O deslumbramento com
este espetáculo já começa ao abrir a cortina: vê-se a silhueta da atriz no meio
do palco iluminada suavemente, circundada por dois pianistas simetricamente
colocados nos dois extremos do palco.
Uma mulher de meia
idade caminha sem parar relembrando as relações com dois colegas de juventude na
faculdade de música, o talentoso e bem sucedido John Marcos Martins (o
Johnzinho) e o invejoso e frustrado Polacoviski (um náufrago, segundo ela) que
cometeu suicídio e ela está em dúvida se vai ou não a seu enterro. Esses
colegas lhe deram o apelido de aforista.
Simples assim.
Com esse fio de
história Marcos Damaceno escreve, inspirado nos escritos de Thomas Bernhard, e
encena um dos espetáculos mais instigantes surgidos nos palcos paulistanos nos
últimos tempos; para tanto conta com a inspiradíssima iluminação de Beto Bruel,
a trilha sonora de Gilson Fukushima executada ao vivo em dois pianos de cauda
por Sérgio Justen e Rodrigo Henrique e, obviamente, com a interpretação
arrebatadora de Rosana Stavis.
Paradoxalmente,
apesar de estar caminhando continuamente, a atriz permanece estática e em pé no
palco, apenas movimentando braços, mãos e a cabeça com os cabelos brancos que
se movimentam loucamente durante os 70 minutos de duração da peça. Há uma
perfeita sincronia entre os movimentos da atriz e a trilha executada pelos
pianistas.
O cenário da peça
também de autoria de Damaceno é um longo prolongamento do vestido de Rosana que
tanto pode representar uma cauda como o longo caminho percorrido pela
personagem.
Assim como na obra de
Bernhard a repetição de palavras e fatos é hipnotizante deixando o espectador
com os olhos arregalados e o corpo afastado da poltrona para poder sorver cada
segundo das palavras emitidas pela personagem/narradora e para se espantar com
o esplendor que é a interpretação soberba de Rosana Stavis.
O teatro brasileiro é pródigo quanto à presença de grandes atrizes e neste primeiro quadrimestre da temporada teatral já temos mais uma prova disso com os trabalhos marcantes de Vera Holtz em F(r)icções, Alejandra Sampaio e Virginia Buckowski em Banco dos Sonhos e agora Rosana Stavis em A Aforista.
A
AFORISTA está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil até 21 de maio às
quintas e sextas às 19h e aos sábados e domingos às 17h.
Realização
da Cia. Stavis-Damaceno (Curitiba)
ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!
14/04/2023
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