Foto de Carlos Canhameiro
O que você realmente está fazendo é esperar
o acidente acontecer, ou
seja... (você não está fazendo NADA para
evitar o tal acidente!). A frase entre
parênteses parece ser o subtexto do título dessa peça da Cia. de Teatro
Acidental em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Título tão
provocativo quanto o espetáculo que mexe em feridas da nossa dura realidade.
O
espetáculo inicia numa mesa de ensaios onde as principais personagens da peça O Beijo no Asfalto de Nelson Rodrigues,
têm seu nome cunhado na frente dos atores que irão representá-las. O que parece
que vai ser uma leitura dramática transforma-se a princípio numa
contextualização da encenação da peça em 1961 no Rio de Janeiro com direção de
Fernando Torres. A peça trata do escândalo criado pela mídia a partir do
beijo dado por um homem em outro homem que sofreu um acidente e está à beira da
morte. Esse mote serve para o grupo iniciar uma série de denúncias sobre o ódio
que grassa nas comunicações atuais, ódio esse alimentado pela mídia e pelas
redes sociais. Coloca-se em foco com muita virulência a homofobia, a pena de
morte, o racismo, o aborto e outras questões polêmicas. A dinâmica do
espetáculo é bastante criativa e tensa, havendo alguma descontração apenas na
canção sobre o beijo e na engraçada e irônica coreografia que o elenco
apresenta num intervalo com pouco mais de quatro minutos. De resto, destila-se
muito ódio tanto por parte dos que são a favor como dos que são contra um
determinado assunto e esse ódio parece que vai sendo represado dentro de cada
ator. O desrecalque explode na catártica cena final sobre a qual não direi nada
para não tirar a surpresa de quem for assistir à peça.
O
texto surgiu por sugestões do próprio grupo e do encenador Carlos Canhameiro e
faz uma boa panorâmica do comportamento do homem contemporâneo. A encenação de
Canhameiro é simples e direta valendo-se do elenco jovem e talentoso, da
interessante cenografia formada pela mesa já citada e de duas telas de
televisão mostrando o camarim dos atores e cenas captadas por câmeras de
vigilância e também do uso de uma fruta que terá papel importante no
desenvolvimento da ação.
O
quanto somos responsáveis por ou, no mínimo coniventes com, todos esses
acidentes? O que cada um de nós está fazendo para diminuí-los ou exterminá-los?
Essa é a pergunta que cala dentro de cada espectador ao final da apresentação.
Espetáculo urgente que precisa ser visto.
Gostei
muito! Isso é sinal que vocês devem estar no caminho errado.
A
peça está em cartaz de quinta a sábado até 16 de maio às 20h e é gratuita.
27/03/2015
No caminho errado? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkI I love your coments.
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