Todo
dia pela manhã eu tiro meu moletom cinza claro e coloco o moletom cinza escuro,
trocando também a camiseta de dormir pela camiseta do dia. Coloco as havaianas
e vou viver meu dia de quarentena.
No
final da tarde tiro o moletom cinza escuro, tomo meu banho e já coloco o
moletom cinza claro e a camiseta com a qual vou dormir.
Nesses
três meses de isolamento esse tem sido o meu vestuário, com exceção dos dias em
que os ponho para lavar e sou obrigado a colocar um moletom de reserva mais
velho ainda. Prometi para mim mesmo que no dia em que quarentena acabar a
primeira coisa que vou fazer é colocar esses moletons no lixo.
Mas
hoje foi diferente! A rotina continuou a mesma até o banho, mas depois dele eu
me paramentei com calça preta de sair, meias, sapato engraxado e um belo
conjunto de blusas argentino preto e cinza. Passei perfume e até coloquei anel
no dedo. Modéstia a parte até que me achei bonito e fiz uma selfie para
documentar o momento histórico.
Estava
pronto para ir ao teatro! SIM! Ia assistir ao trabalho de artistas queridos
pelo Zoom, algo que até ontem eu não tinha a menor ideia do que fosse. Já
externei meu ponto de vista que respeito teatro filmado e lives, mas que não vejo essas manifestações como teatro. Teatro é a
arte do encontro entre ator e espectador, cara a cara, olho no olho; é arte do
efêmero.
Bruno
Kott utilizando na plataforma digital uma tecnologia que eu não vou saber
explicar, consegue uma outra via que é live,
mas cria uma atmosfera de encontro e de efemeridade chegando o mais próximo possível
daquilo que é teatro.
Bruno Kott
Escolheu
para isso texto bastante ligado ao teatro do absurdo do dramaturgo romeno Matéi
Visniec (A História dos Ursos Pandas
Contada Por Um Saxofonista que Tem Uma Namorada em Frankfurt), adaptando-o
para as conveniências desse projeto. A peça ganhou o título de Pandas ou Era Uma Vez em Frankfurt
condensando em três noites o que no original se passava em nove, alem disso
alterou o final, fazendo-o mais aberto, o que para mim, deu maior significado
para a trama.
Nicole Cordery
Mauro Schames
Nicole
Cordery é a atriz excepcional de sempre, muito bem acompanhada de Mauro Schames
e apesar de estarem atuando em locais físicos distintos a interação entre eles
é total. Manipulam objetos de um espaço ao outro, além de criarem climas
inusitados com a mudança do cenário que pode ir de um quarto abarrotado de
objetos a uma bucólica paisagem (coisas da tecnologia que eu não entendo muito
bem).
Ao
final do espetáculo os espectadores se encontram com o diretor e os atores para
um delicioso bate papo e para receberem os mais que merecidos aplausos.
Não
é teatro no sentido mais rigoroso, mas chega bem perto.
Gostei
da experiência!
28/05/2020