No
dia 13/10/1975 foi feita no Teatro Paiol uma leitura dramática da peça Concerto nº 1 Para Piano e Orquestra de
João Ribeiro Chaves Neto, dirigida por Sérgio Mamberti. No programa o autor
comenta sobre suas habilidades na arte de escrever e dá uma relação das peças
já escritas e duas que estavam em preparação. Exatos doze dias depois, seu
cunhado Wladimir Herzog foi covarde e brutalmente assassinado pelos órgãos repressores
da famigerada ditadura militar nas dependências do DOI-Codi. O fato fez o
dramaturgo mudar seus planos e escrever em regime de urgência uma peça que
denunciasse o ocorrido. Assim surgia Patética
que ganhou o Prêmio do Serviço Nacional de Teatro em 1977. Proibido o prêmio, a
peça só foi editada em 1978 e só teve a liberação para montagem em 1980, quando
foi dirigida por Celso Nunes e provocou fortes comoções em suas apresentações
no Auditório Augusta. Na ocasião, Sábato
Magaldi escreveu “Ver Patética
importa em emocionar-se e refletir maduramente sobre a História contemporânea
do país”.
“São
Nuvens. São nuvens que passam”, comenta o personagem Hans, referindo-se aos
tempos maus que a família vinha atravessando com a perseguição aos judeus durante
a 2ª guerra mundial. As nuvens negras voltaram a assombrar a família em 1975
com a morte de Wlado.
Passaram-se
42 anos. Estamos em 2017 e as nuvens insistem em não passar neste Brasil corroído
pela corrupção e pelo ódio. Em bom momento a militante Companhia Estável de Teatro optou por uma nova montagem de Patética, porque mudam as moscas, mas...
A
encenação de Nei Gomes é límpida e reforça o lado circense da ação. O início da
peça com a apresentação dos artistas do circo é alegre e movimentada. Quando
Bolota, o palhaço líder do grupo anuncia a representação de uma peça sobre o
assassinato de Glauco Horowitz, diga-se Wladimir Herzog, as nuvens começam a
surgir no horizonte mostrando que o que está por vir não é nada engraçado.
Acompanha-se a mudança de fisionomia do público à medida que a ação avança.
Os
cinco atores desdobram-se na interpretação dos artistas do circo e das personagens
que retratam Wlado, seus pais, sua esposa, o cunhado (que é o próprio
dramaturgo) e o torturador. Juliana Liegel faz uma fogosa Joana da Criméia,
tornando-se dolorosamente mãe quando interpreta Ana. Paula Cortezia se sai
muito bem como Iara Rosa, a gostosa da companhia, e adquire a gravidade
necessária ao fazer Clara, a esposa. Osvaldo Pinheiro faz um doce pai, enquanto
é um gutural e primitivo Valter Rosado do circo. Sérgio Zanck não tem muitas
oportunidades como participante da companhia, mas tem seus bons momentos como o
cunhado e como o torturador, é ele também que anuncia as cenas, no melhor
distanciamento brechtiano. Por último, cabe destacar o belo e emocionado
trabalho de Miriele Alvarenga como o palhaço Bolota que interpreta Glauco. O
sotaque “portinhol” cai bem em Bolota, mas soa estranho em Glauco.
O
comentário musical dirigido por Reinaldo Sanches comenta a ação de maneira
perfeita.
Além
de ser uma peça que ainda emociona e faz refletir sobre o Brasil de hoje, a montagem
da Companhia Estável relembra um período
negro do país (Lembrar é resistir) e resgata o nome de João Ribeiro Chaves Neto,
promessa de grande dramaturgo com suas duas peças encenadas (Concerto em 1976 e Patética em 1980), mas que desapareceu dos palcos depois disso. Em
tempo: o nome das peças que estavam em preparação em 1975 eram Sabalha Sociedade Anônima e As Mal Traçadas
Linhas.
PATÉTICA
está em cartaz em pavilhão na área externa da Oficina Cultural Oswald de
Andrade até 22 de julho às quintas e sextas às 20h e aos sábados às 18h.
Ingressos gratuitos a serem retirados uma hora antes da apresentação.
Wladimir Herzog (1937-1975)
07/07/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário