terça-feira, 7 de abril de 2020

A MORATÓRIA



        É sempre alvissareiro tomar conhecimento que está sendo montada uma peça de Jorge Andrade (1922-1984), um dos mais importantes dramaturgos brasileiros, injustamente esquecido pelos nossos encenadores e pelos grupos de teatro.
 
 
        O interessante seria montar algumas das peças nunca encenadas em São Paulo como As Confrarias, Senhora na Boca do Lixo (montada apenas no Rio de Janeiro em 1968 com Eva Tudor sob a direção de Dulcina de Morais), O Sumidouro e O Incêndio, mas de qualquer maneira a revisita à emblemática A Moratória é muito importante.

        Montada em 1955 pela Cia. Maria Della Costa, a encenação revelou Fernanda Montenegro para o público paulistano no papel de Lucília; a direção era de Gianni Ratto que também assinou a elogiada cenografia em dois planos exigida pela peça. A peça voltou a ser encenada por Emílio Di Biasi em 1976 inaugurando o Teatro FAAP e em 2008 pelo Grupo TAPA, dirigida por Eduardo Tolentino de Araújo. Diga-se que o Grupo TAPA é um dos maiores difusores da obra de Jorge Andrade tendo encenado também Rasto Atrás (1995) e O Telescópio (1999).
 
 
 
        Após o sucesso de A Moratória, o Teatro Brasileiro de Comédia, em fase nacionalista, encenou Pedreira das Almas (1958) dirigida por Alberto D’Aversa, A Escada (1961) dirigida por Flávio Rangel, o grande sucesso Os Ossos do Barão (1963) dirigida por Maurice Vaneau e o grande fracasso Vereda da Salvação (1964) dirigida por Antunes Filho, que culminou com o encerramento das atividades da companhia sediada na Rua Major Diogo. Antunes revisitou Vereda em 1993 com interpretações antológicas de Laura Cardoso (Dolor) e Luís Mello (Joaquim).
        Sessenta e cinco anos nos separam da primeira montagem de uma peça de Jorge Andrade. Além das citadas (cerca de 10 montagens), outras menos significativas podem ser incluídas (talvez cinco), mas convenhamos que 15 montagens é muito pouco para um período de 65 anos! Uma a cada quatro anos, sendo que a última ocorreu há mais de dez anos!
        Por tudo isso é digna de celebração esta nova montagem de A Moratória, principalmente por estar inaugurando um novo teatro paulistano e por estar sendo encenada por Grupo, diretor e elenco tão importantes para os nossos palcos.
        O aconchegante Teatro Lumiar fica no coração do Bixiga na Rua Conselheiro Ramalho, bastante próximo de onde um dia funcionou o saudoso Teatro Bela Vista no espaço hoje ocupado pelo Teatro Sérgio Cardoso. O teatro possui 247 poltronas bem distribuídas, palco e camarins dotados de todas as condições técnicas com projeto assinado pelo arquiteto João Carlos Pedroso.
        A produção do espetáculo é responsabilidade do Grupo Quarador, que realiza esta nova montagem depois da bem sucedida encenação de Tio Vânia (2019) de Tchekhov.
        A encenação é assinada por Renan Lafayette que já nos ofereceu tantas montagens memoráveis como Rei Lear (2014) de Shakespeare e Perdoa-Me Por Me Traires (2018) de Nelson Rodrigues, que abocanhou todos os prêmios do ano e revelou o talento de Lucelia Loyola no papel de Glorinha.
        A cenografia em dois planos é de autoria de Hildebrando Cassol e os figurinos de época (a ação se passa no início dos anos 1930) levam a prestigiada assinatura de Diogo Sobral. A sugestiva trilha sonora composta por suaves ruídos e músicas de época é de autoria de Leandro José.
        A essa requintada ficha técnica some-se a excelência do elenco: Lucelia Loyola volta a brilhar no papel da sofrida Lucília, confirmando o talento revelado em Perdoa-Me Por Me Traires. Sonia Deloupe tem excelente performance como a discreta mãe Helena. A arrogante Elvira é interpretada com muito empenho por Dalila Del Poggio, especialista nesse tipo de papel. É sempre um grande prazer rever Augusto Duran em nossos palcos, aqui em grande momento como o pai Joaquim. Completam o harmônico elenco Luís Thiago (Marcelo) e Dagoberto Muniz (Olímpio).

        A MORATÓRIA está em cartaz no Teatro Lumiar até 17 de maio. Sessões ás terças, quartas, quintas e sextas às 21h. Vesperal das moças às quintas às 17h. Sábados às 18h e 21h e domingos às 19h. Descanso da Cia. ás segundas feiras. Preço: R$ 60,00 (meia entrada para estudantes e idosos). NÃO DEIXE DE VER.
 
     Que bom se fosse verdade!

        07/04/2020

       

 

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