Duas bravas guerreiras foram as
responsáveis pela construção de dois teatros na cidade de São Paulo nos anos
1954 e 1964.
Em 28 de outubro de 1954, Maria Della
Costa (1926) inaugurava o seu amplo teatro construído num terreno da Rua Paim
com a peça O Canto da Cotovia de Jean
Anouilh, dirigida por Gianni Ratto. Bastante moderno para a época, foi cenário
de espetáculos importantíssimos como a primeira montagem profissional de
Bertolt Brecht em São Paulo (A Alma Boa
de Set-Suan em 1958) e Depois da
Queda de Arthur Miller em 1964, para citar apenas dois títulos. Nos anos
1960/1970 abrigou também espetáculos de outras companhias (Liberdade, Liberdade e Édipo
Rei), além de shows antológicos de
Elis Regina e Maria Bethânia (Rosa dos
Ventos). Em 1978 foi adquirido pela Associação
dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp) com o objetivo (segundo a página da
Associação) de “prestar maiores benefícios aos seus associados”. Hoje à beira
dos 90 anos Maria Della Costa, ainda muito bela, está afastada do teatro.
Dez anos depois, em 15 de dezembro de
1964, era a vez da sempre corajosa e empreendedora Ruth Escobar (1936)
inaugurar o seu teatro na Rua dos Ingleses com A Ópera dos Três Vinténs de Brecht, dirigida pelo saudoso José
Renato. A partir daí aquele espaço abrigou momentos fundamentais não só do
teatro brasileiro (Roda Viva, 1ª Feira Paulista de Opinião, A Viagem, entre muitos outros) como
também da resistência da classe teatral aos desmandos da ditadura militar o que
pode ser verificado no livro de Rofran Fernandes com o sugestivo nome de Teatro Ruth Escobar-20 Anos de Resistência
(Global Editora-1985). Ruth destruiu e reconstruiu seu espaço para abrigar da
melhor maneira montagens antológicas como O
Balcão (1969). Em 1997 o teatro também foi adquirido pela Apetesp. Ruth
Escobar vive reclusa em São Paulo em avançado estado do mal de Alzheimer.
Ícones do melhor teatro que se fez em
São Paulo entre os anos 1950 e 1980, lamentavelmente esses teatros hoje estão
destinados a “produtos” estritamente comerciais, o que se pode constatar por
meio dos títulos de alguns dos espetáculos apresentados nos mesmos no decorrer
de 2014:
Teatro Maria Della Costa: República das Calcinhas/Manual da
Bisca/Engolindo Sapo Para Um Dia Comer Perereca/Cenas de Doido: A Comédia
Proibida/Gatomeu e Ratoleta.
Teatro Ruth Escobar: Assalto Alto/Cura Ele Cura Ela/Quem Não Vê
Cara, Não Vê Furacão/O Dia Em que Eu Comi a Pomba Gira/De Mala e Cuia no Trem
do Riso/Homens no Divã/Casal TPM/Casal TPM 2-A Música da Nossa Vida/TPM-Terapia
Para Mulheres/O Amante do Meu Marido/Nua na Plateia/Uma Família Muito Doida.
Essas programações não fazem jus ao
brilhante passado dos edifícios que as abrigam e muito menos às bravas
guerreiras Maria Della Costa e Ruth Escobar que dão nome aos dois teatros.
Teatros com esse passado e que levam o
nome de mulheres desbravadoras que enaltecem e engrandecem a cena brasileira
mereciam títulos mais importantes em seus cartazes.
Resta a memória de quem pôde assistir nesses
palcos a momentos fundamentais do teatro brasileiro.
Esta é minha homenagem a Maria Della
Costa, a Ruth Escobar e ao teatro brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário