sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

ZESCAR TEATRO 2019



O melhor (e o pior) do teatro em São Paulo em 2019 na visão de José Cetra Filho

        Em um ano em que o teatro perdeu, entre outros, Bibi Ferreira, Ruth de Souza, José de Anchieta, Sônia Guedes, Tunica, Antunes Filho e Patrício Bisso e ainda viu chegar ao poder o sórdido Seu Rêgo creio que não há muito que comemorar, mas o show tem que continuar e foi bonito presenciar a potente temporada teatral paulistana que, remando contra a maré, colocou em cartaz cerca de 700 títulos, sem considerar os espetáculos infantis (~ 280) e os stand ups (~ 80).
        Todo ano reluto em publicar uma lista de melhores, haja vista a proliferação de tais listas e dos 4.727 indicados para prêmios, por outro lado quero deixar públicas as minhas preferências uma vez que há espetáculos que estão na minha lista de melhores que não aparecem em nenhuma outra lista, assim como, há trabalhos que incluo nos piores do ano e que alguns classificam entre os melhores.
         O ZESCAR é minha lista pessoal. Ela leva em conta os 224 espetáculos ao vivo (peças, shows, concertos, balés) a que assisti no ano e nada tem a ver com a minha participação em comissões de premiação onde os premiados são eleitos por votação e nem sempre correspondem àqueles que classifico como os melhores.
        Para não ser totalmente injusto, listo também aqueles “perdidos” que julgo terem sido importantes. É incrível que mesmo indo ao teatro de 4 a 5 vezes por semana e tendo assistido a 213 peças teatrais, ainda restaram 23 que não tive a oportunidade de ver.        
        Distribuo também os RACSEZ para os piores do ano, mas me permito ser politicamente correto não divulgando essa lista, pois atrás de cada um desses dez títulos (este ano foram poucos) houve corrimento de sangue, suor e lágrimas para sua realização.
        Meus preferidos são contemplados “virtualmente” com o troféu ZESCAR.
        Essa história do ZESCAR começou com uma brincadeira. Há muitos anos que faço minha lista particular do que considero os melhores do teatro e do cinema. Minha cunhada um dia brincou perguntando quando eu ia distribuir o ZESCAR (amálgama de Zé com o Oscar do cinema norte americano). A partir daí esse se tornou o nome da minha lista e nos últimos anos eu a torno pública por meio deste blog.
        Minha lista está dividida em categorias e não há um número certo para cada categoria (se listo só dois é porque foram só eles, assim como posso listar sete ou mais). Por categoria, a lista está em ordem alfabética.
 
        ESPETÁCULOS:

        - A Desumanização (SP)
        - As Crianças (RJ)
        - Boca de Ouro (Grupo Oficcina Multimédia) (MG)
        - Casa Submersa (Velha Companhia) (SP)
        - Condomínio Visniec (SP)
        - Insônia – Titus Macbeth (Estúdio Lusco-Fusco) (SP)
        - Kintsugi, 100 Memórias (Grupo Lume) (SP)
        - Noite (Grupo Sobrevento) (SP)
        - O Auto da Compadecida (Grupo Maria Cutia) (MG)
        - Todos os Sonhos do Mundo (Satyros) (SP)
        - Tom na Fazenda (RJ)

        ESPETÁCULOS MUSICAIS:

        - Cole Porter – Ele Nunca Disse Que Me Amava (RJ) – Remontagem de espetáculo estreado em 2000 e que mantém o brilho original.
        - Sunset Boulevard (SP)

        DIREÇÃO:

        - André Garolli – Inferno – Um Interlúdio Expressionista
        - André Guerreiro Lopes – Insônia – Titus Macbeth
        - Bruno Perillo – Chernobyl e O Beijo no Asfalto
        - Clara Carvalho – Condomínio Visniec
        - Daniel Alvim – Cordel do Amor Sem Fim
        - José Fernando Azevedo – As Mãos Sujas
        - José Roberto Jardim – A Desumanização
        - Rodrigo Portella – Tom na Fazenda e As Crianças
        - Yara de Novaes e Carlos Grandin – Brian ou Brenda

        ATRIZ:

        - Analu Prestes – As Crianças
        - Christiane Tricerri – Frida Viva la Vida
        - Débora Duboc – A Valsa de Lili
        - Esther Laccava – Ossada
        - Juçara Marçal – Gota D’Água Preta
        - Lara Cordulla – Dolores
        - Tânia Bolzan – A Golondrina
        - Virginia Buckowski – Casa Submersa

        (*) Destaque especial para Juliana Sanches que em menos de uma semana assumiu bravamente os papéis originalmente destinados a outra grande atriz (Alejandra Sampaio) na peça Casa Submersa.

