Tenho quatro
montagens desse sempre surpreendente texto de Fernando Arrabal (1932 -) em meu
currículo de espectador.
A primeira, antológica e memorável, data de
1970, dirigida por Ivan de Albuquerque, com José Wilker (arquiteto) e Rubens
Corrêa (imperador). Há um triste fato ligado a essa montagem aqui em São Paulo
porque foi ela a última a ocupar o saudoso Teatro Bela Vista, demolido
logo a seguir para dar lugar ao atual Teatro Sérgio Cardoso.
Seguiram-se duas
montagens não muito marcantes: em 2008 com Paulo Vilhena (arquiteto) e Beto
Bellini (imperador) com direção de Haroldo Costa Ferrari e em 2018 com Eduardo
Silva (arquiteto) e Rubens Caribé (imperador) com direção de Leo Stefanini.
Agora chegou a vez de
Cesar Ribeiro nos presentear com sua versão tendo Eric Lenate como o arquiteto
e Helio Cícero como o imperador, no jogo de gato e rato proposto pelo dramaturgo
espanhol.
51 anos separam a
primeira montagem desta última e do fundo da memória eu tenho a sensação que a
primeira era a versão em branco e preto e esta é a versão colorida de O
Arquiteto e o Imperador da Assíria. Uma clássica e a outra
contemporânea, ambas excepcionais revelando o mundo “pânico” de Fernando
Arrabal e a sociedade caótica em que vivemos.
Tudo é esplendor na
encenação de Cesar Ribeiro desde a portentosa trilha sonora assinada pelo
diretor, a cenografia de J.C. Serroni, o desenho de luz de Aline Santini, os
figurinos de Telumi Hellen e o visagismo de Louise Helène. Pelos nomes na ficha
técnica se pode notar que a produção não poupou esforços para escolher os
profissionais envolvidos no espetáculo.
Helio Cícero, ator
brilhante nas montagens de Antunes Filho no final dos anos 1980 e início dos
1990, cria o imperador com muito vigor e dá uma verdadeira aula de
interpretação no início do segundo ato quando, em mais um jogo criado pela
dupla, o arquiteto julga o imperador por um suposto crime e este é obrigado a
fazer as várias testemunhas do caso.
Eric Lenate,
excelente diretor e ótimo ator, cria um arquiteto tão memorável como aquele
criado por José Wilker em 1970, usando com muita propriedade suas extensões,
tanto de voz como corporal.
Me perdoem os
puristas, mas em certos momentos, o jogo entre as duas personagens me lembrou
Oscarito e Grande Otelo. Que fique claro que isto é um elogio!!
O texto de Arrabal,
datado de 1965, continua atualíssimo e cai como uma luva no Brasil de 2021.
Um senão a tão belo
trabalho: a transformação que ocorre nas últimas cenas da peça depende das
mudanças de papel, algo que não fica muito claro, talvez por opção da direção.
E como comentou meu amigo Denio Maués: que emoção ver a cortina abrindo e fechando no início e no fim do espetáculo.
25/09/2021
SERVIÇO:
Temporada presencial
De 24 de setembro a 24 de outubro de 2021
Sexta a sábado, 20h. Domingo, 19h
Sessão extra: Dia 21 de outubro, às 20h30h
Local:
Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho (Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso -
São Paulo)
Ingressos:
R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e entrada gratuita para estudantes e professores
da rede pública de ensino.
Lotação:
128 lugares | Duração: 120 minutos | Classificação:
16 anos | Gênero: tragicomédia