A julgar pelos dois trabalhos apresentados
até o momento, a I Mostra de Dramaturgia em
Pequenos Formatos Cênicos do CCSP idealizada por Kil Abreu pode se
considerar um grande sucesso. Por sinal as inscrições para a segunda edição já
estão abertas.
O instigante Mantenha Fora do Alcance do Bebê indicado para o Prêmio APCA de
dramaturgia (Silvia Gomez) é seguido desta excelente fábula dramática O Taxidermista de René Piazentin.
O Taxidermista: René Piazentin e seus animais falantes.
Fábula tocante sobre vida e morte,
corpo e alma e mais que tudo sobre a trajetória dos seres humanos (ou não!)
neste mundo conturbado em que vivemos. A ação se passa em algum lugar do futuro.
Existe o lado de cá e o lado de lá. Deste lado reina o caos e a destruição e
parece que depois do túnel existe alguma luz.
Por meio da história do taxidermista do
lado de cá que tem um zoológico de animais falantes que estão mortos e empalhados
e da menina que vai até ele para empalhar seu cão morto, “único elo com o curto
espaço de tempo em que foi feliz”, Piazentin nos conduz para um universo
sombrio levantando de forma poética e lúdica (sim, o espetáculo nos faz rir em
vários momentos) questões básicas dos homens: o que eu sou?, onde estou? para onde
eu vou?.Em certo momento o taxidermista pergunta para a menina “Como você se
imagina, para sempre?” e a questão ressoa forte em nossos corações e mentes até
muito tempo após o final da apresentação.
As falas dos animais são espetáculo à
parte e aquela da zebra quase ao final do espetáculo pode fazer parte de
qualquer antologia de teatro. Também merecem destaque as divertidas cenas dos
quatro cavalos onde podemos notar uma forte denúncia sobre o preconceito racial.
Com exceção do taxidermista, bravamente
defendido por Rodrigo Sanches, os outros ótimos atores da Cia. dos Imaginários se
revezam na interpretação das demais personagens trocando apenas algum elemento
do vestuário, destacando-se mais em uma do que nas outras: as deliciosas
girafas (Aline Baba e Waldir Medeiros), o cão Toy (Renata Weinberger), a garota
Lola (Luana Frez) e, é claro, a zebra (Kedma Franza). Numa interessante
movimentação cênica os atores também manipulam os poucos e eficientes objetos
de cena que compõem o cenário.
Além da autoria, René Piazentin
encarrega-se da direção do espetáculo pontuado por bela trilha sonora também de
sua autoria.
No programa da peça o encenador Nelson
Baskerville recomenda “Permita-se comover-se”. A comoção com este magnífico espetáculo
surge de forma natural e impulsiva; garanto que mesmo que se policie, a emoção
tomará conta de você.
O desfecho da peça é ótimo achado dramatúrgico
que não deve ser revelado sob pena de quebrar a surpresa do mesmo. Por sinal:
existe alguma luz depois do túnel?
Acredito que a peça teria grande
aceitação e repercussão em uma plateia de pré-adolescentes e jovens em geral.
O TAXIDERMISTA está em cartaz no Centro
Cultural São Paulo com entradas gratuitas às sextas e sábados (21h) e aos
domingos (20h) por apenas quatro semanas (até 09/08). ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL.
CORRA PARA VER!
12/07/2015