Devido à longa viagem
que fiz em fevereiro/março seguida do período afastado das atividades teatrais
por problemas de saúde (abril e parte de maio) não tenho acompanhado a
temporada teatral paulistana com a mesma frequência dos anos anteriores (cerca
de cem espetáculos por semestre).
Mesmo assim, neste
primeiro semestre, consegui assistir a 49 montagens, 25 antes da queda e
posteriormente mais 24, agora tendo como companheira uma cadeira de rodas ou uma
bengala.
Um fato curioso é que
sete desses 49 títulos têm a ver com Shakespeare, quer sejam peças de
sua autoria (Primeiro Hamlet), ou dramaturgias inspiradas em seus textos
(Delírio Macbeth, Leão Rosário, Julius Caesar), ou contém cenas
de suas peças (Amantes do Teatro) ou ainda onde o bardo é
personagem (o excelente Alguma Coisa Podre), ou até uma brincadeira (Um Porre
de Shakespeare).
A Companhia dos
Atores que realizou o não menos que brilhante Ensaio.Hamlet há cerca
de 20 anos volta a visitar a obra shakespeariana situando a ação em ensaios da
peça Júlio Cesar por uma longeva companhia de teatro (qualquer
semelhança com o fato da Companhia dos Atores ter 35 anos não é mera
coincidência).
Jogo de poder na Roma
antiga não difere muito daquele presente numa companhia de teatro e não há
muita diferença nas intenções de Brutus, Cassio e Marco Polo (personagens da
peça) com aquelas de Júlio, Ricardo e Eduardo (atores no ensaio).
Com um jogo teatral
muito bem apoiado na dramaturgia de Gustavo Gasparani o espetáculo circula
harmoniosamente entre os conflitos dos atores nos ensaios (todos querem os
melhores papeis) e as conspirações no império romano (a ganância do poder).
Apesar de a peça
levar o nome de Júlio Cesar, o personagem de maior destaque é Brutus que é um
dos primeiros a aparecer em cena e o último a morrer. Cesar pouco aparece e
morre no início do terceiro ato (a peça tem cinco). Por conta disso os atores
disputam (nem sempre eticamente) o papel de Brutus.
Quem dirige a peça é
Catarina, autoritária e arrogante, é ela que a cada ensaio distribui os papeis
provocando controversos sentimentos entre os atores. Em certo momento ela
assume o papel de Júlio Cesar sob o olhar indignado do elenco que vai preparar
um golpe para sua queda.
Não é à toa que a
peça tem o sub título de Vidas Paralelas. Os séculos caminham, mas a
humanidade continua rastejando.
Para representar as
vidas paralelas (império romano/ensaio nos dias atuais) conta-se com os
veteranos do grupo Cesar Augusto (Brutus/Júlio), Gustavo Gasparani
(Cassio/Ricardo) e a presença luminosa de Isio Ghelman surpreendente como Marco
Antonio/|Eduardo. Suzana Nascimento (Julio Cesar/Catarina) se sai melhor nas
cenas de impacto e alta dramaticidade do que quando se comunica com a plateia
forçando uma interatividade absolutamente desnecessária. Completam o elenco os
jovens Gabriel Manita e Tiago Herz.
Gustavo Gasparani
dirigiu o espetáculo com sobriedade, deixando os atores (inclusive ele) numa
aparente informalidade de ensaio, mas pontuando claramente as diferenças entre
interpretar ator no ensaio e interpretar personagem da peça Júlio Cesar.
O cenário
propositalmente despojado é de Bell Araujo com iluminação de Ana Luzia De
Simoni e os significativos figurinos levam a assinatura de Marcelo Olinto,
outro veterano da Companhia.
JULIUS CAESAR – VIDAS
PARALELAS está em cartaz no Teatro Anchieta (SESC Consolação) até 14/07 de
quinta a sábado às 20h e domingos às 18h
23/06/2024
Nenhum comentário:
Postar um comentário