Os espetáculos presenciais voltaram
com muito fôlego nos primeiros meses de 2022. O movimento ascendente começou em
setembro do ano passado, ao mesmo tempo em que as estreias virtuais começaram a
declinar.
Na época se comentava que,
independentemente dos presenciais, os espetáculos online iriam
continuar, mas não foi o que aconteceu. Atualmente são raros os espetáculos
realizados de forma virtual, por outro lado tivemos cerca de 200 espetáculos
presentes nos palcos paulistanos no semestre, sendo 157 de autores brasileiros.
Assisti a 94 espetáculos neste
primeiro semestre, sendo apenas três virtuais e a grande maioria da única
maneira que o verdadeiro teatro acontece: público e elenco face a face
respirando o mesmo ar.
Escrevi sobre 50 espetáculos dos 94 a que
assisti o que atesta o grau de satisfação deste espectador diante das montagens
da temporada, uma vez que, como todos sabem, só escrevo sobre espetáculos que
me dizem alguma coisa e me surpreendam.
Fato marcante foi a presença de grandes
nomes da dramaturgia universal em nossos palcos: Thomas Bernhard (O Náufrago
e O Fazedor de Teatro), Molière (Escola das Mulheres),
Matei Visniec (Com os Bolsos Cheios de Pão), Tennessee Williams (O
Anjo de Pedra), Samuel Beckett (Esperando Godot e Play Beckett),
Strindberg (O Pai), Stephen Sondheim (Sweeney Todd), Pirandello (Henrique
IV), Ibsen (Um Inimigo do Povo), Büchner (Woyzeck), Brecht (Terra
de Matadouros) e Sófocles (Tebas).
Quanto à dramaturgia brasileira,
curiosamente, Nelson Rodrigues e Plínio Marcos não estiveram presentes nos
nossos palcos. Dos clássicos, apenas Oduvaldo Vianna Filho (Papa Highirte),
Oswald de Andrade (A Morta), João Cabral de Mello Neto (Morte e Vida
Severina), Guimarães Rosa (Riobaldo) e Clarice Lispector (em
várias adaptações de suas obras).
O jovem Luccas Papp compareceu com
três espetáculos (O Ovo de Ouro, Men.U e O Anjo de Cristal).
Também com três obras tivemos a presença de Clarice Niskier (a longeva A
Alma Imoral, Coração de Campanha e a verdadeira obra-prima A
Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong). A dupla Fernanda Maia/Zé
Henrique de Paula foi responsável por três significativos e muito bem sucedidos
espetáculos musicais (Sweeney Todd, Cabaret dos Bichos e Brenda
Lee e o Palácio das Princesas). Tatuagem, que foi obra prima
no cinema, também foi um dos melhores espetáculos do semestre a partir do
roteiro do filme de Hilton Lacerda com direção de Kleber Montanheiro.
Na categoria espetáculos eu
destacaria: Língua Brasileira (direção de Felipe Hirsch), Sem
Palavras (direção de Marcio Abreu), Anjo de Pedra (direção de Nelson
Baskerville), Encantado (direção de Lia Rodrigues), Pérsia
(direção de Sandra Vargas e Luiz André Cherubini), A Esperança na Caixa de
Chicletes Ping Pong (direção de Clarice Niskier), Um Inimigo do Povo
(direção de José Fernando Azevedo), Tatuagem (direção de Kleber
Montanheiro), Play Beckett (direção de Mika Lins), O Fazedor de
Teatro (direção de Marcio Aurelio), Jacksons do Pandeiro (direção de
Duda Maia), Cabaret dos Bichos e Brenda Lee e o Palácio das
Princesas (direção de Zé Henrique de Paula), Tebas (direção de
Marcelo Lazzaratto).
Poder citar 14 espetáculos tão
significativos como os melhores de tão curto período de tempo é um verdadeiro
privilégio e motivo de alegria para este espectador apaixonado. Parabéns aos
nossos profissionais de teatro pelo esforço, pela garra e pelo talento demonstrados.
Se eu tenho que escolher o melhor dos melhores
do semestre, não vacilo um segundo para escrever que esse lugar de honra cabe a
Jacksons do Pandeiro de Braulio Tavares e Eduardo Rios com a maravilhosa
Barca dos Corações Partidos e direção de Duda Maia.
Um impactante espetáculo de dança
teatro de Lia Rodrigues (Encantados) também ocupa lugar bastante
importante nos melhores do período.
No campo da interpretação cito:
- Atores: Luciano Chirolli (O
Náufrago), Brian Penido Ross (Escola de Mulheres), Antonio Petrin (A
Pane), Vitor Vieira (Nossos Ossos), Caca Carvalho (Leonardo da
Vinci – A Obra Oculta), Donizete Mazonas (Com os Bolsos Cheios de Pão),
Odilon Wagner (A Última Sessão de Freud), Marcos Damigo (O Pai),
Dudu Galvão (Morte e Vida Severina), Rogerio Brito (Um Inimigo do
Povo), Cleomácio Inácio e André Torquato (Tatuagem), Paulo Marcello
(O Fazedor de Teatro), Zécarlos Machado (Papa Highirte), Marcelo
Lazzaratto (Tebas)
- Atrizes: Amanda Lyra (Língua
Brasileira), Kenya Dias e Giovana Soar (Sem Palavras), Emmanuele
Araújo (Chicago), Laila Garin (A Hora da Estrela ou O Canto de
Macabéa), Sara Antunes (Anjo de Pedra), Dalma Régia (Cárcere ou
Por que as Mulheres Viram Búfalos), Clarice Niskier (A Esperança na
Caixa de Chicletes Ping Pong), Liliane Xavier (Pinóquio).
Não vou nominar, mas quero lembrar de
todos os profissionais envolvidos com tradução, adaptação de textos, cenografia,
coreografia, iluminação, som, figurino, fotografia, visagismo, contrarregragem, camareira e produção. Personagens invisíveis que sem elas a magia do teatro não
aconteceria.
Outros destaques:
- A realização da 8ª edição da MITsp
em formato menor, mas marcando necessárias presença e sobrevivência.
- O retorno do projeto Prêt-à-Porter
pelo Centro de Pesquisa Teatral do SESC (CPT), agora sob a
supervisão de Emerson Danesi.
- E um destaque negativo: A prática
utilizada no semestre por várias entidades de eliminar o programa impresso,
colocando o acesso ao material através de QRcode. Tal prática é, a meu ver,
sinal de desrespeito à memória do teatro e a seus realizadores, uma vez que a
ficha técnica dos espetáculos provavelmente estará indisponível aos futuros
pesquisadores. Ao que parece os programas impressos aos poucos estão voltando,
para alegria deste “Arauto da defesa do programa impresso”.
Que o segundo semestre de 2022 seja tão
ou mais rico do que o primeiro, para dor de cabeça dos críticos que terão de
optar por poucos nomes como os premiados do ano.
O TEATRO NOS UNE
O TEATRO NOS TORNA FORTES
VIVA O TEATRO!
02/07/2022