        ATOR:

        - Beto Bellini – Um Passeio no Bosque
        - Elcio Nogueira Seixas – O Que Mantém Um Homem Vivo
        - Eric Lenate – Balada dos Enclausurados
        - Grupo Magiluth (todo o elenco) – Apenas o Fim do Mundo
        - Gustavo Merighi – Um Passeio no Bosque
        - Iuri Saraiva – Jardim de Inverno
        - Pedro Vieira – De Volta a Reims
        - Rogério Brito – Ricardo III ou Cenas da Vida de Meierhold

        DRAMATURGIA:

        - Biagio Pecorelli – Res Pública 2023
        - Eloisa Elena – Entre
        - Kiko Marques – Casa Submersa
        - Newton Moreno – As Cangaceiras Guerreiras do Sertão
        - René Piazentin – A Neve
        - Silvia Gomez – Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante

        OUTROS DESTAQUES:

         - Um BRAVO muito especial a todos os técnicos (cenógrafos, cenotécnicos, figurinistas, costureiras, iluminadores, sonoplastas, contrarregras, coreógrafos) que enriquecem os espetáculos da cena teatral paulistana.

        ESPETÁCULOS INTERNACIONAIS:

        - A Repetição (Bélgica) (MIT)
        - Cinco Peças Fáceis (Bélgica) (MIT)
        - Democracia (Brasil/Chile) (MIT)
        - MDLSX (Itália) (MIT)
        - Mucho Ruido Por Nada (Peru) (SESC)
        - Tráfico e As Flores do Mal, ambos de Sergio Blanco (Argentina) (SESC)

        ESPECIAiS (PROJETOS E EVENTOS):

        - CTI (Companhia Teatro de Investigação) pela sede na Vila Ré.
        - Espetáculo Abujamra Presente realizado pelo grupo Fodidos Privilegiados com trechos de peças dirigidas por Antônio Abujamra com o grupo. O espetáculo fez parte do evento Rigor e Caos, abrangente exposição sobre Abujamra realizada no SESC Ipiranga.
        - Espetáculo Meu Discurso idealizado por Robson Catalunha e a atriz croata Vesna Mackovick.
        - Espetáculo Nelson Rodrigues Por Ele Mesmo por Fernanda Montenegro em noite memorável no Theatro Municipal.
        - Espetáculos Terror e Miséria no Terceiro Milênio e Res Pública 2023 pelo posicionamento político-social frente à realidade caótica do país.
        - Grupo Estopô Balaio pelo trabalho na comunidade de Jardim Romano.
        - Homenagem a Antunes Filho com encontro e exposição no SESC Consolação.
        - Hugo Possolo pela nova orientação dada à programação do Theatro Municipal.

        ESPETÁCULOS TEATRAIS PERDIDOS:

        - 45 Graus
        - Através da Iris (Nathalia Timberg)
        - Atrium Carceri
        - Baderna Planet
        - Brancos e Malvados
        - Cabaré Transpoético (Lucélia Santos)
        - Comédias Furiosas
        - Diana
        - Diários do Abismo (Maria Padilha)
        - Guerra
        - Hedda Glaber
        - Jaz
        - Matriarcado de Pindorama
        - Matteo Perdeu o Emprego
        - Manifesto Transpofágico
        - O Ator e o Lobo (Pedro Paulo Rangel)
        - O Bote da Loba
        - O Livro ao Vivo
        - O Santo Dialético
        - O Som e a Sílaba
        - Os Um e os Outros
        - Soror
        - Tutankáton     

        SHOWS:

        - Francis Hime 80 anos, com participação de Mônica Salmaso, Dori Caymmi e Leila Pinheiro.

