terça-feira, 24 de dezembro de 2013

CACILDA!!!! - CELEBRAÇÂO TRIPLA


Acolhimento do público

     Ontem (23/12) foi o dia de passar muitas horas no Teatro Oficina: apresentação da peça Cacilda!!!!-A Fábrica de Cinema & Teatro (5h40 de duração, incluindo um intervalo de meia hora), celebração dos 26 anos da Eternidade de Luís Antônio Martinez Corrêa (ele foi barbaramente assassinado em 23/12/1987 no Rio de Janeiro) e lançamento do livro almanaque dos 50 anos do grupo. Um verdadeiro regalo de Natal para os privilegiados presentes.
 
Zé Celso
     Cacilda!, o primeiro espetáculo de José Celso Martinez Corrêa inspirado na vida e obra de Cacilda Becker  estreado em 1998 é uma obra prima absoluta. Seguiram-se Cacilda!!-Estrela Brasileira a Vagar (2009) e neste 2013 Cacilda!!!-Glória no TBC e agora Cacilda!!!Á Fábrica de Cinema &Teatro. Este último exagera na apresentação de trechos longos de peças em que Cacilda atuou tornando-se longo demais. Claro que, em se tratando do Oficina tudo se transforma em festa e celebração.
 
Cena do parto
 
Homenagem a Luís Antônio

 
     Alguns momentos são preciosos: a cena do parto de Cacilda simbolizando o nascimento do seu filho Cuca e da Companhia Cinematográfica Vera Cruz (Sylvia Prado maravilhosa!); Marcelo Drummond como a dama inglesa (que Cacilda fez no teatro) em A Importância de Ser Careta de Oscar Wilde; a homenagem a Luís Antônio ao som de Amor (Ressucita-me) de Caetano Veloso (que fez parte da trilha de O Percevejo que o homenageado dirigiu e cuja letra tinha tudo a ver com aquele momento) e, finalmente, Camila Mota como Alma de O Anjo de Pedra numa interpretação iluminada trazendo de volta a respiração ofegante de Cacilda e sua pronúncia perfeita das palavras.
 
Marcelo Drummond
 
Camila Mota
 
     Ao término do espetáculo, ritual no morro do terreno do Silvio Santos e lançamento do livro. Enorme fila e disputa para comprar um exemplar: belo e enorme livro com capa dourada e com um excelente conteúdo mostrando críticas, capas de programas e fotos de todos os espetáculos do grupo. Precioso...E  custou apenas R$20,00.
 
 
     A longa jornada completou-se com uma deliciosa taça de vinho.
 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O AUTOR BRASILEIRO NOS PALCOS PAULISTANOS EM 2013


 

                Entre estreias e reestreias, 578 títulos de dramaturgos brasileiros estiveram em cartaz na cidade de São Paulo em 2013, isto sem considerar os infantis, as stand up comedies e as encenações que não foram veiculadas pela mídia especializada (guias de cultura e de teatro), situando-se neste último caso, a maioria dos trabalhos apresentados na periferia da cidade. As conclusões aqui apresentadas baseiam-se nas fichas técnicas dos espetáculos constantes nos programas dos mesmos e/ou nas informações contidas nos guias: OFF, Guia de Teatro, Divirta-se (de O Estado de São Paulo), Guia Folha (de A Folha de São Paulo) e Veja São Paulo (encarte da revista Veja).
 

                Com 11 títulos, Nelson Rodrigues continua a ser o autor mais montado, seguido de Ronaldo Ciambroni (7), Mário Bortolotto (6), Samir Yazbek (6), Plínio Marcos (5), Paulo Faria (5) e Renato Andrade (4). Vários autores tiveram três peças montadas e a grande maioria comparece com um título. 56 encenações foram chamadas de criação coletiva e as 522 restantes levam um ou mais nomes como autores, não havendo em sua grande maioria, a possibilidade de distinguir quantas delas foram criadas a partir de processo colaborativo.

                Apesar da quantidade de dramas (341) ser muito superior à de comédias (178), são estas as mais longevas em cartaz. Os títulos apresentados naqueles teatros especializados em espetáculos puramente comerciais revelam a natureza dos mesmos e a que vieram. Eis alguns deles:

                - Teatro Bibi Ferreira: Quem Ri Por Último É Loira ou Português/TPM-Tempo Para Mulher/Júnior-A Filha Que Mamãe Sempre Quis.

