quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

TIO ZANON, TIA SOLIDEIA E A NONNA AGNESA


Minha nonna Agnesa nasceu Virginia Negri em 1871 na cidade de Rovigo na região vêneta da Itália. Teve infância muito pobre, casou cedo e imigrou para o Brasil no final do século 19 com o marido e uma filha pequena (Ada). Na viagem, na terceira classe de um navio, o marido morreu e foi jogado ao mar. Chegou aqui com uma criança de colo, analfabeta e sem conhecer a língua. Parece que algum parente a estava esperando no porto de Santos e ela foi levada para o interior de São Paulo (região próxima a Amparo) para trabalhar na lavoura. Lá ela conheceu o Moisés com quem se casou e teve mais seis filhos (Julieta, Cesar, Bianca, Amadeu, Severina e Clotilde minha mãe, a caçula, nascida em 1914, quando o pai já tinha morrido). Agnesa estava viúva outra vez com sete filhos para criar! E os criou com o suor de seu trabalho, sem jamais perder o humor e a vontade de viver.

Da esquerda para a direita: Julieta, Amadeu, Severina, Agnesa, Moisés, Cesar e Bianca. Clotilde ainda não tinha nascido e Ada já devia ter casado.

Ela falava muito do Tio Zanon e da Tia Solideia. Qual seria o grau de parentesco deles? Seria ele aquele parente que a foi esperar em Santos? Parece que ele era seu irmão, logo a Solideia era cunhada, mas de nada disso temos certeza e já faz 57 anos que ela faleceu e depois disso minha mãe de vez em quando voltava a lembrar desses tios dos quais não sabíamos quase nada. Infelizmente todas as pessoas que poderiam esclarecer alguma coisa sobre eles levaram esse conhecimento para o túmulo.

Zanon era nome ou sobrenome? Diziam que era apelido de João, mas ele era italiano, logo era Giovanni e não João. Se era sobrenome, será que o músico Fabio Zanon é descendente dele? Mas se ele era irmão da Agnesa, ele deveria ser Negri! E Solideia? Que nome mais esquisito! O Google conta que é o feminino de solidéu, aquele barrete usado pelos judeus.

Parece que moravam ou tinham morado na Vila Ema. Outra vertente diz que eles moravam no Paraná, o que é mais plausível porque nunca houve troca de visitas entre eles e nós. Pode ser também que nunca tenham saído da Itália, mas o nome Solideia vai contra essa hipótese porque solidéu em italiano é zucchetto, então ela seria Tia Zucchetta e não Solideia!

Ainda estavam vivos naquela época? Qual o sobrenome deles? Tinham filhos? Sendo contemporâneos da Agnesa, acredito que só seus descendentes da terceira (a minha), da quarta (da minha filha) e da quinta (da minha neta) gerações podem estar circulando por aqui.

Supondo que Tio Zanon era realmente irmão da minha nonna, ele era meu tio em segundo grau e devo ter um bando de primos e primas de enésimo grau circulando por aí. E quem garante que eu não tropeço neles quando atravesso o Viaduto do Chá, ou quando circulo pela Paulista ou ainda quando cruzo a Ipiranga com a Avenida São João? Talvez quando vou ao cinema ou ao teatro ou mesmo à feira ou ao mercado? Talvez sejam meus vizinhos e nenhum dos lados desconfia disso!

Talvez você que está me lendo seja um deles: 

- Você teve bisavós ou tataravós chamados Zanon e Solideia? Em caso positivo vamos nos encontrar para celebrarmos nosso parentesco e para você me esclarecer de vez quem foi Zanon e quem foi Solideia! Se tiver, traga uma fotografia deles! 

Não sei quem foi Zanon e Solideia, mas tenho muito viva na memória a presença alegre e lúcida da nonninha Agnesa que alegrou a minha infância e juventude com suas histórias e suas rimas (para tudo que se falava ela tinha uma rima que improvisava na hora). Sua velinha se apagou em 1964 aos 93 anos, quando eu tinha 20 anos. 57 anos de muita saudade!

27/01/2021

 

 

 

domingo, 24 de janeiro de 2021

O URSO



Mais uma delícia do Grupo TAPA e de Eduardo Tolentino!

A peça curta de Tchekhov já prenuncia o grande talento do dramaturgo russo para mostrar as relações entre indivíduos e há nela um “quê” de A Megera Domada de Shakespeare; aliás, se o TAPA remontar a peça do bardo já tem em Dalton Vigh um perfeito Petrucchio para substituir Ernani Morais que interpretou a personagem na montagem de 1991.

É uma trama simples onde poderoso senhor de terras vem cobrar dívida contraída pelo falecido marido de uma jovem viúva. Após furioso embate entre eles, sempre mediado pelo servil criado dela, os dois se apaixonam e serão felizes para sempre (?).

Brian Penido Ross empresta todo seu talento para o pobre mujique que leva bofetadas de todos os lados e obedece com um sorriso nos lábios, mas, à parte, comenta e ironiza a ação.

Camila Czerkes não tem as covinhas nas bochechas requeridas pelo autor, mas tem beleza e talento suficientes para representar a viuvinha.

Dalton Vigh dota o seu Smirnov de muita garra e energia e brilha ao notar que está perdendo o juízo ao se apaixonar por sua antagonista.

Destaque para o cenário com móveis antigos e espelhos que oferecem belos resultados visuais, mesmo para quem está assistindo em um notebook.

Seria muito bom se esses espetáculos virtuais do TAPA ficassem disponíveis possibilitando sua fruição para aqueles que não tiveram a oportunidade de vê-los no dia da apresentação. 

24/01/2021

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

PRÊMIO APCA DE TEATRO DE 2020

 

Conforme já divulgado, nesse ano excepcional os jurados da área de teatro da Associação Paulista de Críticos de Arte resolveram instituir apenas três prêmios nas categorias ESPETÁCULO, ESPETÁCULO VIRTUAL e PRÊMIO ESPECIAL, indicando cinco títulos para cada categoria.

Na noite de 17 de janeiro de 2021, os críticos Celso Curi, Edgar Olímpio de Souza, Evaristo Martins de Azevedo, José Cetra Filho, Kyra Piscitelli, Maria Eugênia de Menezes, Miguel Arcanjo Prado e Vinício Angelici voltaram a se reunir virtualmente para a escolha dos premiados entre os indicados de cada categoria: 

ESPETÁCULO: BERTOLEZA . Cia. Teatral Gargarejo. Texto: Anderson Claudir e Le Tícia Conde. Direção Anderson Claudir.

ESPETÁCULO VIRTUAL: PEÇA. Concepção e atuação: Marat Descartes. Direção: Janaína Leite


PRÊMIO ESPECIAL: SÉRIE “CENA INQUIETA”  em 26 episódios dirigida por Toni Venturi com curadoria de Silvana Garcia sobre teatros de grupo brasileiros.


Lamentou-se também a perda de dois jurados da área de teatro nesse difícil ano de 2020: Erika Riedel e Michel Fernandes. 

Reproduzo abaixo excertos de minhas observações pessoais sobre os premiados, retirados de matérias escritas ao longo do ano: 

BERTOLEZA:

” Com os olhos cheios de lágrimas e o coração palpitando. Com um sorriso nos lábios e muita indignação na alma. Com a palma das mãos ardendo de tanto aplaudir. Foi assim que eu saí de um dos espetáculos mais emocionantes e mais surpreendentes a que assisti neste início de ano.” (17/02/2020)

PEÇA:

“Esse trabalho virtual de Marat Descartes talvez seja aquele que melhor representa o estado de espírito de toda população mundial com o isolamento social provocado pela pandemia da covid 19. Surpresa, indignação, desespero, angustia, ansiedade, revolta, tristeza, saudade, solidão, quem de nós já não sentiu e ainda sente isso em maior ou menor grau nestes tristes tempos?” (12/01/2021)

CENA INQUIETA:

No meu modo de ver CENA INQUIETA foi o mais importante acontecimento teatral deste turbulento ano de 2020 e aquele que mais contribuiu para o fazer teatral e a divulgação do teatro de grupo, setor em geral ignorado pela mídia.” (14/12/2020) 

Meus parabéns aos premiados!

