Muito
se escreve sobre o que é ou não é um clássico e eu não sou a pessoa mais
indicada para entrar na seara dessa discussão, mas para mim uma obra é clássica
simplesmente quando, tanto na forma como no conteúdo, ela não envelhece. Fica
mais fácil isso acontecer quando essa obra trata de relacionamento humano sem
entrar no mérito sociopolítico que poderia datar a mesma; na dramaturgia
brasileira as 17 peças de Nelson Rodrigues são o melhor exemplo disso. Quem ousa
dizer que a obra prima A Falecida vai
deixar de ser atual daqui a cem anos?
O
caso de Plínio Marcos é diferente, pois suas peças que se tornaram clássicas (Dois Perdidos Numa Noite Suja, Barrela,
Navalha na Carne, Abajur Lilás e
Quando as Máquinas Param) têm o forte conteúdo sociopolítico mencionado
acima, no entanto continuam dialogando com o tempo presente, talvez porque este
nosso pobre país insiste em manter e até em aumentar as diferenças de classe.
Quando as Máquinas Param é construída na
tradição do teatro realista e a montagem de Augusto Zacchi segue essa premissa
no cenário, na trilha sonora e na interpretação dos atores.
A
peça é apresentada em novo espaço teatral da Aliança Francesa, uma sala no
segundo andar do prédio da Rua General Jardim bastante apropriada para
montagens intimistas como a que ora se apresenta. Espera-se que o local
permaneça destinado às atividades teatrais.
O
texto, com diálogos curtos e fluentes, mostra o triste cotidiano do casal Nina
e Zé e sua luta pela sobrevivência. Pobres; ele desempregado e descrente das
coisas e ela costureira, temente a Deus e acreditando que um dia as coisas vão
melhorar. Tudo caminha entre mais baixos que altos até que a revelação da
gravidez de Nina dá novos rumos aos acontecimentos. Plínio Marcos sabiamente insere nessa dramática trama alguns
momentos de humor como a paixão de Nina pelas novelas e o fanatismo de Zé pelo
Corinthians e a direção da peça soube tirar proveito dessas situações.
Para
um bom resultado, espetáculo desse tipo depende quase que exclusivamente da boa
interpretação dos atores e Carol Cashie e Cesar Baccan preenchem totalmente os
requisitos.
Carol
Cashie é uma atriz bastante jovem que já tem significativo currículo. Faz parte
do que eu chamo de “púpilos do TAPA”, atrizes e atores que passaram pelo grupo
de Eduardo Tolentino ( presente como espectador na mesma sessão a que assisti a
peça) e que desenvolvem importantes trabalhos na cena paulistana. Sua
composição de Nina é muito humana e delicada, tirando o máximo proveito das
nuances exigidas pelo papel.
Cesar
Baccan inicia a peça com jeito de “machão chorão”, mas aos poucos assume as
contradições da personagem e tem ótimo rendimento.
Quando as Máquinas Param é teatro da
melhor qualidade e merece uma visita ao Teatro Aliança Francesa. Em cartaz até
02/12 com sessões às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 19h30.
25/11/2018