        DANÇA:

        - Fúria – estonteante espetáculo da Lia Rodrigues Cia. de Danças

        - Nada a destacar em óperas e concertos.


        RESUMO:

        - TEATRO: 213
        - SHOW: 3
        - CONCERTO: 1
        - ÓPERA:1
        - DANÇA: 6

        TOTAL: 224

        E por último:

        RACSEZ PARA OS PIORES DO ANO!
 
 

O TEATRO NOS UNE

O TEATRO NOS TORNA FORTES

VIVA O TEATRO!

        23/12/2019

domingo, 22 de dezembro de 2019

A BANHEIRA



        Rir faz bem; dizem que desopila o fígado! E isso acontece quando a comédia não apela para efeitos rasos e chulos. Confesso que tenho certo preconceito em relação a certo tipo de comédia de forte apelo comercial que é oferecido em alguns teatros da cidade. E havia essa resistência em relação a A Banheira de Gugu Keller que está em cartaz na cidade há cinco temporadas.
        A convite de meu caro André Grecco fui ontem assistir ao espetáculo e me diverti muito!
        A peça de Gugu Keller segue a receita dos bons vaudevilles com as tradicionais entradas e saídas das personagens por várias portas. Assim como a Olímpia de Trair e Coçar É Só Começar, Melissa é a verdadeira protagonista da peça sendo o pivô de todos os divertidos quiproquós da trama. Brincadeira a parte, a peça até poderia se chamar A Traveca Travessa!!
        A história gira em torno de Melissa, travesti que fez programa com um senhor na casa dele e que é surpreendida junto com ele por um assaltante que acaba os trancando no banheiro da casa. A esposa do homem está para chegar e a confusão está armada. O som do celular de Melissa é o motivo das primeiras gargalhadas do público, gargalhadas essas que perduram durante toda a hora e meia da peça.
        André Grecco brilha como a divertida Melissa com trejeitos, caras e bocas deliciosos e bem dosados atingindo o auge da comunicação quando desce à plateia para uma gostosa interação com o público. Jorge Paulo é um divertido assaltante e tem seu melhor momento na parte final quando também é trancado no banheiro. Wagner Maciel representa o marido assustado. Apesar de falarem um pouco baixo, Carol Hubner (a esposa) e Glaura Lacerda (a amiga) também têm seus momentos de humor e Carol poderia tirar mais partido cômico das cenas em que procura a chave se se permitisse “soltar mais a franga”.
        Originalmente a peça foi dirigida por Alexandre Reinecke e atualmente Val Keller assina a “adaptação de direção”.

        Outra boa surpresa foi rever o Teatro Maria Della Costa por dentro! Com exceção das poltronas velhas e desconfortáveis, a sala de espetáculos conserva certa imponência e o palco tem excelente dimensão para voltar a apresentar grandes espetáculos.
 
Plateia do teatro com o cenário de Mira Andrade no palco

         Da parte externa e da sala de espera (que certo dia foi um charmoso café com ares parisienses) não se pode dizer o mesmo e estava mais do que na hora da APETESP devolver à cidade, este espaço que foi um marco do teatro paulistano. É melancólico ver a foto do espetáculo Gimba e o painel na subida da escada abandonados e amarelados pelo tempo.

Painel com a equipe de Gimba (1959), exposto no saguão do teatro
 
        Faz falta também a escultura de Maria Della Costa como Joana D’Arc (da peça inaugural do teatro O Canto da Cotovia em 1954), realizada, se não me engano, por Bruno Giorgi.


 
        Mas esta matéria não quer ser nostálgica: A Banheira é ótimo divertimento e merece uma visita. Volta ao cartaz para sua sexta temporada em 2020 a partir de 03 de janeiro no mesmo teatro às sextas e sábados às 21h30.

