sábado, 22 de junho de 2024

JULIO CESAR – VIDAS PARALELAS

 

 

Devido à longa viagem que fiz em fevereiro/março seguida do período afastado das atividades teatrais por problemas de saúde (abril e parte de maio) não tenho acompanhado a temporada teatral paulistana com a mesma frequência dos anos anteriores (cerca de cem espetáculos por semestre).

Mesmo assim, neste primeiro semestre, consegui assistir a 49 montagens, 25 antes da queda e posteriormente mais 24, agora tendo como companheira uma cadeira de rodas ou uma bengala.

Um fato curioso é que sete desses 49 títulos têm a ver com Shakespeare, quer sejam peças de sua autoria (Primeiro Hamlet), ou dramaturgias inspiradas em seus textos (Delírio Macbeth, Leão Rosário, Julius Caesar), ou contém cenas de suas peças (Amantes do Teatro) ou ainda onde o bardo é personagem (o excelente Alguma Coisa Podre),  ou até uma brincadeira (Um Porre de Shakespeare).

A Companhia dos Atores que realizou o não menos que brilhante Ensaio.Hamlet há cerca de 20 anos volta a visitar a obra shakespeariana situando a ação em ensaios da peça Júlio Cesar por uma longeva companhia de teatro (qualquer semelhança com o fato da Companhia dos Atores ter 35 anos não é mera coincidência).

Jogo de poder na Roma antiga não difere muito daquele presente numa companhia de teatro e não há muita diferença nas intenções de Brutus, Cassio e Marco Polo (personagens da peça) com aquelas de Júlio, Ricardo e Eduardo (atores no ensaio).

Com um jogo teatral muito bem apoiado na dramaturgia de Gustavo Gasparani o espetáculo circula harmoniosamente entre os conflitos dos atores nos ensaios (todos querem os melhores papeis) e as conspirações no império romano (a ganância do poder).

Apesar de a peça levar o nome de Júlio Cesar, o personagem de maior destaque é Brutus que é um dos primeiros a aparecer em cena e o último a morrer. Cesar pouco aparece e morre no início do terceiro ato (a peça tem cinco). Por conta disso os atores disputam (nem sempre eticamente) o papel de Brutus.

Quem dirige a peça é Catarina, autoritária e arrogante, é ela que a cada ensaio distribui os papeis provocando controversos sentimentos entre os atores. Em certo momento ela assume o papel de Júlio Cesar sob o olhar indignado do elenco que vai preparar um golpe para sua queda.

Não é à toa que a peça tem o sub título de Vidas Paralelas. Os séculos caminham, mas a humanidade continua rastejando.

Para representar as vidas paralelas (império romano/ensaio nos dias atuais) conta-se com os veteranos do grupo Cesar Augusto (Brutus/Júlio), Gustavo Gasparani (Cassio/Ricardo) e a presença luminosa de Isio Ghelman surpreendente como Marco Antonio/|Eduardo. Suzana Nascimento (Julio Cesar/Catarina) se sai melhor nas cenas de impacto e alta dramaticidade do que quando se comunica com a plateia forçando uma interatividade absolutamente desnecessária. Completam o elenco os jovens Gabriel Manita e Tiago Herz.

Gustavo Gasparani dirigiu o espetáculo com sobriedade, deixando os atores (inclusive ele) numa aparente informalidade de ensaio, mas pontuando claramente as diferenças entre interpretar ator no ensaio e interpretar personagem da peça Júlio Cesar.

O cenário propositalmente despojado é de Bell Araujo com iluminação de Ana Luzia De Simoni e os significativos figurinos levam a assinatura de Marcelo Olinto, outro veterano da Companhia.

 

JULIUS CAESAR – VIDAS PARALELAS está em cartaz no Teatro Anchieta (SESC Consolação) até 14/07 de quinta a sábado às 20h e domingos às 18h

 

23/06/2024

 

 

 

 

 

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