No espaço cênico do Teatro do
Incêndio personagens de universo bem conhecido de cada um de nós,
paulistanos/bixiguentos ali presentes, deslocam-se mostrando fragmentos de suas
vidas, ora nos fazendo rir, ora nos emocionando com seus dramas e seus
cotidianos.
Marcelo Marcus Fonseca, autor, diretor e ator do espetáculo cria cenas com personagens críveis como a manicure que esconde sua doença grave (Elena Vago excelente, apesar de gritar muito no primeiro ato, mas que tem uma cena sublime ao final do segundo ato), o jovem poeta homossexual migrante e deslocado no novo ambiente, o marido violento e a mulher grávida e muitas outras, todas costuradas com as presenças do velho compositor alcoólatra (Marcelo Marcus Fonseca, patético na medida certa) e da catadora de lixo Seu Luiz (Gabriela Morato, que tem seu melhor momento ao falar sobre o seu passado).
A peça tem como pano de fundo a
preparação de uma escola de samba para o desfile de carnaval e para isso se
vale de uma excelente trilha sonora que comenta toda a ação executada ao vivo por
grupo de músicos/percussionistas.
As estruturas, tanto da dramaturgia
(pequenas cenas cotidianas independentes, mas que vão se relacionando), como da
encenação (os praticáveis), me remeteram àquelas do memorável espetáculo Os
Efêmeros, apresentada aqui em São Paulo em 2007 pelo grupo francês Théâtre
du Soleil. Essa semelhança (proposital ou não) em nada desmerece o
significativo resultado desse belo e emocionante espetáculo.
Marcelo Marcus Fonseca é mais um bravo guerreiro dessa batalha enorme contra a indiferença e o desprezo pela nossa cultura. O seu belo Teatro do Incêndio, adquirido com enormes sacrifícios, sofre com a presença de lixo no seu entorno e com ataques à sua estrutura, mas Marcelo grita, esbraveja e resiste... SEMPRE!
ÁGUAS QUEIMAM NA ENCRUZILHADA saiu de
cartaz em 05 de fevereiro, mas volta de 02 a 25 de março às segundas, sábados e
domingos às 19h.
NÃO DEIXE DE VER!
06/02/2024