 

        22/12/2019

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

UM PASSEIO NO BOSQUE



        No melhor dos sentidos, ares beckettianos e, em especial, de Esperando Godot, rondam aqueles passeios nos bosques suíços de dois diplomatas, um russo e outro norte americano que discutem, ao longo de intermináveis estações do ano, caminhos para o desarmamento e para a almejada, mas nunca encontrada, paz mundial. Paz? Godot? Tudo a ver!
        O texto de Lee Blessing fortalece-se com os diálogos ágeis e fluentes, que permitem até certos momentos de leveza e humor, apesar de tratar de assunto árido e com alta carga dramática. O texto, aliás, vai muito além disso, onde os dois homens (antagônicos ou os dois lados de qualquer ser humano) discutem o sentido da vida e os destinos da humanidade.
        Emílio Di Biasi dirigiu e atuou como o russo numa bela montagem acontecida no ano 2000 no Teatro Alfa, onde Beto Bellini interpretava o norte americano. Desta vez Bellini encarrega-se da personagem do diplomata russo deixando para o jovem e talentoso Gustavo Merighi o papel do norte americano.
        Em seu livro Teatro, David Mamet comenta que “o teste de um bom cenário é: ele é melhor do que o palco nu?”. Para que encher o palco de penduricalhos quando o essencial é a imaginação do espectador? Marcelo Lazzaratto segue a risca esse conceito colocando apenas um banco no amplo espaço cênico do Elevador e com poucos recursos de luz (também de sua autoria), de figurino (Ricardo Pettine) e com apenas dois adereços (uma folha e uma flor) divide o espetáculo nas quatro estações do ano onde a ação acontece. A direção de Lazzaratto é precisa e totalmente concentrada no trabalho dos atores.
 
 
        Beto Bellini tem autoridade e excelente voz para interpretar Andrey, o diplomata russo já há muito tempo exercendo essa função e consciente da ineficácia dessas negociações. A juventude e o porte físico de Gustavo Merighi contribuem para a excelente composição de John, o norte americano a princípio tímido e inseguro, que ainda tem esperança que a paz possa ser negociada.
        O belo dispositivo colocado à frente da cena representaria o equilíbrio das forças e dos pensamentos? O martelo ali colocado poderia representar o elemento que romperia esse equilíbrio? Para este desavisado redator, não ficou clara a simbologia do dispositivo.

        Texto, direção e atores da melhor qualidade. Querer mais é ser guloso!

        UM PASSEIO NO BOSQUE ainda tem três sessões neste ano no Espaço Elevador: Sexta e sábado (21h) e domingo (19h). Até 22/12. NÃO DEIXE DE VER.

        16/12/2019

 

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

FRIDA KAHLO Viva la VIDA


 
        Como é bom para o espectador e para o próprio teatro quando tudo funciona em um espetáculo. É difícil assistir a uma montagem onde a soma dos elementos que a compõem (autoria, direção, interpretação, cenografia, figurinos, visagismo e trilha sonora) resulte tão harmoniosa como neste Frida Kahlo, Viva la Vida.
        Ao entrar na sala já nos deparamos com o aposento mexicano recheado de adereços característicos criado por Kleber Montanheiro a partir do projeto de José de Anchieta, falecido durante os ensaios da peça; a seguir ouve-se a bela canção sobre a personagem  composta por Ricardo Severo, com participação de Cida Moreira e Rubens Caribé nos vocais.
        A poderosa Christiane Tricerri invade a cena muito bem caracterizada (Emerson Murad) com figurino exuberante também assinado por Kleber Montanheiro e banhada pela criativa iluminação de Aline Santini.
        E aí começa a história escrita por Humberto Robles que conta sobre um Dia dos Mortos na vida de Frida Kahlo (1907-1954), onde ela pretende homenagear vivos e mortos que passaram por sua vida, dando destaque, é claro, ao seu grande amor e obsessão Diego Rivera (1886-1957). O texto enfatiza, como o próprio título revela, as grandes força e alegria de viver de Frida, malgrado todos os seus problemas físicos e emocionais
        Em bom momento, Cacá Rosset volta aos nossos palcos em espetáculo que leva a assinatura do Teatro do Ornitorrinco e tendo à frente a presença iluminada de Christiane Tricerri.
        Em uma direção discreta no melhor dos sentidos, Rosset se vale dos elementos teatrais citados acima e dá plena liberdade para Tricerri criar a personagem de Frida e ela o faz de maneira exuberante.
        Um verdadeiro VIVA à vida e ao bom teatro.
        Os deuses do teatro agradecem e nós espectadores, meros mortais, também louvamos essa conjunção de talentos.
 
