O que ocorreu nos palcos, nos celulares e nos
notebooks.
O
ano teatral de 2020 iniciou muito bem com o Grupo TAPA apresentando Strindberg
(Brincando Com Fogo) no palco do
Teatro Aliança Francesa e daí em diante tivemos alguns espetáculos memoráveis nos
palcos paulistanos, como Fóssil (de
grande impacto visual e belo trabalho de Natalia Gonsales), De Todas as Maneiras que Há de Amar
(também do Grupo TAPA com Clara Carvalho e Brian Penido Ross), Elisabeth Costello (interpretação antológica
de Lavinia Pannunzio), Dos Prazeres
(outra maravilha com Maristela Chelala), Na
Polonia, Isso É Onde (deliciosa incursão no mundo de Tadeuz Kantor pelo
Grupo OPOVOEMPÉ), Por Que Não Vivemos
(denso espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro), a delícia e a denúncia de
Bertoleza pelo Grupo Gargarejo Cia.
Teatral, Doc. Malcriadas, (interessante
incursão do Núcleo de Artes Cênicas coordenado por Lee Taylor ao universo das
empregadas domésticas) e Uma Lei Chamada
Mulher (forte espetáculo escrito por Consuelo de Castro sobre a violência
contra a mulher com bela direção de Lenise Pinheiro e interpretação corajosa de
Isabella Lemos). E assim chegamos ao fim de fevereiro contabilizando, em apenas
dois meses, dez espetáculos dignos de nota e merecedores de serem indicados
entre os melhores do ano. Promissor, não é mesmo?
O
mês de março abriu com a MITsp que
trouxe espetáculos também memoráveis como By
Heart (Portugal), Jerk (França), Farm Fatale (Alemanha/França) e,
principalmente, aquele que foi o impacto da Mostra, Casa Mãe (França).
Os
guias de teatro prometiam ótimas estreias para os próximos dias e Celso Curi escrevia
um entusiasmado editorial no Guia OFF de março: “Acionando as turbinas. Fim da temporada de festas, agora é pra valer. A
cidade se agita e apresenta uma temporada repleta de opções”.
Entre
os títulos prometidos ou recém estreados estavam, entre outros, O Arquiteto e o Imperador da Assíria, Escombros, o primeiro espetáculo do
projeto do SESC, Estação Teatro Russo:
Tchekhov, O Náufrago, Neblina (peça de Sergio Roveri, que
reabriria o teatro do Centro Cultural Banco do Brasil em abril e traria de
volta a São Paulo o ator mineiro Leonardo Fernandes) e até musicais sobre
Silvio Santos e Donna Summer.
Mal
sabíamos que o março teatral ia acabar no dia 14!
Uma
das primeiras notícias que chegaram a mim sobre a possibilidade de assistir
teatro no notebook foi que a peça Sopro
do português Tiago Rodrigues (o mesmo do bem sucedido By Heart) estava disponível
no youtube. Assisti e gostei mesmo
com as limitações da telinha e do acontecimento não ser presencial. E aí
começaram as lives, umas mais bem
sucedidas que outras, pelo fato que todos estavam experimentando as novas
ferramentas. Entre os espetáculos bem sucedidos cabe notar Pandas ou Era Uma Vez em Frankfurt,
projeto inovador de Bruno Kott, utilizando a tecnologia do Zoom e A Arte de Encarar o Medo do Grupo Os Satyros,
ambas fazendo um proveitoso e aconchegante debate com o público, ao final do
espetáculo.
O
SESC ao vivo também é projeto muito bem sucedido, no que se refere a teatro,
apresentando excelentes monólogos de curta duração (máximo de 45 minutos) com
atores do calibre de Clara Carvalho, Cassio Scapin (inigualável na personificação
de Myrian Muniz em Eu Não Dava Praquilo),
Debora Falabella, Teuda Bara e Pascoal da Conceição.
Lives com leituras dramáticas em geral
têm-se mostrado cansativas e monótonas.
É
impossível dar conta de todas as ofertas de lives
teatrais (se pode chamar assim?), sem contar aquelas de musicais que são em bem
maior número, assim como palestras e cursos. As ofertas são tantas que o Guia
OFF adaptou-se aos novos tempos lançando edições mensais on line com a divulgação das lives
em cartaz.
O
espectador tem também que tomar certos cuidados para usufruir da melhor maneira
a live que se propõe a assistir, não
dispersando sua atenção para não perder momentos importantes da apresentação.
Quando a apresentação é pelo Zoom a atenção é maior ainda, desligando o áudio e
o vídeo enquanto dura o espetáculo, evitando desviar a atenção de outro
espectador quando vai atender o entregador de pizza enquanto o ator está se
apresentando.
Como
avaliar todas essas novidades? Como comparar um teatro ao vivo com essa nova
modalidade que podemos chamar de live,
on line, teatro filmado, teatro digital, ou seja, sempre com um adjetivo após a palavra
teatro, porque TEATRO, TEATRO é aquele que acontece ao vivo, apenas uma vez
tanto para o ator como para o espectador.
Eu
não tenho dúvidas que essa nova modalidade vai permanecer mesmo depois que os
teatros reabram e isso é extremamente bom, mas JAMAIS irá substituir a
presença, fator fundamental para que aconteça o fenômeno mágico que se chama
TEATRO.
Por
último, mas não menos importante: Por que usar a palavra live em inglês? Mais um anglicismo para o nosso dia a dia? Por que
não “ao vivo”?
O TEATRO NOS UNE,
O TEATRO NOS FORTE!
VIVA O TEATRO!
14/07/2020