                - Teatro Ruth Escobar: Entre a Pizza e o Motel/O Dia Que Eu Comi a Pomba Gira/Engolindo Sapo Pra Um Dia Comer Perereca/ A Sogra Que Pedi a Deus.

                - Teatro Maria Della Costa: Casal TPM/TPM-Tratamento para Machos/Super Mulher-A Comédia.

                - Teatro Paiol Cultural: Virgem aos 40.com/ O Amante do Meu Marido, o Fantasma da Minha Sogra/Us Filhos da Guta em Kenga Kamigase (sic).

                - Teatro Folha: A Minha Primeira Vez/ Mulheres Solteiras Procuram/ Meu Ex-Imaginário.

                - Teatro Gazeta: Filodaemprego.com/ 100 Dicas Para Arranjar Namorado/Adão, Eva e Mais Uns Caras.

                - Teatro Juca Chaves: Amor, Brigas e Novela das Oito/Vamu Ki Vamu/Como Monitorar Um Homem.

                - Teatro Brigadeiro: Homens no Divã.

                - Teatro Ressurreição: Pobre ou Rica É Com Ela Que Ele Fica/Sexo, Etc. e Tal.

                As peças de caráter experimental e dos coletivos que buscam novas linguagens se apresentaram em espaços alternativos e nos teatros do Sesc.

                Apesar da grande quantidade de títulos de autores brasileiros, foram poucos na opinião deste articulista, aqueles que atingiram um nível satisfatório. Leve-se em conta, nesta conclusão, que assisti “apenas” cerca de 80 dos quase 600 espetáculos apresentados: 
 
                - Cais ou Da Indiferença das Embarcações de Kiko Marques foi o grande texto do ano (apesar de ter estreado no final de 2012). O autor apresenta de maneira poética e muito original a saga de três gerações de habitantes de Ilha Grande.
 
                - Jacinta de Newton Moreno, Aderbal Freire-Filho e Branco Mello (estreou no Rio de Janeiro em 2012). Texto de humor amargo contando as aventuras e desventuras da pior atriz do mundo, vivida brilhantemente por Andrea Beltrão.
 
                - Eu Não Dava Praquilo de Cassio Scapin e Cássio Junqueira. Brilhante compilação das falas da saudosa Myrian Muniz.
 
                - Ausência de André Curti e Artur Ribeiro. Espetáculo sem palavras interpretado por Luís Mello.
 
                - Operação Trem Bala de Naum Alves de Souza. Retorno do autor aos palcos após um longo silêncio.
 
                - A Bala na Agulha de Nanna de Castro. Após o excelente Novelo (temporada de 2010), a dramaturga volta a surpreender com este exercício de metalinguagem.
 
                - Morro Como Um País de Fernando Kinas. Pungente espetáculo da Kiwi Companhia de Teatro sobre regimes opressores.

                E O RESTO É SILÊNCIO...

 

                OBS: Neste artigo são analisados apenas os espetáculos de autores brasileiros.

 

 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

REVISITANDO O CAIS


 
     Contrariando a máxima de Nelson Rodrigues, Cais ou Da Indiferença das Embarcações é um verdadeiro fenômeno (nada burro) de unanimidade. Não há quem não se envolva e não se comova com a saga das três gerações de habitantes de Ilha Grande retratada no delicado espetáculo em cartaz há um ano (com algumas interrupções) no Instituto Capobianco. Com o elenco original e com apresentações aos sábados e domingos às 20h a melhor peça do ano fica em cartaz até 15 de dezembro.

