Durante seis anos e
meio (1989-1995) Denise Fraga fez o Brasil rir a bandeiras despregadas com as trapalhadas
da empregada Olímpia, personagem chave da peça Trair e Coçar É Só Começar
de autoria de Marcos Caruso. Com seus dotes para a comédia, ela poderia se
acomodar e ter enriquecido criando tipos para algum programa humorístico da
televisão.
Mas a inquietude e o
talento dessa grande atriz pediam mais e no auge do sucesso como Olímpia se
desligou da peça de Caruso para trilhar novos caminhos.
Em 1995, a convite de
Juca de Oliveira ela interpretou sob a direção de Fauzi Arap a comédia
dramática A Quarta Estação. Eis as palavras da atriz no programa dessa
peça: “Já há algum tempo vinha sentindo a necessidade de ir além. Seis anos
de Trair e Coçar É Só Começar me trouxeram muito aprendizado, muita gente
rindo, rindo muito na plateia. Felicidade sem igual. Mas eu pensava: Preciso
lhes contar outras histórias, levá-los a outros lugares, preciso emocioná-los.
Fazer rir e fazer chorar. Procurava esta história.... (A Quarta Estação) era
tudo o que eu queria. O tipo de história que eu precisava. Além do privilégio
de estar ao lado do Juca de Oliveira, os Deuses do teatro me reservaram outro
mestre: Fauzi Arap... Agradeço ao Trair e Coçar pelos seis anos e meio de
tablado e grandes companheiros. E também agradeço profundamente à minha coragem,
minha vontade de voar”.
E como voou bonito
essa moça!
Sua presença nos
nossos palcos não foi constante, mas sempre marcada por produções importantes e
grandes interpretações. Depois de sete anos ausente, ela voltou em Três
Versões da Vida em 2003 e em uma participação em Ricardo III em
2006.
A partir de 2008
Denise, junto com seu marido Luiz Villaça, encarrega-se também da produção
realizando grandes espetáculos como A Alma Boa de Set Suan (2008), Sem
Pensar (2011), Galileu Galilei (2015), A Visita da Velha
Senhora (2017) e Eu de Você (2019). Emprestou seu talento e
versatilidade não só para grandes personagens do teatro universal como Chen-Te/Chui-Ta,
Galileu e Clara Zahanassian, como também para a interpretação de textos
contemporâneos.
Cabe lembrar sua
emocionante participação em Elas Não Gostam de Apanhar (2012) na
qual auxiliava com muito carinho uma debilitada Cleyde Yáconis (1923 – 2013) em
sua última aparição em cena. Denise Fraga passa para o público essa imagem de
uma pessoa muito simples e carinhosa, haja vista sua presença na plateia do
teatro antes do início dos espetáculos recepcionando o público com um sorriso
nos lábios e uma simpatia muito espontânea. Nada é artificial em Denise.
Todas essas memórias
me vieram à tona após assistir à dilacerante interpretação da atriz no
espetáculo virtual Dez Por Dez no qual ela interpreta uma mulher de 50
anos desiludida e desesperançada que vê no suicídio sua única saída. A cena
dura apenas dez minutos, mas que são suficientes para Denise demonstrar o vazio
e a tragédia que inundam a alma daquela mulher transfigurada pela dor. Trata-se
de cena antológica e uma obra prima para fazer parte da história do teatro
brasileiro. O texto conciso de Neil Labute revela em dez minutos tudo aquilo
que outros autores levaram duas horas para mostrar.
Assistir a esse
momento pungente dessa grande atriz é obrigação para quem ama e,
principalmente, para quem faz teatro.
Aos 56 anos de idade e com sua brilhante carreira, Denise Fraga está a merecer uma biografia que faça um apanhado de sua vida profissional.
VIVA DENISE FRAGA!
VIVA O TEATRO!
20/06/2021