Por
que eu levei onze anos para ir assistir a Amigas,
Pero No Mucho?
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Talvez por achar, pelo título, que se tratasse de mais uma comédinha caça
níquel, dessas que infestam os teatros Ruth Escobar, Gazeta e Maria Della Costa
e que levam multidões a esses teatros aos sábados, antes ou depois da pizza.
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Talvez por subestimar os dotes dramatúrgicos da querida Célia Forte, de talento
comprovado em outras áreas como produção teatral e assessoria de imprensa.
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Talvez por não ter levado em conta a ficha técnica do espetáculo para constatar
que ali havia profissionais que levam a arte teatral muito a sério, como José Possi
Neto, Miguel Briamonte, Vivien Buckup, Wagner Freire e o próprio elenco.
Talvez,
talvez, são tantos “talvezes”... O que importa é que neste retorno ao palco do
Teatro Renaissance onde estreou em 2007, eu finalmente fui usufruir dessa
verdadeira delícia que é Amigas, Pero
No Mucho.
Para começar, o título aplica-se
perfeitamente àquelas quatro senhoras que são amigas enquanto estão juntas, mas
que basta uma sair para as restantes falarem cobras e lagartos sobre ela (quantas
vezes você já deve ter sentido isso ao querer ser a última pessoa a sair de uma
festa para que não seja alvo da língua alheia!). Rola muita hipocrisia na
relação delas, mas no fundo elas se gostam e uma depende da outra para
preencher suas solidões.
O
texto de Célia Forte é ótimo. Bem escrito, enxuto, com diálogos fluentes, retrata
de forma cômica, mas bastante humana o encontro numa tarde de sábado daquelas
quatro amigas no apartamento de uma delas, provavelmente situado no bairro do
Belenzinho, segundo as palavras do diretor no programa. Tendo em vista as
qualidades e a maturidade deste texto, lamenta-se que Célia escreva tão pouco
para teatro.
A
direção de José Possi Neto acertadamente concentra-se na atuação dos atores
utilizando cenário (Jean-Pierre Tortil) e iluminação (Wagner Freire) simples,
mas eficientes, para localizar os três espaços onde se desenvolve a ação da
peça. É muito bom o recurso inicial narrado por Denise Fraga apresentando as
personagens com os atores ainda vestidos como homens e dando as rubricas das
ações iniciais.
Leandro Luna e Elias Andreato
Todos
os aplausos para os quatro atores que não caricaturizam as mulheres, dando-lhes
vida com um toque cômico no limite da dignidade. Leandro Luna é Sara, a amiga
mais jovem e mais sensual, filha de um político corrupto (será que existem
políticos corruptos neste Brasil??!!). Sérgio Rufino é Olívia, perfeito na
caracterização de uma senhora de meia idade que perdeu tudo e hoje tem que
dirigir uma van escolar para sobreviver. Raphael Gama é Débora, a conciliadora,
que recebe as amigas em sua casa e que com suas caras e bocas é responsável por
boas risadas da plateia. Elias Andreato é a revoltada e desbocada Fram, sempre
esbravejando e desesperada para copular, uma vez que é ninfomaníaca; com
perfeito domínio de cena, Elias faz e desfaz, levando não só o público às
gargalhadas, mas também seus parceiros de palco, em função dos cacos que
introduz em cena. Os quatro estão perfeitos fazendo o público rir sem parar
durante a deliciosa hora e meia de duração do espetáculo.
Amigas, Pero no Mucho é diversão de alto
nível que faz jus aos onze anos que está na ativa e por onde já passaram tantos
atores de talento nos papeis das quatro amigas (ao que eu saiba o único
remanescente da primeira temporada é Elias Andreato). Com certeza vai cumprir o
mesmo destino de outra companheira que faz divertir dignamente sem cair no
meramente comercial que é Trair e Coçar É
Só Começar de Marcos Caruso. Longa
vida a ambas.
AMIGAS.
PERO NO MUCHO está em cartaz no Teatro Renaissance aos sábados (19h) e aos
domingos (20h). NÃO PERCA!
09/04/2018
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