E fica aqui minha homenagem pessoal a PROTOCOLO VOLPONE: 

Protocolo Volpone é um marco histórico no teatro paulistano, quiçá no teatro brasileiro, e trata-se do espetáculo da retomada: primeira encenação a incorporar o protocolo do isolamento social provocado pela pandemia com o uso de máscaras (elenco e espectadores), cabines isoladas e todos os demais procedimentos que fazem com que a encenação seja segura tanto para quem faz como para quem assiste.” (25/10/2020)

Que 2021 nos leve outra vez  a gente de verdade e ao teatro que tanto amamos!

O TEATRO NOS UNE

O TEATRO NOS TORNA FORTE

VIVA O TEATRO! 

18/01/2021

 

 

 

 

 

 

 

VIDAS À MARGEM

 

Mais uma vez o Grupo TAPA dá o chute inicial na temporada teatral paulistana. Em 2019 foi O Jardim das Cerejeiras; em 2020, Brincando Com Fogo e neste início de 2021, Vidas à Margem, agora no formato virtual.

        Vidas à Margem é um espetáculo com dramaturgia do grupo a partir de duas peças curtas de dois dramaturgos norte-americanos: Eugene O’Neill (1888-1953) e Tennessee Williams (1911-1983).

 Segundo o   release, o nome dado ao espetáculo é uma “brincadeira paródica” com À Margem da Vida, “tradução absurda” feita no Brasil por Esther Mesquita em 1948 para The Glass Menagerie :O Zoológico de Vidro, na tradução literal usada tanto por Marcos Daud como por Clara Carvalho que, em momentos distintos, traduziram o texto.

 Para o bem e para o mal, liberdade para traduzir títulos é prática comum, haja vista o caso do cinema (em exemplo do próprio Williams, seu bonde se tornou rua e o desejo virou pecado!). Neste caso, no meu modo de ver, o título dado por Esther Mesquita não é nada absurdo e isso até se reforça com o título do presente espetáculo: afinal de contas tanto os Wingfield como os dois casais de Vidas à Margem são pobres figuras disfuncionais, marginalizadas da sociedade e com vidas pouco felizes e sem perspectivas. Além disso, À Margem da Vida é bem mais poético e bonito do que O Zoológico de Vidro, além de ter apelo mais cativante para o público. 

        Mas voltemos a Vidas à Margem! São duas cenas independentes unidas pelo mesmo universo de perdedores do qual fazem parte as personagens.

        A primeira é inspirada em Antes do Café de Eugene O’Neill (informação que me foi dada gentilmente por André Garolli, amigo e expert em O”Neill). Um escritor/narrador (Flávio Tolezani) escreve e conta a história de uma mulher maltratada pela vida que trabalha muito para sustentar a si e ao marido Alfred, um bêbado eternamente desempregado e que além de tudo lhe é infiel. Natalia Gonsales tem seu grande momento nesta cena. O plano principal adotado pelo

diretor Eduardo Tolentino de Araújo coloca a mulher de frente para a câmera com o escritor em segundo plano falando as rubricas ao mesmo tempo que reage às atitudes dela com expressões faciais. Belo e significativo momento do teatro virtual utilizando técnicas cinematográficas.

        A segunda cena é inspirada na conhecida peça curta de Tennessee Williams Fala Comigo Como a Chuva e Me Deixa Ouvir e coloca em ação um casal também maltratado por uma vida da qual a mulher vislumbra uma eventual saída que, no entanto, nunca ocorrerá. Interpretação intensa e vigorosa do casal Natalia Gonsales/Flávio Tolezani que revela maturidade interpretativa muito bem-vinda.

        A direção de Eduardo Tolentino segue o padrão de excelência TAPA.

        Louve-se o considerável progresso técnico desses trabalhos virtuais realizados pelo Grupo Tapa. A maioria dos espetáculos de 2020, apesar da inegável qualidade artística, apresentava sérios problemas de som e imagem, algo que, a julgar por Vidas à Margem, está sanado.

