sexta-feira, 12 de setembro de 2014

AVE LOLA CONTA TCHEKHOV


 
        O curitibano Ave Lola liderado pela irrequieta Ana Rosa Tezza tem uma curta, mas marcante trajetória. Com sede própria na cidade de Curitiba o grupo privilegia o acolhimento, fato raro nos teatros brasileiros. Ave Lola iniciou suas atividades com O Malefício da Mariposa de Garcia Lorca e seu mais recente trabalho é Tchekhov.
 
 
        Um palco bonito e delicado sem cortinas é uma moldura que delimita o espaço cênico a princípio vazio. Com o terceiro sinal as luzes da plateia se apagam e o espaço agora iluminado vai sendo preenchido pelos atores, pelos músicos, cenários e objetos de cena para nos encantar contando um pouco da vida e da obra do dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904).
        A dramaturga Ana Tezza alinhavou com muita criatividade o conto Aniuta, a peça A Gaivota e a correspondência trocada entre Tchekhov, Stanislavski (1863-1938), Dantchenko (1858-1943) e Olga Knipper (1868-1959) gerando uma nova partitura bastante autoral.
        Por outro lado, a encenadora Ana Tezza apropria-se de sua experiência com a estética do Théâtre du Soleil e da Commedia Dell’Arte para criar uma encenação originalíssima.
        Como uma alquimista Ana Rosa mesclou todos esses elementos que resultaram num espetáculo absolutamente original com a marca Ave Lola.
 
Foto de José Tezza

        A trilha sonora criada pelo Jean-Jacques Lemêtre, compositor oficial do Théâtre du Soleil tem um papel importantíssimo na trama e é executada ao vivo.
 
Foto de Felipe Guerra

        Há momentos inspiradíssimos e de rara beleza como a cena inicial sem falas dos ciganos, os ensaios de A Gaivota (apesar de haver certo exagero ao repetir por três vezes a tentativa das atrizes de imitar o coachar dos sapos), as poéticas intervenções dos coringas Boris (Evandro Santiago) e Liuba (Helena Burmann Tezza) e principalmente o monólogo final de Tchekhov criado a partir de uma criativa colagem de vários textos do autor.
        O elenco é bastante homogêneo, mas cumpre destacar os trabalhos de Marcelo Rodrigues (Tchekhov jovem e Dantchenko) e Val Sales (Tchekhov na maturidade).

        Tchekhov é espetáculo da melhor qualidade a ser visto e revisto por quem ama o teatro.

        Após as duas apresentações no MIRADA, a peça cumprirá temporada em São Paulo no Sesc  Santana de 27/09 a 19/10. NÃO DEIXE DE VER.

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