As rubricas de O
Beijo no Asfalto são para o leitor da peça, tão estimulantes quanto os
diálogos.
Pérolas como “em
mangas de camisa, os suspensórios arriados, com um escandaloso revólver
na cintura” para descrever o delegado Cunha e mais ainda “Amado Ribeiro
tem toda a aparência de um cafajeste dionisíaco” aparecem já na
primeira página do texto e seguem por toda a leitura tanto para descrever
outros personagens como para definir ações dos mesmos (“Dona Matilde, apoplética
de satisfação”, “Dona Judith, crispada de timidez”). Nelson não
chama de black out o escurecimento das cenas, mas de TREVAS!
Realmente a leitura
do texto é um espetáculo à parte e essas rubricas devem fazer as delícias do
encenador e do elenco que irão montar a peça.
O diretor Bruno
Perillo retorna agora com essa bem sucedida montagem estreada em 2019, com
modificações no elenco: Lucas Frizo interpreta o Comissário Barros; Carolina
Haddad assume com bastante propriedade o papel de Dália; Gustavo Trestini
interpreta Aprígio com toda a angústia requerida pelo personagem e Iuri Saraiva
tem a chance de mostrar mais uma vez o seu talento ao incorporar a “cafajestice
dionisíaca” ao seu Amado Ribeiro. O restante do elenco permanece o mesmo de
2019 com algumas alterações no gestual e na movimentação cênica.
Escrevi sobre a apresentação de 2019 e, em linhas gerais, acredito que itens lá observados continuam válidos para esta de 2023.
https://palcopaulistano.blogspot.com/2019/11/o-beijo-no-asfalto.html
Malgrado certo preconceito em relação ao homossexualismo, O Beijo no Asfalto (1961), junto com A Falecida (1953) e Toda Nudez Será Castigada (1965), forma, a meu ver, o melhor núcleo dentre as tragédias cariocas escritas por Nelson Rodrigues e a montagem de Bruno Perillo dignifica o texto, tanto em seus diálogos quanto em suas insuperáveis rubricas.
O BEIJO NO ASFALTO
está em cartaz no Teatro Itália apenas às quartas feiras às 21h até 26 de
abril.
NÃO PERCA!
02/03/2023
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