     A pequena (são apenas 30 lugares) e privilegiada plateia compartilha durante três horas (que passam voando) as venturas e desventuras de personagens marcantes e inesquecíveis como Magnolia, Nilmar, Waldeci, Bonifácio, Berenice, Walcimar, Walciano, Juciara, Cachorrinho, Ozório e, é claro, o barco Sargento Evilázio e a boia Roseméri . Tudo isso ao som de uma verdadeira joia que é a trilha sonora de Umanto que pontua e realça toda a encenação sem encobri-la em nenhum momento. As músicas cantadas pelo elenco são também bastante pertinentes ao tema (o mar, o cais).
Marco Aurélio Campos e Patrícia Gordo
 
     Já fiz muitos elogios a esse espetáculo (a que assisti ontem pela quinta vez) que fico até incomodado em fazê-lo mais uma vez, mas quero dedicar algumas palavras a três atores que por razões diversas não citei em outras ocasiões: Marcelo Larotti está perfeito como Nilmar e sente-se a sua falta no segundo ato (assim como a de Virginia Buckowski), Patrícia Gordo (Juciara) e Marco Aurélio Campos (Walciano) que cresceram muito durante a temporada e agora deixam o elenco homogêneo e digno de um prêmio coletivo de interpretação. Poucas vezes fui testemunha de elenco tão coeso e que cumpre seu trabalho com tanto amor e crença de que está realizando um grande serviço ao espectador e ao teatro brasileiro.
     Kiko Marques escreveu um texto poético e belo e o dirigiu com rara competência, além de ser um ótimo ator. Enfim: texto, direção, interpretação, cenário, música; tudo em Cais funciona harmonicamente. O boca a boca tem lotado todas as sessões e os aplausos calorosos e comovidos são uma prova de sua força. É uma lástima que espetáculo desse quilate fique restrito a um pequeno público. Tenho certeza que a Ariane Mnouchkine iria adorá-lo!
     Prometo que não volto a escrever sobre Cais, mas não vou jurar que não vou revê-lo pela sexta vez. No dia em que a temporada encerrar para onde irão essas personagens tão queridas? A efemeridade do teatro as levará ao esquecimento? No meu coração de espectador elas vão viver para sempre.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

RICARDO ENÉSIMO


William Shakespeare (1564-1616)
 

     Junto com Romeu e Julieta e Hamlet, Ricardo III é uma das peças de Shakespeare mais encenadas em São Paulo. Entende-se essa preferência dos encenadores por esta peça, pois a mesma retrata os mecanismos pela luta de poder, luta essa tão cara aos políticos brasileiros. As intrigas palacianas mostradas não devem diferir muito das artimanhas usadas pelos nossos “bravos” homens públicos. A peça também serviu de inspiração para um dos espetáculos mais bem sucedidos de 2003, ao retratar as mazelas da assim chamada “Era Collor”: Os Collegas, encenada pelo grupo Bendita Trupe com direção de Johana Albuquerque.
     A peça foi encenada em 1975 por Antunes Filho com Juca de Oliveira no papel de Ricardo. Após uma longa pausa, ela nos chegou de Minas Gerais em 2000 pelas mãos de Yara de Novaes com uma interpretação fulminante de Jorge Emil (talvez a melhor de todas as que assisti). Em 2006 houve duas montagens quase simultâneas do texto do bardo: uma de Celso Frateschi com o próprio no papel título e outra de Jô Soares com Marco Ricca. Finalmente em 2012 surge a versão para teatro de rua do grupo potiguar Clowns de Shakespeare intitulada Sua Incelença, Ricardo III, dirigida por Gabriel Villela com Marco França. Além disso, há várias versões para cinema, sendo as mais famosas, a clássica de 1955 dirigida e interpretada por Laurence Olivier e Ricardo III – Um Ensaio (1996), uma reinterpretação do texto, dirigida e interpretada por Al Pacino.
Elenco com o diretor Marcelo Lazzaratto
 