        FRIDA KAHLO, Viva la Vida está em cartaz no SESC Pinheiro só até 14/12 de quarta a sábado às 20h30.
 
        10/12/2019

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

PRÊMIO APCA DE TEATRO 2019



        Em reunião realizada no Sindicato dos Jornalistas em 09/12/2109, os membros da Associação Paulista de Críticos de Arte elegeram os premiados do ano nas diversas categorias da Associação. Segue abaixo o resultado da categoria teatro adulto:

DRAMATURGIA


- Newton Moreno – As Cangaceiras Guerreiras do Sertão
 
ATOR

- Iuri Saraiva – Jardim de Inverno

ATRIZ

- Débora Duboc – A Valsa de Lili

DIREÇÃO
 
- Jé Oliveira – Gota D’Água Preta

ESPETÁCULO

- Tom na Fazenda
 
PRÊMIO ESPECIAL

- Espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias pelo posicionamento político frente à realidade do país.
- Judite Gerônimo de Lima pela longa trajetória como costureira de teatro.

GRANDE PRÊMIO DA CRÍTICA
- Danilo Santos de Miranda por criar um polo de resistência no SESC São Paulo para o teatro nacional.

Críticos votantes: Aguinaldo Cristofani Ribeiro da Cunha (votou somente o Prêmio Especial e o Grande Prêmio da Crítica), Celso Curi, Edgar Olimpio de Souza, Evaristo Martins de Azevedo, Gabriela Mellão, José Cetra Filho, Kyra Piscitelli, Márcio Aquiles, Michel Fernandes, Miguel Arcanjo Prado e Vinício Angelici.

OBS 1: O nome de Fernanda Montenegro foi muito lembrado pela comissão de teatro da APCA, mas essa cidadã brasileira extrapolou a área de teatro neste insano ano de 2019, tendo lançado sua biografia, brilhado no cinema nacional, além de ter sido alvo de uma infame ofensa por parte de certo senhor, ofensa essa que atingiu toda classe teatral brasileira; sendo assim o seu prêmio será outorgado pela APCA como um todo na pessoa de seu presidente Celso Curi.
OBS 2: A cerimônia de entrega dos prêmios acontecerá no dia 17/02/2020 no Teatro Sérgio Cardoso.
09/12/2019

 

 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

ESTAÇÃO DE TEATRO RUSSO 2020




        Em 2006 em realização do SESC São Paulo, da Funarte (Bons tempos!!) e do Festival Internacional Tchekhov de Teatro aconteceu o evento que trouxe à cidade cinco espetáculos teatrais russos. Não há como esquecer de Noite de Reis de Shakespeare dirigida por Declan Donellan com afinadíssimo elenco totalmente masculino e Proprietários à Moda Antiga, baseada em conto de Gógol, direção de Mindáugas Karbáuskis com elenco do Teatro de Arte de Moscou, sobre um velho cuja casa e a própria vida passam a ser comandadas pelos criados após a morte da esposa. Curiosamente não havia nenhuma obra de Tchekhov na programação.

Estação 2006

        A notícia alvissareira é que a parceria entre o SESC e o festival russo (sem a Funarte, é óbvio!!!) vai se repetir no ano de 2020 trazendo agora três espetáculos com obras de Tchekhov. À pergunta se isso seria uma espécie de compensação, o diretor do festival Valery Shadrin garantiu que a vinda de três obras de Tchekhov é pura coincidência, ressaltando que os três espetáculos são bastante diferentes um do outro.
 
Estação 2020

        O Urso (SESC Pinheiros 28 e 29/03/2020) é uma peça curta transformada em vaudeville pelo diretor Vladimir Pankov; Kashtanka (SESC Vila Mariana 02 e 03/05/2010) é baseada em conto de Tchekhov com direção de Vyatcheslav Kokorin e Tio Vânia (SESC Consolação 29 e 30/08/2020), uma das peças mais famosas do autor, dirigida por Mikhail Bychkov.

        Na coletiva de imprensa realizada no SESC Pinheiros em 03/12/2019 estiveram presentes Danilo Santos de Miranda, diretor do SESC São Paulo, Valery Shadrin, diretor do Festival Internacional Tchekhov de Teatro, Kamil Tukaev, importante ator russo, intérprete do papel principal de Tio Vânia e Evgeny Zakharov, diretor adjunto da companhia que produziu Kashtanka. A preleção de cada um deles foi seguida de perguntas dos presentes.
 
