(1943-2015)
O
teatro brasileiro com certeza seria mais pobre se por ele não tivesse passado
Marília Pêra. Foi a atriz mais completa a que tive o privilégio de assistir
nesses mais de 50 anos que frequento teatro. Em meu livro O Palco Paulistano de 1964 a 2014 – Memórias de Um Espectador faço uma seleção dos 230 espetáculos
mais significativos a que assisti entre os mais de 3000 vistos. Nada menos do
que sete foram estrelados por Marília e um deles (Apareceu a Margarida) está entre os cinco fundamentais da minha
vida de espectador. Assim como os shows de Elis, eu nunca deixei de ir assistir
a um espetáculo do qual a atriz fazia parte. Em 1987 deixei de ir à festa de
bodas de ouro dos meus pais para ir ao Rio assistir à estreia de A Estrela Dalva, onde Marília brilhava interpretando a grande cantora Dalva
de Oliveira. O mais bonito de tudo é que meus pais me deram a maior força para
que eu assim o fizesse.
1969 - A primeira Marília
1969 - O primeiro impacto
Foi
em 1969 que a vi pela primeira vez na comédia musical A Moreninha dirigida por Osmar Rodrigues onde ela fazia par
romântico com Perry Salles. No mesmo ano o impacto de Fala baixo, Senão Eu Grito,
talvez o seu primeiro grande papel dramático como a solteirona Mariazinha (e
ela tinha apenas 26 anos) que tem seus aposentos invadidos por um ladrão vivido
pelo saudoso Paulo Villaça. A partir daí tornou-se obrigatório para mim
acompanhar a carreira de Marília Pêra. Foram muitos trabalhos inesquecíveis
como o já citado A Estrela Dalva, Elas por Ela, Brincando Encima
Daquilo, Victor ou Victoria Master Class, Mademoiselle Chanel e o derradeiro Alô Dolly em 2013 onde ela como sempre brilhava ao lado de Miguel Falabella.
1985
1987
2013 - A última Marília
Apareceu a Margarida é para mim seu
trabalho mais importante e sobre ele escrevi longo texto em meu livro no qual falo
sobre a importância de Marília no cenário teatral brasileiro. Reproduzo abaixo
parte desse material:
“
... a voz, as inflexões, os gestos e as expressões de Marília Pêra me vêm à
memória de maneira muito poderosa. Era impressionante a maneira como a atriz
incorporava a detestável dona da nossa voz, potente metáfora do domínio que o
regime militar queria ter sobre o cidadão brasileiro. A cena brasileira é pródiga em
interpretações inesquecíveis de grandes atrizes. Enumero em ordem alfabética
apenas aquelas a quem tive o privilégio de assistir no palco: Andréa Beltrão,
Berta Zemel,
Bibi Ferreira,
Cacilda Becker, Célia Helena, Cleyde Yáconis, Fernanda Montenegro, Glauce
Rocha, Ileana Kwasinski, Isabel Ribeiro, Juliana Carneiro da Cunha, Laura Cardoso, Lilian Lemmertz, Mariana Lima,
Marília Pêra, Myrian Muniz, Nathalia Timberg e Yara Amaral. Mesmo com um grupo
dessa envergadura, no meu ponto de vista, Marília Pêra é a mais completa atriz
brasileira, circulando com muita desenvoltura do trágico ao dramático e deste
para o cômico. Histriônica e debochada quando necessário, visceral no drama,
cantora bastante razoável e dona de uma poderosa presença cênica. Quando da
apresentação da segunda versão de Apareceu
a Margarida, em 1978, Sábato
Magaldi escreveu no Jornal da Tarde: ‘[...] julgo o seu desempenho
(Marília Pêra) em Exercício de Lewis
John Carlino, incompreensivelmente não trazido a São Paulo, a obra-prima
absoluta da interpretação feminina no Brasil, ao menos nos 30 anos que
frequento teatro.’. Não assisti a Exercício com Marília Pêra, mas com
Glauce Rocha que também tinha uma interpretação maravilhosa. Assisti a grandes
trabalhos de Marília Pêra antes e depois de Apareceu
a Margarida, mas para mim esta é a melhor interpretação da grande atriz.
Assim, aproveitando as palavras do crítico afirmo: o desempenho de
Marília Pêra em Apareceu a Margarida
é, para mim, a obra-prima absoluta de interpretação feminina no Brasil, ao
menos nos 50 anos que frequento teatro.”
1974
MARÍLIA
PÊRA NÃO ERA... ELA É E SEMPRE SERÁ.
VIVA
MARÍLIA PÊRA!
VIVA
O TEATRO BRASILEIRO!
07/12/2015
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