A peça Nossa Classe de Tadeusz Stobodzianek inicia de forma
muito parecida com aquela de Naum Alves de Souza Aurora de Minha Vida. A ação passa-se numa
escola onde crianças polonesas (judias e cristãs) convivem harmoniosamente discutindo
o que querem ser quando crescer. A peça de Naum de tom nitidamente memorialista
termina quando os jovens findam o antigo curso primário, mas aí é que
verdadeiramente começa a do dramaturgo polonês e o que vamos assistir é uma
penosa trajetória pela intolerância, pelo preconceito e pela manipulação que um
governo opressivo pode exercer sobre um povo.
Neste caso o tempo passa, aquelas crianças de 1925 tornaram-se
adultas e vão passar por dois processos traumáticos da Polônia ocorridos na
segunda guerra mundial: as invasões russa e alemã. Aos poucos a cordialidade
vai dar lugar a divergências de religião chegando ao ódio racial (nesse aspecto
a peça tem algo em comum com o filme Promessas de Um Novo Mundo de 2001,
dirigido por Justine Shapiro e B.Z.Goldberg que acompanha a reação de crianças
em relação ao “inimigo” - no caso, palestinos e israelenses-). Quando os russos
invadem a situação que fica favorável para os judeus que humilham e zombam dos
cristãos; a situação se inverte quando da dominação nazista em que os judeus
são perseguidos, torturados e assassinados pelas mãos dos cristãos. Toda essa
barbárie é mostrada por meio desse microcosmo formado pelos adultos que foram aquelas crianças
da nossa classe.
O texto é muito bem estruturado e a encenação de Zé Henrique
de Paula auxiliada pela belíssima iluminação de Fran Barros só o enriquece. No
espaço cênico quase vazio (exceto algumas cadeiras) criam-se climas perfeitos
para a ação, como a cena do baile e o uso das colunas do prédio para ocultar um
judeu perseguido. A preparação vocal dos atores é da sempre eficiente Fernanda
Maia que também assina a trilha sonora que comenta epicamente a ação da peça e
inclui hinos poloneses.
Zé Henrique de Paula, diretor do espetáculo.
Esses já consagrados artistas têm seu trabalho coroado com a
ótima interpretação do homogêneo elenco de jovens egressos de uma oficina
ministrada por Zé Henrique de Paula. Esses jovens passam com naturalidade
daquela situação de crianças inocentes a adultos preconceituosos e
intolerantes; sendo ora perseguidores, ora perseguidos. O programa da peça,
sabiamente, tem uma foto do elenco com os nomes dos atores, nomes esses que
devemos prestar atenção, pois tudo indica que terão um futuro promissor nos
nossos palcos.
Espetáculo pungente, forte e necessário nestes tempos de
intolerância e fundamentalismo em que vivemos.
Em tempo: o acolhimento no Teatro do Núcleo Experimental
localizado na Rua Barra Funda, 637 é muito bom: pessoas simpáticas e
sorridentes na bilheteria e no café da sala de espera tornam o público
predisposto a apreciar o espetáculo que está por vir.
NOSSA CLASSE está em cartaz às sextas feiras e aos sábados
às 21h e aos domingos às 19h até o dia 15 de setembro.
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