        18/01/2021

       

                         

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

INDICADOS PARA O PRÊMIO APCA DE TEATRO - 2020

 

2020 não foi um ano para comemorações em função da tragédia provocada pela pandemia da Covid-19, por outro lado seria injusto não celebrar a importância dos espetáculos realizados no primeiro trimestre do ano e também as iniciativas daqueles que bravamente enfrentaram outras linguagens para oferecer ao público o que se convencionou chamar de teatro virtual.

Com esse pensamento Celso Curi, Edgar Olímpio de Souza, Evaristo Martins de Azevedo, José Cetra Filho, Kyra Piscitelli, Maria Eugênia de Menezes, Miguel Arcanjo Prado e Vinício Angelici - críticos da área de teatro da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) -   se reuniram virtualmente no dia 12/01/2021 para definir critérios especiais para a premiação de 2020.

Serão premiadas apenas três categorias: Espetáculo, Espetáculo Virtual e Prêmio Especial. 

O Júri acredita que dessa forma conseguiu enaltecer os esforços para premiar o teatro que se reinventou, se provou e cresceu. Mas sem esquecer de refletir ano tão duro que foi de luta para artistas e técnicos. 

Os vencedores serão divulgados após reunião da associação, na semana que vem. Entre os indicados de cada categoria será escolhido um vencedor, totalizando três vencedores em 2020. O modelo e data de premiação ainda serão definidos e divulgados quando oportuno. 

Segue a relação dos indicados por categoria: 

ESPETÁCULO: 

- A Cor Púrpura – O Musical

- Bertoleza

- Elisabeth Costello

- Fóssil

- Protocolo Volpone 


ESPETÁCULO VIRTUAL: 

- A Arte de Encarar o Medo

- Jacksons do Pandeiro

- Na Sala com Clarice

- Peça

-Tudo o Que Coube Numa VHS: Experimento sensorial em confinamento.

 

PRÊMIO ESPECIAL: 

- Cia. Os Crespos, pela valorização do teatro negro em 15 anos de trajetória

- João Acaiabe, pelos 50 anos de trajetória artística e pioneirismo na representatividade negra nos palcos e nas telas.

- Projeto #mungunzadigital, da Cia. Mungunzá de Teatro, com entrevistas e transmissões ao vivo nas páginas digitais da companhia.

- Série “Cena Inquieta” em 26 episódios dirigida por Toni Venturi com curadoria de Silvana Garcia sobre teatros de grupo brasileiros.

- Série “Protagonistas Invisíveis” em 14 episódios idealizada por André Grecco e dirigida por Adriana S. Lopes sobre técnicos de teatro.

O TEATRO NOS UNE

O TEATRO NOS TORNA FORTE

VIVA O TEATRO! 

São Paulo, 12 de janeiro de 2021

 

 

 

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

GUIA OFF

 

Com exceção de alguns poucos números, tenho o Guia OFF em meu acervo desde o número um.

Além das consultas a horários e locais de espetáculos, o Guia é importante fonte de consulta para minhas pesquisas teatrais e para isso é fundamental que eu o mantenha em acervo. 

23 anos separam aquele primeiro número de setembro/outubro de 1996, quase um folheto, que trazia Marco Nanini na capa e anunciava 20 peças em cartaz e uma relação de 24 teatros; da última edição impressa (número 280), de março de 2020, um livreto com 52 páginas com Eric Lenate na capa anunciando 105 peças (sem contar dança, eventos e teatro infantil) e uma relação de 77 espaços teatrais.

 

Neste ano de pandemia o Guia saiu normalmente até o fatídico março e em edição on line a partir de abril e eu imprimi essas novas versões para mantê-las junto com os demais exemplares.

Acabo de imprimir a edição 290 de janeiro de 2021 (agora são 24 anos) ainda on line. Receberei com muito júbilo a notícia que a versão impressa voltou a circular porque isso será um sinal que a vida teatral estará voltando ao normal. Será lindo e significativo ter a edição 300 impressa em outubro/novembro de 2021 comemorando os 25 anos do Guia. 

Agradeço ao Celso Curi e ao Wesley Kawaay pela continuidade da edição do Guia em versão on line mesmo que isso esteja me custando muitas folhas de papel, tinta da impressora e algum tempo para recortar e montar o Guia!! (risos) 

05/01/2021