Valery Shadrin e Danilo Santos de Miranda
 
Kamil Tukaev e Evgeny Zakharov
 
        A Estação de Teatro Russo 2020 promete muitos momentos de angústia e de prazer para o espectador apaixonado! De angústia, para conseguir ingressos para as poucas apresentações e de prazer, para usufruir dos três espetáculos.

        04/12/2019

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

INDICAÇÕES 2º SEMESTRE 2019 PRÊMIO APCA DE TEATRO



DRAMATURGIA
- Cláudia Schapira, Lucienne Guedes e elenco - Terror & Miséria no Terceiro Milênio - Improvisando Utopias
- Gregório Duvivier e Vinicius Calderoni - Sísifo
- Kiko Marques – Casa Submersa
       
ATOR

- Eric Lenate – Testemunho Líquido – Projeto Balada dos Enclausurados
- Iuri Saraiva – Jardim de Inverno
- Vinicius Meloni – As Mãos Sujas e Terror & Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias

ATRIZ

- Analu Prestes – As Crianças
- Débora Duboc – A Valsa de Lili
- Lara Cordulla - Dolores

DIREÇÃO


- Bruno Perillo - Chernobyl
- Cláudia Schapira – Terror & Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias
- Rodrigo Portella – As Crianças

ESPETÁCULO

- As Mãos Sujas
- Macunaíma
- Stabat Mater

* Críticos votantes: Celso Cury, Edgar Olimpio de Souza, Evaristo Martins de Azevedo, Gabriela Mellão, Kyra Piscitelli, José Cetra Filho, Márcio Aquiles, Michel Fernandes e Vinício Angelici.
 
 

02/12/2019

 

 

sábado, 30 de novembro de 2019

TODOS OS SONHOS DO MUNDO



Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(Álvaro de Campos)


                Esses versos que abrem o poema Tabacaria do heterônimo de Fernando Pessoa servem de fecho ao solo de Ivam Cabral ora em cartaz na cidade. E esse é um final com chave de ouro para espetáculo que durante sua hora de duração mantém o espectador envolvido em uma aura de delicadeza e humanidade.
        Como bom contador de histórias, Ivam nos relata sobre sua infância em Ribeirão Claro no interior do Paraná, sobre sua família humilde, seus irmãos “quase” todos com nomes iniciados com “I” e sobre habitantes da cidade que circulavam pela igreja, pela praça, pelo cafezal e pelo cemitério, paisagens essas que se presentificam aos olhos do público tal o poder da palavra do ator. As narrativas sobre a trajetória de um dos seus irmãos, da Jane e da Lila são tocantes e envolventes mantendo os espectadores com lágrimas nos olhos durante toda a apresentação. E tudo isso nos faz refletir sobre o famoso “E se?”. E se Jane não tivesse cometido aquele ato acidental? E se Lila não tivesse vindo para São Paulo naquele verão? E se o filho de Lila não tivesse nascido? Que rumos teria tomado o mundo? Tudo acontece ao acaso? E o destino?...
        Vestido com terno xadrez colorido e gravata borboleta e forrando aos poucos o chão do palco com pétalas de rosa, Ivam vai desfilando suas histórias permeando-as com poemas de Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Clarice Lispector, Cecília Meirelles e o já citado Fernando Pessoa. Como se pode notar, suas histórias estão em ótima companhia. O roteiro do espetáculo é dele e de Rodolfo García Vázquez e este assina também a discreta direção do espetáculo.
        A maioria das narrativas tem um toque de tristeza perante a violência do mundo, os preconceitos, as doenças e a finitude da vida, mas viver na plenitude o tempo nos é oferecido por aqui é a mensagem que esse trabalho tão delicado nos passa. E o público sai do teatro com uma lágrima nos olhos, um aperto no coração e uma vontade enorme de abraçar a humanidade.
        Ivam comentou ao final do espetáculo que estava receoso de trazê-lo para São Paulo. Caso isso ocorresse ele estaria nos privando de um dos mais belos e comoventes trabalhos a que a cidade assiste neste conturbado 2019.
 

