MEMÓRIA DO TEATRO
PAULISTANO
Há exatos 50 anos
estreava no antigo Teatro Cacilda Becker localizado na Avenida
Brigadeiro Luís Antônio Os Rapazes da Banda, peça do dramaturgo norte
americano Mart Crowley (1935-2020). O
fato de ser produzida sob a chancela de um casal de prestígio e notadamente
heterossexual (Eva Wilma e John Herbert) colaborou para que a peça tivesse
ampla aceitação pelo público e não provocou maiores escândalos mesmo ao tratar
de assunto ousado para a época: reunião de homossexuais onde o anfitrião
presenteia o amigo aniversariante com um garoto de programa. O elenco reunia
nomes importantes de nosso teatro como Walmor Chagas, Otávio Augusto, Benedito
Corsi, Denis Carvalho, Roberto Maya, Bene Silva, John Herbert, Paulo Adário e
Paulo César Pereio e a direção era de Maurice Vaneau, encenador e coreógrafo
belga de muito prestígio na época.
O que a memória me
traz depois de tanto tempo é que se tratava de uma comédia com alguns
estereótipos do universo gay, bastante inofensiva e leve, apesar do final
dramático e discutível onde Michael (personagem de Walmor) lamentava-se de sua
solidão por ser homossexual (!).
A crítica da ocasião
não poupou ressalvas ao espetáculo. Sábato Magaldi escreveu que se tratava
apenas de uma peça comercial bem montada, um texto medíocre “que chega aos
incautos como se fosse um tratado cênico sobre a homossexualidade, mas
que não passa de uma cartilha primária sobre o assunto” (Jornal
da Tarde, 30/10/1970). João Apolinário por sua vez titulou sua crítica
assim “Sucesso fácil, de um teatro fácil, para um público fácil”
(Última Hora, 11/1970). Ambos previram o sucesso do evento, como
escreveu Sábato no final de sua matéria “Tudo indica que Os Rapazes da Banda
se transformará no maior sucesso de bilheteria da temporada”, o que de fato
aconteceu.
A peça havia estreado
dois anos antes em Nova York e virou filme dirigido por William Friedkin em
1970 sempre com muito sucesso. Em 2018 a peça foi remontada na Broadway e acaba
de se tornar filme dirigido por Joe Mantello disponível na Netflix; A Folha
de S. Paulo dedicou página e meia da edição de 29/09/2020 a uma matéria
sobre o filme, ressaltando a atualidade do tema abordado pelo mesmo.
Os tempos mudaram,
muitos armários se escancararam, movimentos surgiram, mas permanecem o
preconceito e a violência com aqueles que fogem aos valores estabelecidos pela
sociedade.
Resta saber o que Os
Rapazes da Banda têm a dizer para o mundo pandêmico de 2020, talvez mais
preconceituoso e conservador do que aquele de 1970.
Tristes tempos.
30/09/2020
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