     Eis que agora a peça é escolhida para a abertura do ambicioso Projeto 39 de Alexandre Brasil que pretende montar a íntegra da obra teatral de Shakespeare no prazo de uma década.
Imara Reis, Chico Carvalho, Mayara Magri
     A exuberante encenação de Marcelo Lazzaratto está pautada no funcional e bonito espaço cenográfico criado por Kleber Montanheiro. Poucas vezes se presencia diálogo tão harmônico entre direção e cenografia. Todo o teatro é ocupado pelos atores em sua aventura de contar a saga do rei maldito e as cenas principais acontecem num grande tablado redondo de madeira que avança para a plateia. Não se pode dizer o mesmo dos figurinos bastante irregulares de Marichilene Artisevskis (em alguns casos tem-se a impressão que os atores trouxeram de casa as roupas usadas em cena).
Elenco masculino. No destaque, Marcos Suchara
     Peça com personagens fortes e bem definidas, Ricardo III dá oportunidade para grandes interpretações. Todo o elenco masculino de apoio aproveita esta chance apresentando ótimos desempenhos, com destaque para Marcos Suchara (que interpretou Catesby na versão de Jô Soares) como Buckinghan e Evas Carretero como Catesby. As importantes personagens femininas são vividas por Renata Zhaneta (vigorosa como a Rainha Margareth), Imara Reis como a Duquesa de York (ilumina o palco com sua poderosa voz nas breves cenas em que aparece), Maria Lucia Nogueira como Lady Anne(com uma forte interpretação na primeira cena com Ricardo) e Mayara Magri como a Rainha Elisabeth (presença destoante em relação ao homogêneo elenco, com uma interpretação equivocada à base de recursos televisivos).
Chico Carvalho
     Por último, mas talvez o mais importante: Chico Carvalho. Presença perturbadora em cena dando vida a um Ricardo contraditório e frágil em sua aparente segurança em relação aos meios que dispõe para conquistar o poder. O ator usa nuances de voz e de gestual (não se prende às deformações físicas da personagem) para nos dar um retrato completo dessa figura tão asquerosa, mas também muito humana. Com certeza uma das grandes interpretações masculinas do ano que por justiça deveria ser indicada para muitos prêmios.
     Texto, direção, cenografia e elenco fazem deste novo Ricardo III um espetáculo obrigatório, malgrado a duração do espetáculo que exige uma corrida do espectador-pedestre até o metrô (o espetáculo dura – incluindo intervalo – duas horas e trinta e termina às 23h30).
     Por se tratar de um espetáculo apresentado num teatro de bairro a preços populares seria interessante que houvesse um painel na sala de entrada com o nome das personagens e a relação entre elas (a pouca familiaridade com os nomes em inglês e com a relação entre Yorks e Lancasters  pode dificultar a completa fruição do texto).

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

CONTRAÇÕES


 

     Com o título inadequado de Contrações está em cartaz em São Paulo uma nova montagem da peça O Contrato de Mike Bartlett. A encenação anterior cumpriu temporada relativamente curta e obscura (apesar de suas qualidades) no Instituto Capobianco em 2011 depois de ter participado da mostra da Cultura Inglesa e foi dirigida por Zé Henrique de Paula tendo Sergio Mastropasqua no papel do gerente e Renata Calmon como a subordinada. Desta vez numa produção do Grupo 3 de Teatro e com direção de Grace Passô o espetáculo está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil.
     Trata-se de um texto cruel do dramaturgo inglês que leva a uma situação limite o embate entre uma gerente autoritária, impessoal e cumpridora de maneira religiosa das normas da empresa e uma funcionária que em função da subsistência aceita todos os desmandos ditados pela superiora. Emma, a funcionária, abdica do seu relacionamento e do próprio filho para garantir o seu emprego sob as ordens da tirânica gerente.
 
Débora Falabella e Yara de Novaes
     O fato dos papéis serem interpretados por duas mulheres dá uma conotação diferente à peça. Ficam evidentes as frustrações “românticas e sexuais” da reprimida gerente perante o caso amoroso que a subordinada está vivendo. Na versão anterior transparecia um desejo do gerente pela subordinada e o assédio não era só moral, mas também sexual. Cabe imaginar como seria a peça se interpretada por dois homens ou ainda se a gerente fosse mulher e o subordinado um homem. Tais possibilidades valorizam ainda mais o ótimo texto de Bartlett .
 
     Voltando à encenação ora em cartaz é um verdadeiro prazer testemunhar as interpretações de Débora Falabella e Yara de Novaes. Débora desempenha uma subordinada que tudo faz para manter o seu emprego e só consegue extravasar seu ódio pela situação tocando desesperadamente uma bateria (interessante recurso da direção), enquanto Yara de Novaes - uma diretora de carreira consolidada - mostra recursos de grande atriz ao desempenhar com garra e uma ponta de ironia a gerente tirânica. A montagem de Grace Passô enfeita desnecessariamente o bolo com um prólogo e uso de cores e ruídos para identificar os assuntos relativos a romantismo e sexo, por outro lado, a sua direção das atrizes é perfeita.
 
