PANFLETÁRIO SIM, E DAÍ?
O dicionário Aurélio define “panfleto” como “pequeno escrito polêmico ou
satírico, em estilo veemente”. O Google define “panfletário” como “algo que
ataca alguém ou algo com críticas irônicas ou satíricas” ou ainda “algo que apoia com radicalismo uma ideia, um movimento, uma utopia, uma
doutrina etc”. Essa palavra adquiriu ao longo do tempo uma conotação
negativa como algo comunicado de forma gritante e, principalmente, tendenciosa
no mau sentido.
O espetáculo do Núcleo
Bartolomeu de Depoimentos tem o que há de melhor da palavra no
seu sentido etimológico: é direto e contundente em suas críticas e denúncias aos
absurdos desse governo que conduz dia a dia nosso país a um precipício e o faz
de forma lúdica numa linguagem que atinge qualquer tipo de público.
Se tivessem vergonha na cara os bolsonaristas corariam de
vergonha ao assistir ao espetáculo e sairiam de cabeça baixa antes das luzes se
acenderem. Bobagem pensar nisso: esse tipo de gente não vai ao teatro e se fosse
era para agredir o elenco e quebrar o teatro.
O espetáculo com dramaturgia de Claudia Schapira e Lucienne
Guedes toma por base Terror e Miséria do
Terceiro Reich de Brecht e o reinventa para nossa realidade tão parecida
com aquela que havia na Alemanha dos anos 1930/1940. Ironicamente, cada cena é
precedida por uma descrição do tipo “Passa-se em 1938, na cidade de Hannover,
ao lado do Palácio da Alvorada em Brasília”.
Trata-se de espetáculo mais que necessário nos dias atuais e que
deveria permanecer em cartaz como peça de resistência até que a situação
política do país saísse das mãos escrotas em que se encontra. Sim! Eu também
estou sendo panfletário.
O elenco coeso atua com muita energia e vibração com destaque
para Georgette Fadel, Fernanda D’Umbra (poderosa!) , Roberta Estrela D’Alva,
Sérgio Saviero (impagável imitando Chaplin na cena do globo em O Grande Ditador, só que aqui a terra é
plana) e Vinicius Meloni (excelente na cena do juiz).
A coreografia de Luaa Gabanini é forte e enégica lembrando os
movimentos típicos de Pina Bausch na cena da mulher judia. Tanto a coreografia
como os vídeos de Bianca Turner e a trilha operada pelos DJs Dani Nega e
Eugênio Lima são excelentes ferramentas muito bem utilizadas pela diretora
Claudia Schapira que resultam em um todo uniforme e poderoso.
A peça saiu de cartaz do SESC Bom Retiro neste domingo, 28 de
julho e URGE que encontre um novo espaço para ser apresentada.
29/07/2019