segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

VIVA MARÍLIA PÊRA! VIVA O TEATRO BRASILEIRO!

(1943-2015)

        O teatro brasileiro com certeza seria mais pobre se por ele não tivesse passado Marília Pêra. Foi a atriz mais completa a que tive o privilégio de assistir nesses mais de 50 anos que frequento teatro. Em meu livro O Palco Paulistano de 1964 a 2014 – Memórias de Um Espectador faço uma seleção dos 230 espetáculos mais significativos a que assisti entre os mais de 3000 vistos. Nada menos do que sete foram estrelados por Marília e um deles (Apareceu a Margarida) está entre os cinco fundamentais da minha vida de espectador. Assim como os shows de Elis, eu nunca deixei de ir assistir a um espetáculo do qual a atriz fazia parte. Em 1987 deixei de ir à festa de bodas de ouro dos meus pais para ir ao Rio assistir à estreia de A Estrela Dalva, onde Marília brilhava interpretando a grande cantora Dalva de Oliveira. O mais bonito de tudo é que meus pais me deram a maior força para que eu assim o fizesse.

1969 - A primeira Marília

1969 - O primeiro impacto

        Foi em 1969 que a vi pela primeira vez na comédia musical A Moreninha dirigida por Osmar Rodrigues onde ela fazia par romântico com Perry Salles. No mesmo ano o impacto de Fala baixo, Senão Eu Grito, talvez o seu primeiro grande papel dramático como a solteirona Mariazinha (e ela tinha apenas 26 anos) que tem seus aposentos invadidos por um ladrão vivido pelo saudoso Paulo Villaça. A partir daí tornou-se obrigatório para mim acompanhar a carreira de Marília Pêra. Foram muitos trabalhos inesquecíveis como o já citado A Estrela Dalva, Elas por Ela, Brincando Encima Daquilo, Victor ou Victoria Master Class, Mademoiselle Chanel e o derradeiro Alô Dolly em 2013 onde ela como sempre brilhava ao lado de Miguel Falabella.

1985


1987

2013 - A última Marília

        Apareceu a Margarida é para mim seu trabalho mais importante e sobre ele escrevi longo texto em meu livro no qual falo sobre a importância de Marília no cenário teatral brasileiro. Reproduzo abaixo parte desse material:
         “ ... a voz, as inflexões, os gestos e as expressões de Marília Pêra me vêm à memória de maneira muito poderosa. Era impressionante a maneira como a atriz incorporava a detestável dona da nossa voz, potente metáfora do domínio que o regime militar queria ter sobre o cidadão brasileiro. A cena brasileira é pródiga em interpretações inesquecíveis de grandes atrizes. Enumero em ordem alfabética apenas aquelas a quem tive o privilégio de assistir no palco: Andréa Beltrão, Berta Zemel, Bibi Ferreira, Cacilda Becker, Célia Helena, Cleyde Yáconis, Fernanda Montenegro, Glauce Rocha, Ileana Kwasinski, Isabel Ribeiro, Juliana Carneiro da Cunha, Laura Cardoso, Lilian Lemmertz, Mariana Lima, Marília Pêra, Myrian Muniz, Nathalia Timberg e Yara Amaral. Mesmo com um grupo dessa envergadura, no meu ponto de vista, Marília Pêra é a mais completa atriz brasileira, circulando com muita desenvoltura do trágico ao dramático e deste para o cômico. Histriônica e debochada quando necessário, visceral no drama, cantora bastante razoável e dona de uma poderosa presença cênica. Quando da apresentação da segunda versão de Apareceu a Margarida, em 1978, Sábato Magaldi escreveu no Jornal da Tarde: ‘[...] julgo o seu desempenho (Marília Pêra) em Exercício de Lewis John Carlino, incompreensivelmente não trazido a São Paulo, a obra-prima absoluta da interpretação feminina no Brasil, ao menos nos 30 anos que frequento teatro.. Não assisti a Exercício com Marília Pêra, mas com Glauce Rocha que também tinha uma interpretação maravilhosa. Assisti a grandes trabalhos de Marília Pêra antes e depois de Apareceu a Margarida, mas para mim esta é a melhor interpretação da grande atriz. Assim, aproveitando as palavras do crítico afirmo: o desempenho de Marília Pêra em Apareceu a Margarida é, para mim, a obra-prima absoluta de interpretação feminina no Brasil, ao menos nos 50 anos que frequento teatro.

1974


        MARÍLIA PÊRA NÃO ERA... ELA É E SEMPRE SERÁ.

        VIVA MARÍLIA PÊRA!

        VIVA O TEATRO BRASILEIRO!

07/12/2015


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