Grace Passô, a diretora
     Não é sempre que surge a oportunidade de tomar conhecimento de um excelente texto contemporâneo na interpretação iluminada de duas grandes atrizes, portanto, aproveite!
 
     Contrações está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil aos sábados, domingos e segundas até 09 de dezembro.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

FEDERICO, GIULIETTA E AS DATAS.


 

     Federico Fellini nasceu em Rimini no dia 20 de janeiro de 1920, Giulietta Masina nasceu em Roma 11 meses depois, no dia 22 de fevereiro de 1921.
 
 

     Casaram-se bastante jovens no dia 30 de outubro de 1943 e permaneceram juntos completando 50 anos de casados no dia 30 de outubro de 1993.
 
 
     Fellini morria no dia seguinte (31 de outubro de 1993) e Giulietta conseguiu viver neste mundo sem seu amado Federico apenas mais quatro meses e 23 dias; partiu em 23 de março de 1994.
 
 

     No próximo dia 30 o genial casal completaria 70 anos de casados e no dia 31 vai fazer 20 anos que Fellini nos deixou. Minha homenagem emocionada a esse casal que tantas emoções nos deu e ainda nos dá por meio dos seus filmes eternos. Eles se foram, mas Gelsomina, Cabiria e tantas outras personagens estarão conosco para sempre.

 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

4º FESTIVAL DE TEATRO DE RIBEIRÃO PRETO



 



     No período de 01 a 14 de novembro acontece o 4º Festival de Teatro de Ribeirão Preto composto de uma Mostra Nacional e uma Mostra Local Panorama 016, sendo esta última reservada para espetáculos realizados por grupos da cidade. O Festival não tem caráter competitivo e tem como objetivo geral a divulgação da cultura por meio do teatro. A realização é uma parceria entre a Secretaria Municipal da Cultura e o Movimento Teatreiros RP.




Os curadores

 
 

 
 

 
     A curadoria do Festival foi realizada por Paula Klein, por Jefferson Zanchi e por mim. No período entre 30/09 e 04/10 avaliamos cerca de 150 trabalhos por meio de vídeos enviados pelos proponentes, da análise dos dados contidos nas fichas de inscrição e, quando necessário, da leitura do texto do espetáculo.
 
A equipe de trabalho
     Teatro é a arte do efêmero, do aqui e agora, do ator na presença do espectador e da dinâmica criada nessa relação. Tudo isso se perde num vídeo que pode, além disso, ter problemas de gravação (imagem, som e ângulo em que o espetáculo foi gravado). Cientes dessas limitações realizamos o trabalho pré-aprovando numa primeira fase 32 espetáculos para a Mostra Nacional, num segundo exame mais detalhado chegamos aos oito projetos aprovados (SIMBÁ de Uberlâdia; MARCELO, MARMELO, MARTELO de Rio Preto; LA SVERGOGNATA de Belo Horizonte; SOBRE ANJOS E GRILOS de Porto Alegre; DANTON.5 de São Paulo; DOM QUIXOTE DELE MESMO de Ribeirão Preto: CABEÇA DE PAPELÃO de São Paulo e LIÇÕES DE MOTIM de Goiânia) e aos quatro suplentes (BARRELA de Ribeirão Preto; AS ROSAS DO JARDIM DE ZULA de Belo Horizonte; O RIO de São Paulo e SALAMALEQUE de São Paulo).
     Para a Mostra Panorama 016 foram analisadas as 13 encenações inscritas tendo sido selecionadas oito (VIAJANTES; ANTES DA BRANCA FLOR; O JOVEM TEIMOSO; NINGUÉM TAÍ; ALEXANDRE ENTRE XIQUEXIQUES E MANDACARUS; A.B.ISMO  e (OUTRAS) HISTÒRIAS REAIS).
Visita à Secretaria da Cultura
     A curadoria contou com forte apoio logístico de vários integrantes da Secretaria da Cultura assim como de uma representante dos Teatreiros.

     No último dia houve um encontro entre membros de grupos de teatro da cidade, os curadores e o pessoal da Secretaria da Cultura. Num bate papo bastante franco e honesto discutiu-se sobre os espetáculos de Ribeirão Preto inscritos no Festival e sobre as dificuldades em se fazer teatro seja em Ribeirão Preto, seja em qualquer outro lugar deste país tão alheio às questões culturais.
     Choppinho no Pinguim após os trabalhos, porque ninguém é de ferro!
 
     Agora resta esperar que os espetáculos selecionados cumpram aquilo prometido nos vídeos e que o Festival seja um grande sucesso.
 
 

 

domingo, 13 de outubro de 2013

CANASTRÕES – TEATRO NO TEATRO



     Coincidência ou não seis dos bons espetáculos que estiveram em cartaz na cidade neste atraente segundo semestre tratam do assunto teatro. São eles:
     - Eu Não Dava Praquilo – Homenagem à grande Myrian Muniz com relatos sobre sua vida e seus trabalhos no teatro.
     - Azul Resplendor – Peça peruana que mostra os bastidores dos ensaios de uma peça onde uma veterana atriz fará sua volta aos palcos.
     - Jacinta – A deliciosa peça de Newton Moreno conta os percalços da pior atriz do mundo em busca dos aplausos.
     - Cacilda!!! – Terceira investida do Teatro Oficina na vida e na obra da grande Cacilda Becker.
     - Os Gigantes da Montanha – A bela montagem desta peça inacabada de Pirandello pelo Grupo Galpão mostra uma companhia decadente de teatro e os limites entre realidade e ficção.
     - A Madrinha Embriagada – Até este despretensioso espetáculo mostra os meandros de uma produção musical.
     Para coroar as produções sobre esse tema entrou em cartaz na semana passada no Sesc Belenzinho  Canastrões.
     Escrita e dirigida pelo galego Moncho Rodriguez a peça faz uma homenagem ao ator Paulo Gracindo (1911 – 1995) e é interpretada por Gracindo Júnior e por seus filhos Gabriel e Pedro. A julgar por este brilhante trabalho chega-se a pensar que talento é uma coisa genética.
 
 Paulo Gracindo
     Num clima de magia próprio do bom teatro onde a imaginação do espectador alcança voos esplendorosos por meio das palavras e dos gestos dos atores assiste-se à trajetória dos três mambembes e seus canastrões (baús que carregam todo o imaginário acumulado pelos atores). Tudo por meio do sofisticado e lúdico texto de Moncho Rodriguez que nos remete a várias fases do teatro universal citando, entre outros, Shakespeare e Gil Vicente (este numa cena memorável de Pedro Gracindo).
 
 
     Sem querer fazer ligação com o sobrenome do trio, os três atores estão em estado de graça. Gracindo Júnior tem uma atuação memorável como o ator mais vivido que conhece todo o poder do teatro e da imaginação e seus dois filhos não deixam por menos realizando um trabalho que se aproxima de uma dança tal a beleza de seus gestuais; além disso, Pedro Gracindo toca vários instrumentos em cena.
     Para completar a magia os figurinos, o cenário e a iluminação são perfeitos; todos eles também de autoria do autor/diretor que assim acumula cinco funções na encenação.
     Os momentos em que os atores solicitam a imaginação do público são de rara emoção e dignos do melhor teatro.
 
 
     Em cartaz apenas até o dia 03 de novembro, Canastrões é um espetáculo que não pode deixar de ser visto por aqueles que acreditam na magia e na força do teatro.
 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

TUDO SOBRE GALILEU... MENOS GALILEU.


               

 
     Esta é a última semana para se assistir a um dos mais surpreendentes espetáculos da temporada. Trata-se de Folias Galileu montado pelo grupo Folias.



 
 Nani de Oliveira
     O Folias teve duas perdas significativas: uma irreparável com a morte do dramaturgo e ator Reinaldo Maia em abril de 2009 e logo em seguida outra com o afastamento de Marco Antonio Rodrigues que dirigiu a maioria dos trabalhos do grupo. De lá para cá por obra de alguns abnegados que mantiveram o espaço, o Folias vinha apresentando espetáculos em busca de um caminho. Parece que o encontraram neste inventivo Folias Galileu que recria a trajetória do polêmico cientista italiano a partir daqueles que a coadjuvaram.
 
