de Josemir Medeiros que deve ter dado a redação final à dramaturgia.
        Os adjetivos apresentados acima formados com base nas letras que formam o título da peça (que segundo o programa significa cegos em latim) procuram definir o que, para este espectador, são as principais qualidades do espetáculo.
        De “cegos” o espetáculo não tem nada e muito menos a companhia de “puercos”.
        Elenco jovem e seguro formado por Giovanna Marcomini, Gustavo Garcia e Jessica Dibi.
        CAECUS esteve em cartaz até 03/04 no Teatro de Contêiner da Cia. Mungunzá e ainda não tem previsão de volta ao cartaz. Uma pena, pois como repórter de seu tempo, merece nova temporada em especial destinada aos jovens.

        04/04/2018


quarta-feira, 4 de abril de 2018

A SERPENTE


Ygor Fiori, Ana Negraes, Patrícia Gordo, Liz Reis e Valdir Rivaben

        Muito já se escreveu que A Serpente, última peça de Nelson Rodrigues (1912-1980) , é um compêndio das taras e obsessões presentes em sua obra. Sintética, conta em menos de uma hora a relação fraterna/amorosa/doentia das irmãs Ligia e Guida e suas experiências conjugais com os maridos, Décio e Paulo, respectivamente. Casaram no mesmo dia e habitam o mesmo edifício, sendo que os gritos e sussurros do ato sexual de Guida e Paulo são ouvidos por Ligia, enquanto Guida estranha não ouvir nem sussurros e muitos menos gritos de Ligia e Décio. Um trato firmado entre as duas irmãs, fatalmente vai terminar em tragédia. Típico Nelson Rodrigues.


        Com surpreendente domínio de cena, a diretora Lavínia Pannunzio acerta ao imprimir tom expressionista ao espetáculo, carregando no tom de todos os elementos desde as interpretações (vocal e gestual) passando pelos figurinos de Rosangela Ribeiro e atingindo o auge no impressionante visagismo criado por Cristina Cavalcanti. A iluminação de Aline Santini colabora grandemente para o desenvolvimento da trama, adquirindo importância capital nos momentos finais do espetáculo onde uma criativa solução encontrada pela encenadora resolveu problema no desfecho, que é verdadeiro desafio para quem se propõe a encenar esta peça.


        Patrícia Gordo tem significativo momento em sua carreira com uma interpretação vigorosa como Guida, usando toda sua potência vocal e corporal para presentificar os complexos sentimentos de amor e ódio de sua personagem. Ana Negraes tira partido de seu belo visual para criar a Criola que, a meu ver, foi aquela imaginada por Nelson Rodrigues. Liz Reis, Ygor Fiori e Valdir Rivaben seguem a mesma linha interpretativa dando grande unidade ao todo.
        A peça é encenada em um espaço bonito, aconchegante e bem aparelhado tecnicamente, situado no anexo do Teatro Arthur Azevedo e que leva o nome de “Sala Multiuso”. Atenção, encenadores e produtores, não percam esse espaço de vista!
        A SERPENTE está em cartaz às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 19h até 22 de abril. Posteriormente é bem provável que cumprirá temporada em outros teatros, mas assisti-la no espaço presente tem efeito especial e merece uma ida até a Mooca.

            Fotos de Lenise Pinheiro

        03/04/2018