Gerald Thomas em suas montagens sempre
procura mostrar seu nível intelectual, seus conhecimentos do mundo e de muitas
personalidades (curiosamente, neste espetáculo, ele não cita sua relação com
Samuel Beckett, nem exibe a famosa foto dos dois conversando em um café de
Paris!), mas ele não o vem fazendo com empáfia e arrogância, pelo contrário, o
espetáculo é bastante acessível e muito bem humorado e conta com a incrível
participação de Fabiana Gugli e a surpresa que é o ótimo Jefferson Schroeder.
Impossível fazer uma sinopse do caos
que é um trabalho de Thomas: o início com ele fazendo a percussão e Fabiana
descabelada urrando que decapitaram sua ave é um sinal do que vem a seguir:
cinco pessoas mascaradas perambulam por um espaço inóspito e depositam uma
bola/um ovo? em uma cesta e realizam diálogos ou monólogos de como anda mal a
humanidade, sempre recorrendo ao tempo presente ou passado.
Esse jogo se o presente é melhor ou
pior do que o passado me fez lembrar uma situação criada por Millôr Fernandes
onde um grupo vivendo em um tempo caótico comenta que num tempo futuro ao
recordar esse caos poderá comentar: “BONS TEMPOS AQUELES!”
Como uma ópera, a movimentação do
elenco segue passo a passo a fantástica trilha sonora assinada por Thomas e
Marcelo Alonso Neves, que vai desde uma Ave Maria em ritmo de samba, passa por
Tom Zé e culmina com o suntuoso final da Sinfonia nº 2 de Mahler.
O cenário de fim do mundo de Fernando
Passetti iluminado dignamente com a mestria habitual de Wagner Pinto e os
figurinos cinzentos de João Pimenta formam o clima perfeito para aquilo que
Thomas quer mostrar. Diga-se que a peça tem um visual belíssimo.
As cenas se sucedem de forma irregular
sem uma sequência narrativa, com altos e baixos, sendo que os melhores momentos
são os monólogos de Fabiana Gugli (sempre uma presença poderosa que cabe como
uma luva aos propósitos de Thomas, com direito até uma ascensão em cena) e do
surpreendente e muito engraçado Jefferson Schroeder. Completam o elenco Apollo
Faria, Nilson Muniz e Pedro Inoue.
O encenador faz justas homenagens a Zé
Celso e a Tom Zé que estava presente na estreia em outro momento digno de nota.
A encenação termina de maneira
apoteótica ao som da Sinfonia “Ressurreição” de Mahler com os intérpretes numa
ascensão rumo talvez a um mundo melhor. Final feliz? Pena que a cortina se
fecha antes do término da emocionante melodia.
Quanto ao título “Sabius, os Moleques”
que atire a primeira pedra, quem o decifrar!
“Decifra-me ou ignoro-te” parece ser o
pensamento de Gerald Thomas.
Espetáculo a ser conferido em cartaz
no SESC 14 Bis até 21 de dezembro de quinta a sábado, 20h e domingo, 18h.
28/11/2025



