 
Gisele Valeri
 
     Andrea Sarti, sua mãe Dona Sarti, Ludovico, a filha Virginia, Federzoni e o cardeal Barberini, entre outros, nos fazem seus relatos por meio de monólogos ambientados em todos os recantos do espaço do Galpão do Folias (a sala principal é usada apenas no início e no fim). Cada “buraquinho” do teatro foi usado, inclusive a bilheteria, a rua e o boteco em frente que é responsável por um momento mágico da encenação.
 

Carlos Francisco
 
     Algumas cenas são memoráveis como as vividas por Carlos Francisco (um homem simples mostrando as possibilidades infinitas de se olhar para alguma coisa), por Nani de Oliveira (sempre uma presença poderosa) e em especial aquela criada por Gisele Valeri (Dona Sarti falando em italiano sobre a paura com o futuro de Andrea).
     A dramaturgia da peça criada pelo grupo e por Rafaela Penteado e Heloisa Cardoso é coesa e bem amarrada. A concepção cênica de Dagoberto Feliz é sinônima do sobrenome do diretor, criando cenas muito criativas como a do menino Andrea, a hilária protagonizada por Federzoni e o belo e emocionante final quando Andrea pega os Discorsi de Galileu e parte para atravessar a fronteira italiana com eles. O mundo vai tomar conhecimento dos descobrimentos do Mestre!


 
     Entendo Folias Galileu como o primeiro trabalho de fôlego da nova fase do Galpão do Folias e há muito pulmão nesse importante e necessário grupo paulistano.
Sábado 21h, Domingo 19h e Segunda 21h. Só neste fim de semana. Para não perder.

 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

BURACO D’ORÁCULO CONTA A SAGA DA MIGRAÇÃO



À procura de um lugar.
 
     Por razões diversas sempre ligadas à carência de necessidades básicas o migrante resolve abandonar seu lugar de origem, normalmente no caso do Brasil, situado em zonas rurais do Nordeste. Viaja em condições sub-humanas para as grandes cidades, onde é hostilizado pelos seus próprios pares que o consideram um concorrente (Mais um Zé?) e reprimido pelas autoridades tanto policiais como aquelas do assim chamado serviço social; alguns podem ter a chance de ser recebido por algum parente ou amigo que também vive em condições precárias. Arranja um subemprego, vai morar numa favela, passa pela tentação das drogas e da facilidade de ganhar dinheiro de forma ilícita, é despejado da favela e se tiver sorte vai viver num desses prédios desumanos e impessoais; com pouco menos de sorte se desloca para outra favela cada vez mais periférica ou ainda, volta para o centro da cidade para morar...na rua. De uma maneira ou de outra vai vivendo sua vida que nunca deixa de ser miserável, além de sentir uma grande melancolia por nunca ter podido voltar a rever os parentes e o torrão natal.
Edson Paulo, Lu Coelho, Adailton Alves
Lu Coelho, Selma Pavanelli

Heber Humberto: "Nem me fale!"

Caixa/Mala/Camarim
 
     O espetáculo Ser Tão Ser do grupo Buraco D’Oráculo dá conta dessa trajetória num conciso e bonito trabalho com uma hora de duração, perfeito para manter atento o público de uma peça de rua. Baseado em relatos de moradores da zona leste de São Paulo, o grupo criou coletivamente o espetáculo, que é dirigido por Adailton Alves. Tudo é mostrado com muita garra pelos cinco atores (com suas significativas e belas caixas/malas/camarins ambulantes) de maneira lúdica e econômica (o espetáculo não tem pontos mortos).
     Taiguara, o injustiçado cantor brasileiro, dizia em uma de suas canções que “só não sofreu quem não viu, não entendeu quem não quis”, o militante Buraco D’Oráculo termina seu espetáculo repetindo o refrão: “Se o povo soubesse o valor que tem/Não aguentava desaforo de ninguém". Ficam algumas perguntas que, absolutamente, não invalidam trabalhos como esse: quanto que ele vai contribuir para dar um final mais honroso para a saga descrita acima? Moradores de rua e público da periferia absorvem o recado dado? Se absorverem, o que vão fazer com ele?  Não é mole não, Seu Brecht!