Sinta-se totalmente livre para decidir que rumo tomar em
relação a um determinado problema. Se este rumo está de acordo com a maioria
você poderá decidir sobre novos rumos junto com um companheiro que tem ideias similares
às suas. Mais uma vez, se esses novos rumos estiverem de acordo com a maioria
você vai fazer parte de um partido onde poderá discutir sua visão sobre
determinado assunto, mas deverá haver um consenso do grupo, que não
necessariamente coincide com o seu ponto de vista e o voto final do partido é
dado pelo representante do mesmo. Exercício de democracia? Houve manipulações
de poder dentro do processo? Qual a sua posição em relação à decisão final? E
se esse processo é de repente interrompido por um golpe de estado que impõe um
único elemento para decidir por todos? E todos estão nas mãos desse, que pode
ser um liberal ou um famigerado ditador.
Foto do painel com as "ordens do dia"
Esse é o instigante jogo proposto pelo encenador catalão
Roger Bernat em Pendente de Voto que
esteve em cartaz apenas por três dias no último fim de semana no Sesc Pompeia. O
espetáculo não tem atores; é a plateia formada por “espect’atores” (termo
criado por Cristina Marino em uma crítica no jornal francês Le Monde) que o protagoniza: ao entrar
no espaço cênico cada elemento recebe um controle remoto com um número que
corresponde àquele de sua poltrona. Num telão são formuladas perguntas que
possibilitam três respostas: A, B e Abstenção. Dependendo da pergunta, as
opções A e B são na maioria das vezes SIM e NÂO. Numa pergunta do tipo “Que
grupo musical você prefere Beatles ou Rolling Stones?”, obviamente A e B serão
o nome desses grupos. O teor das perguntas varia desde assuntos triviais como
polêmicos sobre política e sociedade. As respostas são tabuladas e de imediato
aparece um painel no telão com o resultado, assim como um comentário sobre o
mesmo. Há momentos lúdicos e divertidos como aqueles em que se pergunta “Você
gostaria que nevasse no teatro?” e havendo uma maioria de SIM nas respostas,
abre-se uma comporta no teto do teatro despejando pedacinhos de papel branco
que simulam a neve caindo. Após um intervalo de dez minutos as pessoas são
realocadas em duplas que tiveram maior afinidade nas respostas anteriores.
Agora só uma pessoa aciona o controle, após possível consenso dos dois sobre a
resposta. Novo intervalo e agora as pessoas são realocadas para partidos
formados por grupos maiores. Só o representante do partido tem direito a voto,
após discussão e consenso do grupo. Descontentes haverá e sempre!! E é aí que
começam as dissidências e as manipulações tão características do jogo do poder
comentado no primeiro item desta matéria. Durante as duas últimas fases são
escolhidos representantes como presidente e secretário de segurança. O poder de
cada um deles foi determinado por votação. Há lugar também para realização de
debates sobre as questões formuladas, após os quais as mesmas são votadas.
Pautado num aparato tecnológico relativamente sofisticado
comandado numa mesa pelo grupo espanhol, o espetáculo flui durante duas horas e
meia com total e natural interatividade entre os participantes cumprindo sua
função de nos fazer exercer os direitos de cidadãos e refletir sobre os perigos
da perda quase indolor desses direitos.
Experiência para ser reproduzida nas escolas!
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