        TODOS OS SONHOS DO MUNDO está em cartaz no Satyros 1 até 15/12. De quarta a sábado às 21h e domingo às 19h. IMPERDÍVEL

        30/11/2019

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

O BEIJO NO ASFALTO



        Na noite em que assisti a O Beijo no Asfalto, o diretor Bruno Perillo me perguntou sobre outras montagens a que eu havia assistido dessa obra prima de Nelson Rodrigues e curiosamente nenhuma veio à minha lembrança, provavelmente porque todas elas deveriam ter ficado naquela zona cinzenta, ou seja, nem muito boa e nem muito ruim.
         Fazendo uma pesquisa em meus arquivos descobri que a primeira vez que a assisti foi em 1970 dirigida por Antonio Pedro em produção do Teatro Oficina e talvez em função do tempo eu não tenho maiores recordações da mesma. Obviamente não assisti à histórica montagem carioca de 1961 dirigida por Fernando Torres escrita por encomenda de Fernanda Montenegro que interpretava Selminha.
 
1961
 
1970
 
        Ao que eu saiba nas décadas restantes do século XX ela não foi montada em São Paulo, recebendo, porém, uma dezena de encenações nas primeiras décadas do novo milênio das quais vi apenas duas vindas ambas do Rio de Janeiro, a primeira em 2001 dirigida por Marcus Alvisi e a outra, uma equivocadíssima versão musical dirigida por João Fonseca com passagem relâmpago por aqui em 2018. Por razões diversas nada de memorável restou dessas montagens, sendo que minha maior referência sobre a obra é o texto em si e o magnífico e surpreendente filme dirigido por Murilo Benício em 2017.
 
2017 (filme)

        Tudo isso para escrever que a montagem de Perillo é a mais significativa a que assisti desse que junto com A Falecida é um dos melhores textos de Nelson Rodrigues; ele é enxuto e tem curva dramática perfeita com a revelação final soando sempre surpreendente, mesmo para aqueles que conhecem a peça e o seu desfecho. Apesar de certos ares de preconceito em relação ao homossexualismo, a peça toca em pontos importantes como a criação de fake news em favor da venda de notícias e a violência da polícia com pessoas inocentes. Nada mais atual para os dias de hoje.
        A montagem de Perillo também é enxuta contando com recursos precisos como a cenografia (Marisa Bentivegna), os figurinos (Anne Cerruti), a bela iluminação (Aline Santini) e a trilha sonora (Dr. Morris) para contar na íntegra o texto do grande dramaturgo. Os faróis de automóvel ao fundo e a presença dos atores no palco mesmo quando não estão em cena são detalhes que valorizam a encenação.
        Um bom elenco e a perfeita adequação ator/personagem são essenciais para as peças de Nelson Rodrigues onde convivem o drama, o melodrama, o humor e a tragédia em um balanço que um mau intérprete pode desfazer.
        Amado Ribeiro, umas das personagens mais grotescas do universo rodrigueano é interpretado com equilíbrio por Roberto Audio. Com um pouco mais de histrionice Heitor Goldflus interpreta o detestável Delegado Cunha. Valdir Rivaben reforça as cenas de humor como o não menos detestável Aruba e também como o colega de trabalho Werneck. Completa a turma dos detestáveis, Lucas Lentini como o Comissário Barros e o outro colega de trabalho Pimentel.
        O protagonista Arandir é interpretado com equilíbrio por Anderson Negreiros e Mauro Schames tem bons momentos como o amargurado Aprígio.
        No elenco feminino, Rita Pisano é Selminha, Natalia Gonsales é Dália e Angela Ribeiro se encarrega de três papeis: Dona Matilde, Secretaria e Viúva. Curiosamente as três atrizes, a meu modo de ver, tiveram gestos e vozes exagerados tendendo a interpretações expressionistas no primeiro ato da peça, algo que se equilibrou e se harmonizou com as interpretações masculinas nos atos seguintes.

        O BEIJO NO ASFALTO está em cartaz no Teatro do Núcleo Experimental às quartas e quintas às 21h até 12 de dezembro. NÃO DEIXE DE VER.

        22/11/2019